VINTE E SETE

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Adentro a floresta com a respiração sôfrega, cambaleando. Percebo que estava frio somente quando um vento cortante açoita o meu rosto, fazendo a minha pele queimar, mas isso não importa. Porque mesmo que meu peito arfasse desesperadamente em busca de ar e os meus pulmões ardessem como brasa, eu não iria parar.

Continuo a correr sem deixar que o pavor me dominasse. Uma densa camada de névoa se estende na mata, era difícil enxergar e saber onde poderia ou não pisar, mas ainda assim tenho que continuar. Nesta noite não havia escolhas a serem tomadas, era apenas correr ou morrer.

Finjo a mim mesma não ouvir os passos que seguiam atrás de mim, apenas me atenho as batidas aceleradas do meu coração, ao sangue correndo em minhas veias, como se de alguma forma eu ainda tivesse controle sobre eles.

A escuridão não me permite enxergar com nitidez e o medo se transforma no meu maior inimigo, roubando o ar dos meus pulmões, me afogando em um mar de situações que por mais que tente, não consigo explicar.

As sombras projetam fantasmas diante dos meus olhos, os galhos engancham em meus braços e pernas como se fossem aliados da criatura, tentando me aprisionar até que ele me alcançasse e extraísse a minha alma, atirando-me nas trevas.

Era exatamente isso que o encapuzado estava fazendo dentro da cabana. Se apoderando da minha alma, tomando-a para seu proveito. Não sei como era possível, nem porquê ele a queria para si, mas foi o que aconteceu ou quase, se eu não tivesse escapado.

Meu pé engancha em uma raiz ou talvez na mão de um morto-vivo soterrado abaixo da terra que tentava me refrear. De qualquer modo, é aterrorizante e me faz cair.

Meus joelhos se chocam contra a solo como se a gravidade estivesse vingativa, o impacto me faz gemer. Meus músculos enrijassem e o meu corpo exaurido implora para que eu pare.

Eu me levanto e olho ao redor, com lágrimas nos olhos porque acabei me perdendo. Não sei de qual direção vim ou para qual devo seguir. Não faço a mínima ideia do estou fazendo, e Hela não está aqui, não consigo senti-la dentro de mim desde que estivemos no penhasco com a criatura de olhos amarelos e isso me apavora mais do que saber que ele está em algum lugar aqui fora me caçando.

Tudo o que sei é que preciso dela porque não sou tão corajosa, e talvez seja por isso que sou tentada a desistir, me sinto débil e fraca, eu sei que não sou forte sem ela e me entregar é mais fácil do que lutar até me esgotar e no final ser condenada ao mesmo destino. E talvez tivesse feito exatamente isso se não fosse por ele...

Um mau pressentimento assola o meu coração, algo doloroso aperta o meu peito, pesa a minha consciência. Seis letras.

D A N I E L

Eu o deixei para trás. E sei que eu não seria de grande ajuda, mas a ideia de deixá-lo com a entidade não me reconfortava, não quando ele apareceu justamente para me proteger. Então respiro fundo, conto até cinco para afastar todos os pensamentos que me induziam a desistir e corro em direção a cabana ou pelo menos, à direção em que eu achava ser.

Não dou mais do que três passos até que bato contra algo sólido, a princípio imagino que seja o tronco de um árvore. Tenho a impressão que a gravidade muda de sentido, o planeta se agita e o mundo começa a girar mais rápido.

Subo o olhar. E olhos negros me encaram de volta, suas mãos pressionam os meus braços, quase como se soubessem que deveriam estar ali para me amparar. Em um movimento ágil Daniel nos arrasta do caminho, pressionando as minhas costas em uma árvore.

Meus ombros sobem e descem conforme a respiração sôfrega que chega e sai dos meus pulmões pelo tanto de adrenalina que era bombardeada em meu sangue.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora