TRINTA E NOVE

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Depois de longos tortuosos minutos encontrei uma vaga no fundo do estacionamento. Não foi fácil, devo confessar. Ficar presa no carro com Chris e Ed brigando sem parar, mesmo que por alguns minutos, deve me equiparar a uma santa ou a algo muito próximo.

Eles estavam em guerra desde que Ed permitiu que a Chris fizesse o aniversário dela, que por sinal é neste final de semana, na sua fazenda. Pelo o que eu entendi enquanto tentava dirigir ao mesmo tempo que era obrigada a desviar das palavras afiadas que os dois estiveram trocando durante o todo caminho acredito que tenha alguma coisa a ver com a decoração da festa. De qualquer maneira não vem ao caso, até porque estávamos aqui para outra coisa.

- Isso é loucura. – Chris resmungou antes que eu desligasse o carro, sua voz havia se transformado em um agudo alto depois que repetiu a mesma coisa sem parar desde que a vi hoje. – Você vai mesmo invadir a prefeitura?

- Sim. – Respondi pela milionésima vez. Afinal, eu estava tentando ter mais paciência, apesar de toda aquela insistência. – E você vai me ajudar.

- Mas o que ele faz aqui também? – Ela aponta o indicador para o Ed, fuzilando-o com o olhar.

Polo retrovisor o encaro. Por sorte desde que paramos no posto de gasolina para abastecer e ele comprou um pacote de salgadinhos, Ed não parecia dar a mínima para o que Chris dizia, na verdade parecia estar a vontade, devorando os salgadinhos fedidos no banco de trás.

- Oh, eu? – Ele fala estranho por causa do punhado de comida que enfiou na boca. Eu sabia que Ed fazia aquilo propositalmente, digo, somente para irritar Chris. Analisando em retrospecto, Edward vivia a incomodando sempre que eles se encontravam. – Eu só vim pela comida, querida.

Chris revira os olhos, fixando-os em mim de um modo inquisitório, aguardando uma explicação plausível. Não retribuo o olhar, porém infelizmente sou obrigada a lhe responder.

- Ele vai ficar de tocaia no carro para me ligar caso a minha mãe volte antes do previsto.

- E porque não trocamos de papel? Eu poderia ficar de tocaia no lugar de Edward sem objeção alguma.

Abro a boca para responder que isso não seria possível, claro que não. Eu precisava de Chris, especificadamente dela. Porém o Ed é mais ligeiro que eu.

- Você já olhou para mim, Chris? – Ele diz, sério. – Logicamente esse meu corpo aqui dá uns dez a zero em qualquer outro desta cidade, porém infelizmente esse secretário novinho do prefeito é hétero, 100% hétero, o que significa que por mais tentador que eu seja ele não é um peixe digno da minha rede. Então, por favor queridinha. Faça a sua parte que eu faço a minha.

Chris me olha mais uma vez, apertando os olhos com força como se eles fossem explodir. Eu podia ver o quanto ela se esforçava para não avançar violentamente em direção ao Edward, e aquilo me faz querer rir. Porém nesta ocasião acabar rindo seria o mesmo que assinar uma sentença de morte, então não o faço. Por via das dúvidas mordo forte a minha bochecha, apenas para me certificar de que nada que eu não quisesse escapasse de lá.

- Droga, Lena. Mas não posso ter esse tipo de problema na minha vida e... – Chris se ajeitou no assento, enquanto procurava em sua mente argumentos que a ajudasse me convencer. O que todos nós sabíamos que não iria rolar. – Já basta aquela vez em que você me obrigou a comprar um baseado para plantarmos nas coisas daquele menino do primeiro ano...

Revirei os olhos e virei para frente, tentando me manter calma. Ouço o farfalhar das folhas balançando pelo vento, e inspiro, deixando o oxigênio chegar fundo nos meus pulmões.

Chris tinha um jeito único de sempre jogar na cara tudo o que já havia feito por alguém. Se qualquer pessoa viesse me dizer que ela tem um diário secreto no qual escreve todos os favores que já lhe pediram e os recita toda manhã para não esquecer, juro que não duvidaria nadinha.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora