QUARENTA E SEIS

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As intimidantes nuvens acinzentadas que costumam fazer parte do dia a dia de toda a região de Covey E. haviam se dissipado, e pela primeira vez em muito tempo, o sol, que para muitos soava mais como uma lenda do que algo real, resolveu dar as caras.

Eu poderia pensar em mil e uma maneiras de aproveitar o dia mais ou menos ensolarado, porém Edward pediu para que eu o ajudasse a carregar algumas caixas para a sua camionete. Aparentemente o seu pai, o Sr. Torres, chegaria na próxima semana e ligara pedindo esse favor.

E agora aqui estou eu. Fazendo o mesmo caminho pela terceira vez e ainda nem estou perto do fim. Entretanto estar aqui era melhor do que estar no lago como eu estive mais cedo. Chris me chamou e até foi divertido no início, mas isso foi antes que Alyssa e algumas outras pessoas chegassem e decidissem jogar vôlei aquático, porque além da minha evidente falta de coordenação motora, eu tenho certeza que Alyssa estava determinada em encher meus pulmões de água.

Então confesso que agradeci quando Ed surgiu quase como se tivesse lido meus pensamentos e pediu a minha ajuda.

Eu estava cansada, e talvez foi exatamente por isso que desta vez resolvi carregar duas caixas de uma vez para agilizar o processo. E apesar de serem mais leves do que as outras, fato que me fez carregar duas ao invés de apenas uma, a longa distância fez o peso praticamente dobrar.

Arrumo-as na caçamba da camionete junto as outras e passo o meu antebraço na testa para secar o pingo de suor que escorreu. Não estava tão quente assim, mas carregar peso para cima e para baixo não era uma tarefa fácil.

Estou mirando o horizonte, mais precisamente para o ponto marrom, que é a casa dos Torres, onde estão o restante das caixas e calculando quantos passos ainda teria que dar quando ouço um pigarrear.

- Preciso fazer uma pergunta a você. – Daniel informa, olhando diretamente para dentro dos meus olhos quando me viro em sua direção.

É a primeira vez que o vejo desde ontem, e não sei. Esperava que quando nos víssemos... na realidade não sei exatamente o que imaginei.

Era eu quem estava gostando dele mais do que deveria, não o contrário. E mesmo que esteja decepcionada, tento manter uma expressão neutra.

Ele ainda me encara, esperando um tipo de resposta. Apenas meneio a minha cabeça, como se dissesse para que prosseguisse.

- Duncan alguma vez te deu algo parecido com isso? – Há um traço de tensão na sua voz, e observo Daniel tirar o colar de dentro da sua camisa, mostrando-o a mim. Era o mesmo símbolo que havia na chave. As espadas cruzadas e o escudo. E na verdade não me surpreendo. Era como se eu já soubesse disso, mesmo que não tivesse assimilado uma coisa a outra. – É importante.

Hesitei por meio segundo, cruzando os braços. Um arrepio estranho percorreu o meu corpo, e não consigo mais parar de me perguntar por que de repente ele parecia tão interessado.

Meu avô tinha sido claro naquele dia, eu deveria guardar segredo porque muitos viriam atrás disto, e aqueles que viessem eu deveria tomar cuidado.

Mas Daniel era um deles? E se não, por que o interesse? Era algo que queria para si ou quem sabe estava fazendo essas perguntas pela Ordem ou o Caos, como um espião?

Talvez ele tenha sido enviado a Covey East por alguém. A missão que ele tanto diz ter pode ser justamente essa, a de se aproximar de mim e conseguir a verdade, reunir informações sem que as suspeitas recaíssem sobre ele.

- Não. – Tento parecer convincente e não incomodada, que era justamente o que eu estava. – Nunca vi algo assim.

- Certo. – Daniel levantou uma sobrancelha, avaliando atentamente a minha postura. Eu era uma ótima mentirosa, mas era difícil esconder coisas dele, sempre me sentia exposta demais sob seu olhar penetrante. De qualquer modo mantenho o rosto o mais inexpressivo possível. – Você não mentiria para mim, certo?

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora