TREZE

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- Obrigada por terem vindo – O delegado apertou a mão da minha mãe, e depois a minha, antes de voltar a sentar. O policial que me encontrou naquela noite também estava sentado na sala, e quando me viu, acenou vagamente com a cabeça. – Espero que possamos esclarecer os fatos.

Sentei, quando mamãe fez o mesmo.

- Estamos aqui para isso, Griffin. – Disse ela, com um daqueles sorrisos profissionais.

Quando a minha mãe me acordou cedo para vir a delegacia, não consegui me recordar quando foi a última vez que a encontrei em casa ao acordar de manhã. Porém, o seu olhar não foi exatamente terno como seria com a maioria das outras mães, muito pelo contrário.

Tudo o que eu senti deles foram um mix de preocupação e decepção, algo que eu já estava mais que acostumada a receber nos últimos dezessete anos, mesmo que no fundo, eles ainda machucassem como facas afiadas.

Noite passada eu refleti por muito tempo sobre o que havia acontecido no hotel. Ponderei minuciosamente sobre o que deveria ou não dizer no interrogatório, e mesmo assim não fazia a menor ideia de como agir.

Só conseguia me concentrar no fato de que as minhas mãos estavam suando, e a minha respiração se tornando cada vez mais descompassada.

Não é que eu nunca tenha passado por algo semelhante, afinal, esta não é a minha primeira vez envolvida com problemas. Entretanto, esta é primeira que penso em mentir, ou melhor, que entendo que devo mentir.

Depois de tantos anos contando a verdade, berrando para que todos me ouvissem, e mesmo assim sendo taxada de louca, mentirosa e trapaceira, eu estava começando a considerar que alegar fatos por mais verdadeiros que fossem sem prova alguma só me levaria a um único caminho, ser internada em uma clínica.

- Vamos começar. – Continuou o delegado, remexendo em papéis sobre a sua mesa.

Meu olhar inevitavelmente é atraído a um retrato em cima da mesa, a cabeleira loira familiar que tantos reconheciam. Dianna, a garota que desapareceu com Hector, estava sorrindo, segurando um troféu de primeiro lugar. Ela era nadadora, diziam ser a melhor do MACK. No ano em que a foto foi tirada iria competir a estadual, se não tivesse desaparecido.

Eu quase havia me esquecido de que ela era filha do delegado, o Sr. Griffin. Lembro que após o seu desaparecimento a cidade inteira parou, todos procuraram pelos dois jovens. Alguns boatos diziam que eles fugiram, mas Dianna jamais faria isso, era uma aluna exemplar com um futuro brilhante.

No fim, independentemente do empenho da população de Covey East, a investigação não deu em absolutamente nada. Griffin perdeu tudo, inclusive a mulher, que nunca o perdoou por não encontrar a filha e assim mudou de estado, deixando-o para trás.

Apesar de tudo ele nunca desistiu, nem mesmo hoje, depois de tanto tempo. Nos seus dias de folga ainda caminha pela floresta, procurando qualquer indício que o aproxime da verdade sobre o que aconteceu naquela noite.

Eu queria poder contar sobre a fotografia que vi no hotel, de que talvez, Diego, o homem que todo mundo acha que inventei, possa ter algo a ver com o desaparecimento de sua única filha, mas não poderia arriscar tanto.

Além de que, eu também não poderia correr o risco de inflar esse tipo de esperança em seu peito, não quando não havia nenhuma, não quando muito provavelmente Dianna estivesse morta em uma vala qualquer.

- ....depoimento de sua filha, Helena Wheeler, na noite do ocorrido constava que não estava sozinha, e sim acompanhada por um jovem, um fotógrafo chamado Diego, aparentemente ele havia se mudado para a cidade há algumas semanas, e se hospedava lá. No entanto, o dono do hotel declarou expressamente que ninguém estava hospedado em seu hotel e ainda que de acordo com as informações colhidas ninguém na cidade jamais ouvira falar de um homem com essas características. – O Sr. Griffin parou de encarar a folha em suas mãos e nos deu uma breve encarada antes de desviar a atenção para o policial. – O cabo Thierry disse que na noite em questão você  proferiu a seguinte frase: "Eu o assisti morrer. Um vulto negro o matou bem na minha frente". – Seus olhos cansados, e com olheiras profundas, direcionam-se a mim, com certa curiosidade. – Você disse isso?

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora