TRINTA E DOIS

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- O que o seu avô te disse exatamente?

- Na visão eu estava deitada na minha cama. De um lado estava a criatura de olhos amarelos que tentava devorar a minha alma e do outro uma sombra maligna. Ele também disse que os dois estavam acorrentados um ao outro, mas que ambos lutavam para me dominar.

Ele assentiu, mas continuou olhando para um ponto fixo do chão da varanda de casa, sem me encarar.

- O que eles são? E o que querem? – Eu me aproximo, ficando há centímetros dele. Seus lábios se apertam em uma linha fina e quando o seu olhar encontra o meu, vejo a hesitação brilhando em suas órbitas. – Você sabe, não sabe?

Daniel me encara por mais alguns segundos, seus olhos deslizam por cada traço do meu rosto, o desejo refletido neles é quase palpável. E por um instante penso que talvez eu vá cair em tentação, que cada osso do meu corpo virará gelatina com aquele seu olhar.

Então dou dois passos para trás, voltando a uma distância segura. Por fim cruzo os braços em frente ao peito como se estivesse sentindo frio, quando tudo o que Daniel me fazia sentir era exatamente o oposto.

- Há muitos anos atrás a humanidade era dividida em pequenos povoados, em cada um deles havia um conjurador responsável por manter o equilíbrio e a cada duas primaveras todos seguiam para a Grande Assembleia* onde discutiam sobre o que lhe preocupavam. Caspian foi o último líder, era honesto e justo. No entanto nem todos que concordavam com a sua benevolência, alguns desejavam ser mais poderosos independente do que tivessem que sacrificar para isso, então começaram a se reunir separadamente, o que era ilegal. Eles passaram a usar o livro proibido, aquele que juraram guardar para que jamais fosse lido. Usaram a magia contida naquelas páginas para fazer um ritual de imortalidade e como parte do ritual sacrificaram todos os recém nascidos das aldeias, se banhando no sangue puro deles. Mas tudo o que a magia dá, ela toma e neste caso levou consigo as suas almas, fazendo com que a fome pelo poder que tinham aumentasse tanto que os dominasse, os tornando criaturas irracionais. Assim ficaram conhecidos como Devoradores de Almas* e durante muitos anos vagaram pela Terra devorando e absorvendo almas. A Ordem não demorou para descobrir o que aconteceu e entendendo a gravidade da situação começou o que foi chamado de A Grande Caçada*. Caspian lutou bravamente e no fim deu a sua vida para que os devoradores fossem aprisionados nas celas guardadas por Ariel, o arcanjo protetor.

- Devoradores. – Refleti por um instante. – E você acha que estão atrás de mim? Além de que, você disse um arcanjo? Tipo um anjo? Com asas e tudo mais?

Ele apenas assentiu, continuando a falar.

- O que eu não entendo é como um deles ficou para trás, como conseguiu escapar da prisão e ficar escondido por todo esse tempo. É muito estranho que ele tenha conseguido agir com cautela visto que são criaturas irracionais, a não ser que...

- A não ser que?

- Nada, é bobagem. – Daniel abre um sorriso nos lábios como se o que pensou não tivesse importância, mas a sua expressão demonstrava precisamente o oposto. Havia ali algo que me assustava mais do que a história que ele estava me contando, e era a sua crescente aflição. – E penso que se ele tem te perseguido por todos esse tempo, talvez tenha se adaptado e ficado mais inteligente. Na verdade eu não sei bem o que devo ou não pensar, antes de responder essas perguntas preciso conversar com alguém que tenha mais conhecimento sobre o assunto do que eu.

- Mas por quê eu? – Puxo o ar com força e olho para ele, com cautela. – É por causa da Hela, não é?

Ele me observa durante algum tempo.

- Esse devorador quer se alimentar da sua alma.

- Mas se a minha alma e a alma dela estão ligadas isso quer dizer que... que ele quer...

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora