SESSENTA

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Coloco a chave na ignição, mas não giro. Baixo a cabeça no voltante do meu carro e me esforço ao máximo para não chorar.

Eu estava acabada, havia chego ao fundo do poço muito tempo atrás, e no momento não queria ter que lidar com lágrimas também.

Inspirando fundo eu me ajeito no banco do motorista, arrumando minha postura. Giro a chave, e me perco em pensamentos ao som do ronco do motor que o carro faz. Estou saindo de frente da minha casa quando percebo que Daniel estava sentado no banco da frente, ao meu lado. Não sei como ele chegou aqui, mas também não perco meu tempo perguntando.

Ele tão pouco pergunta o que aconteceu e eu confesso que fico grata por isso, mesmo que acredito que na verdade ele não perguntou porque acabou ouvindo grande parte da discussão que tive com a minha mãe.

Ainda que eu me negasse a chorar, meu corpo teimoso, contra a minha vontade, continuou a produzir lágrimas sem parar, mas não as deixei cair, o que só dificultava ainda mais a tarefa de enxergar a estrada à frente através da grossa cortina de lágrimas.

- Você não está bem. – Ouço Daniel dizer. E eu não respondo, apenas aperto mais os dedos no volante para evitar que continuem tremendo. – Pare o carro. Lena.

- Eu não quero. – Retruco, pisando ainda mais fundo no acelerador, deixando claro que eu não estava disposta a ouvi-lo, não agora que sentia meu coração afundar em um buraco cada vez mais e mais profundo.

- Helena. – Ele repete, mas eu o ignoro, apenas aperto os olhos para enxergar o lado de fora do carro e apago qualquer tipo de emoção do meu rosto. – Pare agora mesmo. Você não está em condições para dirigir.

E antes que eu tivesse qualquer controle o carro simplesmente parou de funcionar, acatando a sua ordem imediatamente.

Observo uma fumaça negra sair do capô. Meus olhos ardem, como se pegassem fogo.

- O que você fez? – Gritei, agora explodindo em lágrimas. E quando me virei, encontrei com os seus olhos fixos em mim. – O que fez com meu carro?

- Você não pode seguir deste jeito.

Abri a boca, mas nenhum som saiu de lá. Então pressionei forte os meus lábios e me recompus, propondo mentalmente a mim mesma que eu contasse até dez para me acalmar, mas antes que chegasse na metade, eu já estava me debatendo enquanto socava o volante.

Sem olhar para Daniel e ter que me deparar aquele olhar assustado que costumam lançar em minha direção quando ajo fora do normal, abro a porta do carro, colocando as pernas para fora e saio.

- Só me deixe em paz.

Sem olhar para trás, começo a caminhar, me afastando ao máximo da minha casa. Mas na verdade não era dela que eu queria fugir, nem mesmo da minha mãe. Eu queria fugir de mim mesma. Queria que tudo isso acabasse de uma vez por todas.

Eu estava enlouquecendo, e junto a loucura estava perdendo uma parte essencial. E isso era algo que não aguentaria por muito mais tempo. Eu estava aterrorizada, e só queria que alguém me dissesse que tudo ficaria bem.

Estava cansada de fingir ser forte, porque especialmente hoje sentia que estava prestes a sucumbir, mais perto do que eu jamais estive. E temia que se ninguém estivesse comigo, no fim eu me abandonaria também.

Uma mão agarra o meu pulso, Daniel me gira para ele e quando tento me livrar do seu toque suas mãos pressionam meu ombro o suficiente para me manter parada contra minha vontade. E por mais que eu havia dito que queria ficar sozinha, não tento resistir, não quando era justamente isso que eu queria. Alguém que ficasse comigo e não me deixasse só.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora