CINQUENTA E UM

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Olhei pela janela, não sei bem o porquê aquele tipo de pensamento passou pela minha cabeça, mas quando o fiz, entendi.

Não era um pressentimento, e sim um aviso. Um instinto que eu não sabia que tinha me mandou olhar através do vidro, eu obedeci, e mesmo que não tenha conseguido identificar nada concreto ao redor, soube que não estava sozinha. Não mais.

Havia alguma coisa rondando a casa, tive a certeza repentina e irracional que sim. Um pavor que não conseguia entender cresceu dentro de mim, tomando proporções assustadoras.

Baixei a cortina, e endireitei a postura. Ligar para Daniel não era uma opção, ele estava em outra cidade, não queria preocupá-lo ou culpá-lo pelo o que poderia acontecer comigo e até chegar aqui, seja lá o que estivesse lá fora conseguiria me pegar muito antes.

Minha mãe também não era uma opção, não quando o máximo que faria seria ligar para a polícia, e mais pessoas morreriam por minha causa. Edward já devia estar longe, e eu não saberia como lhe explicar de qualquer modo. Então fiz o que nunca me imaginei fazendo, disquei o número da única garota de Covey East que poderia me entender.

Jenny Winx poderia me odiar o quanto fosse, nós não gostávamos uma da outra, isso não era uma novidade para ninguém, contudo ela me entenderia. Preferi pensar que sim.

Apesar de saber pouco, sei que ela também estava envolvida neste mundo sobrenatural, e de algum modo tinha mais experiência que eu quando se tratava dele. Não que eu tivesse total certeza disso, apenas acreditava que sim, visto que ela quase nunca se metia em confusões como eu.

Por um instante penso que ela não atenderia, quero dizer, acho que se essa situação fosse contrária, talvez eu não a atenderia mesmo.
Além do fato de que a Jenny Winx jamais ligaria para mim, nem mesmo se estivesse prestes a ser morta por um exército de seres sobrenaturais. A morte era preferível para ela, mas o meu orgulho não era assim tão grande, nunca foi.

Havia também uma pequena possibilidade dela ser do Caos ou da Ordem, e ambos queriam a minha cabeça, porém pelo o que a conhecia, ela era egoísta demais para viver a vida por uma causa maior, e isso me dava a certeza de que seja lá o que Jenny fosse, não era subordinada a nada ou ninguém. Pelo menos, esperava que não.

No último toque, ela atendeu. Mas como não disse absolutamente nada, penso que desligou na minha cara, e tenho que afastar o celular do rosto por um momento apenas para conferir se a chamada ainda estava acontecendo, e estava.

- Jenny, é a Hel... Wheeler aqui. – Eu falei, engolindo em seco. Como poderia dizer a ela? Pensei. Fácil, diga a verdade de uma vez. – Sei que pode parecer estranho, mas eu preciso da sua ajuda.

E então expliquei, torcendo para que por mais insana que essa história parecesse, Jenny de algum modo conseguisse me entender. Não poderíamos ser tão diferentes, e esperava que ela fosse mais esperta que eu para essas coisas. Afinal, eu só soube da existência deste mundo há poucos meses, e pelo o que entendi, a Winx o conhecia há muito mais tempo.

Assim como ela ordenou, tranquei as portas e todas janelas. Me certifiquei, conferindo duas vezes, que não houvesse uma única que não estivesse devidamente trancada.

Não entendi muito bem porque eu tinha que o fazer, já que seja lá o que estivesse do lado de fora, anjos, nefilins ou qualquer outro monstro, acredito de todos eles poderiam arrombar um pedaço de madeira velho ou quebrar um vidro. Contudo, eu a obedeço fielmente. Prefiro não correr riscos e depois ter que lidar com as consequências por não ter a ouvido.

Para a minha surpresa na ligação Jenny pareceu preocupada, ou pelo menos não quis me desmaterializar como sempre quer quando ouve alguma palavra minha, apenas disse que viria direto, mas que demoraria cerca de dez minutos para chegar, e destes, seis já haviam passado.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora