CINQUENTA E TRÊS

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Já era meio da manhã quando seguíamos em direção ao apartamento de Sybil, a mulher que traduziria o diário.

Eu estou distraída observando a luz do sol batendo e refletindo nos prédios quando a mão de Daniel puxa a minha, que estava agarrada levemente em seu abdômen, fazendo com que meu corpo se aproximasse ainda mais do seu com firmeza.

- Lena. – Ouço a voz dele ressoar por cima do motor e do vento. – Você consegue me ouvir?

Fazendo um ligeiro movimento de cabeça, eu lhe respondo.

- Sim. Consigo.

- Estamos sendo seguidos por aquele banshee.

- Estamos o quê... – Tento me virar para conferir, mas outro puxão me impede.

- Não. – Daniel diz. – Preste atenção em mim. Daqui dois minutos irei fazer uma curva brusca para passar em frente a uma ruela, e você terá que pular. Não poderei diminuir a velocidade, caso contrário ele saberá que a deixei por ali. Então você vai pular e se esconder por alguns minutos, depois é só seguir em frente. Você consegue fazer isso?

- Pular? – Eu digo mais alto, sem ter a certeza de que ele realmente estava me sugerindo isso. Talvez ele tivesse enlouquecido. Como alguém pula de uma moto em movimento?

- Sim. Não se preocupe, não estarei tão rápido. E você precisará chegar à casa da Sybil sozinha. Estará cerca de dez quadras de lá, basta seguir reto. Você acha que consegue?

- Sim, mas e você?

- Não se preocupe comigo, se preocupe com você. – Diz, e depois me avisa. – Um minuto. Segure forte em mim porque será uma curva abrupta. Quando eu disser "agora", você tem que pular. Ok?

Engulo em seco, sentindo um calafrio muito forte estremecer todo o meu corpo. Pressiono meus dedos em sua camiseta, apertando forte o tecido quando meu corpo é arremessado na direção oposta.

- Agora.

Solto as mãos do torso de Daniel e pulo. Caio em pé, e inexplicavelmente inteira, o que para mim foi uma grande surpresa. Não que tivesse sido um trabalho somente meu, afinal, senti uma das mãos de Daniel em minha lombar segundos antes que eu tocasse os pés no chão, me dando o apoio que precisava para não cair.

No segundo seguinte ele já havia desaparecido no horizonte, e rapidamente eu corri para me esconder. O beco fedia a lixo de semanas, e eu tento ignorar aquele cheiro horrível que faz o meu estômago revirar. Observo três gatos lambendo uma lata de sardinhas aberta.

E somente saio detrás da enorme lata de metal de armazenamento de lixo quando tive certeza de que não estava mais em perigo. Eu levanto e dou uma boa olhado ao redor, as pichações por todo o lugar, um ponto de ônibus vazio e logo à frente um jovem com um semblante estranho me encarando fixamente.

Começo a caminhar rápido, assim logo o beco fica para trás. Tento não pensar muito sobre o que aconteceu, apenas seguir o meu caminho. Quando finalmente cheguei na rua em que o prédio ficava, eu paro para inspirar fundo.

Altas árvores decoravam ambos os lados dela, e as folhas verdes farfalhavam com a brisa leve. Notei que o bairro era silencioso demais, tinha uma atmosfera sinistra. Podia sentir em minha pele a energia estranha proveniente das casas ao redor. Cada sentido estava alerta, tenso, preparado.

Acidentalmente eu me peguei pensando no que aconteceria se o policial banshee se desse conta de que o Daniel me deixou aqui, e então viesse para me pegar. Eu poderia me defender como aconteceu com Nancy?

Não acho que conseguiria.

O que aconteceu é que eu tive sorte, pura sorte. Não consigo dizer exatamente como ou porquê, e Daniel tão pouco explicou alguma coisa além de algumas palavras como, "você é especial", o que era uma outra forma de dizer que eu era bizarra.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora