TRÊS

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Quando vovô estacionou na frente da escola, o sinal sou de maneira estridente. Em um ligeiro movimento alcanço a minha mochila e a jogo nas costas.

Corro até a aula de literatura.

Chegando lá noto que a maleta do professor estava disposta sobre a mesa, mas felizmente ele ainda não havia chego. Com calma, deixo que o ar entre em meus pulmões, agradecendo aos céus por ter chego a tempo.

Assim que sentei, Chris – que costuma sentar atrás de mim, me cutuca com a ponta da caneta.

- O Sr. Noskov está uma fera.

Dou os ombros e me volto para frente, até porque isso não era bem uma novidade, ele é o professor mais esquentadinho da escola inteira, então eu não esperava menos.

Abro o zíper da minha mochila, alcançando o livro de literatura que eu deveria ter lido em casa. Mas por onde começaria?

Tinha tantas opções que poderia escolher. Todo mundo sabe que o Noskov nos primeiros dias de aula sempre pede para cada um dos seus alunos explanar alguns minutos sobre algum escritor.

Era para ser uma atividade surpresa, mas era algo que ele fazia todos os anos, e até mesmo nossos pais quando estudaram nesta escola sabiam disso.

- Merda! – Resmunguei baixinho.

Jenny, que sentava na fileira ao meu lado, me lança um olhar reprovador. Ela detestava quando alguém xingava, se bem que "merda" nem deve ser considerado um xingamento.

O professor entrou na sala antes mesmo que o maldito sino deixasse de soar, trazendo consigo um notebook velho todo riscado que deveria ter mais ou menos a idade média dos meus colegas.

Eu estava apavorada, não porque eu não havia estudado, minhas notas eram boas o suficiente para que pudesse deixar de fazer uma ou outra atividade. Sobretudo porque caso mais algum professor reclamasse de mim para a direção, eles falariam com a psicóloga da escola que por acaso também é a mesma (e única) psicóloga da cidade, a Sra. Angelina e então eu estaria ferrada.

Semestre passado o diretor Dominic foi bem claro ao me dizer que se houvesse uma única reclamação, qualquer uma que seja, eu seria imediatamente encaminhada para ela.

E eu já tinha que aguentá-la uma vez por semana por causa da minha mãe, duas vezes certamente faria com que a ideia de me jogar na frente de um caminhão fosse preferível.

O professor começou a apresentação típica de início as aulas. E certo, sei que ele tinha uma vida pessoal para cuidar, mas custava tentar inovar um pouco? Todo ano era essa mesma porcaria.

Após isso os alunos eram chamados um a um para apresentar pela ordem de chamada. E para o meu azar não demorou muito para chegar na letra H.

- Helena Wheeler.

Todas as cabeças giraram a minha direção. Eu apenas engoli em seco e levantei de uma vez. Não que eu tivesse problemas para falar em público, na verdade eu só não gostava de ser obrigada a interagir nos dias em que não queria conversar com ninguém. E hoje particularmente, era um desses dias.

O silêncio se instaura por toda a sala e o professor assente para que eu comece o meu discurso.

Diversas coisas passam pela minha cabeça, exceto o que precisava. Tudo o que havia lido nos últimos minutos simplesmente desaparece, e um pânico crescente corroí meu peito.

- Você estudou, Srta. Wheeler?

- Sim, professor. – Assenti, hiperventilando. – Eu estudei. Eu só...

Interrompo a minha própria fala no momento em que desloco a atenção para o jardim e através da janela observo o exato momento em que um SUV preto estaciona.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora