QUINZE

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Na aula de biologia, Daniel não apareceu.

A prova incontestável de sua ausência era a Jenny, que havia decidido sentar à mesa conosco por evidente falta de opção.

Ainda assim, de alguma forma, eu estava começando a pensar que era só o corpo dela aqui presente, pois os pensamentos pareciam permanecer tão distantes quanto possível.

- Tudo certo para a festa? – Chris perguntou, puxando assunto.

Todos da mesa, inclusive eu, dirigiram olhares a Jenny, que por sua vez estava com os braços cruzados com tanta força que as pontas dos dedos começaram a esbranquiçar.

Ela encarava algo além de nós com atenção, mas ao seguimos o olhar dela até lá, não havia nada.

O clima perturbador passou a aumentar de uma maneira desproporcional quando ela não respondeu, e todos ficamos um tanto incertos sobre como reagir diante dele.

Dylan finalmente resolve cutucar o seu braço de leve. Jenny então pisca os olhos como se tivesse sido despertada de um sono profundo.

- Jenny, querida.

- Sim. – E balança a cabeça. Primeiro seu olhar se estreita a Dylan e depois a Chris. Um sorriso forçado se delineia em seus lábios cobertos de gloss. – Está tudo certo.

Dylan concordou com a cabeça, e a puxou para mais perto de si como se quisesse a proteger ou garantir que ela jamais se afastasse novamente. Apesar de dele ter passado a semana arrasado por causa de Daniel, na frente de Jenny, Dylan se esforçou ao máximo para não demonstrar a real situação, e convenhamos não era nem um pouco bonita.

Hoje mais cedo, quando Jenny se aproximou no intervalo, seria mentira dizer que todos nós não ficamos deveras surpresos. Mas mesmo assim agimos o mais natural possível.

Para que não ficássemos em um silêncio desconfortável por mais tempo do que já tínhamos ficado, Chris e Ruik começaram a comentar sobre as aulas que tiveram, os novos salgados que estão vendendo no refeitório, ou qualquer outro assunto que viesse, torcendo para que em algum momento a presença dela ali ficasse mais normal, mas não ficou.

E enquanto eles se esforçavam para a conversa não morrer, tudo o que Dylan fez foi colocar o braço ao redor de Jenny como um cachorro faz com o seu precioso osso, e assim como um cão raivoso encarava feio qualquer um que olhava para eles por tempo demais.

Então mesmo que estivesse sendo esquisito, todos permanecemos sentados, inclusive ela, fingindo não sentir o desconforto que aquela nova situação proporcionava.

Eu, particularmente acabei perdendo a fome, não tinha ânimo para comida quando todos os meus músculos estavam alarmados. Não por causa do que acontecia aqui na mesa, mas sim pelo o que acontecera nestas últimas semanas.

Os Astomis, o trio no beco, o Diego, os olhos amarelos da delegacia... Tudo levava a crer que eram episódios distintos, mas que de alguma forma eu sabia que eles estavam conectados.

Conectados a mim.

Esses eventos continuavam cravados na minha memória de maneira tão vívida e intensa que se eu fechasse os olhos por um instante a mais do que o necessário, temia me perder em meio a eles e então jamais encontrar o caminho de volta.

- Onde está o Calvin? – Chris cutucou Ruik com o cotovelo.

Minhas sobrancelhas se ergueram.

Estive tão absorta com a história de Daniel, e agora com a de Jenny, que não percebi que Calvin não tinha vindo a escola também.

- Parece que surgiu uma emergência familiar. – Ruik respondeu, sorvendo o último gole do seu copo de suco. – E ele teve que viajar às pressas.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora