TRINTA E SETE

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Estávamos em um dos corredores a caminho da sala do médico do meu avô quando a chuva lá fora chegou tempestuosa. O som das gotas pesadas batendo contra o telhado me alertava algo que no fundo eu já desconfiava, que esta não seria uma visita tão agradável assim.

Diferente da última vez em que eu estive aqui, desta vez os corredores não estavam vazios e agora eu estava acompanhada da minha mãe. Havia um pouco mais cor no ambiente, porém aquela sensação estranha de que alguém estava me observando continuou cada vez mais forte, atormentando cada átomo do meu corpo.

Eu estava prestes a perguntar para a minha mãe se ela também se sentia assim quando o médico se aproximou, pedindo para que nós o acompanhasse rapidamente.

- Olá, sou o Nolan Rodriguez, o neurologista responsável pelo caso de Duncan Wheeler. – Ele puxa um pouco o óculos e estende a mão para a minha mãe, fazendo o mesmo comigo.

- No telefone me informaram que o senhor precisava falar comigo urgente. – Minha mãe diz, ajeitando a bolsa no ombro. – Aconteceu alguma coisa?

- Nada diferente do que já vem acontecendo. – O médico sentou, pegando uma pasta branca com o nome do vovô e em seguida gesticula para que sentássemos nas cadeiras vazias de frente para a sua mesa. – Desculpe, mas você é a responsável pelo paciente?

- Sim, sou a viúva do filho dele. – Ela explica quando o médico hesita, colocando a sua mão em cima da minha e me olhando rapidamente. – Na realidade somos a única família que ele ainda tem.

- Certo. Eu te chamei porque... – O médico me olha por um segundo, em análise, e depois para a minha mãe mais uma vez. – Talvez a sua filha queira nos deixar conversar sozinhos. É um assunto delicado demais para uma jovem.

- Não. – Minha mãe aperta a minha mão e me lança um sorriso, se voltando rapidamente para o médico. – Seja lá o que aconteceu o senhor pode falar na frente dela também.

Ele assentiu.

- Certo. Duncan foi internado após um surto, como vocês já sabem na ficha médica consta que o paciente possui um quadro grave de esquizofrenia e depressão leve. Mas o seu comportamento enquanto esteve aqui não condizia exatamente com o seu prontuário médico.

- Como assim?

- Suas condutas eram suspeitas, algo me fazia pensar que havia mais acontecendo, então eu comecei a fazer uma bateira de exames para saber ao certo o que havia de errado.

- E?

- Descobrimos que o quadro dele é mais grave do que pensamos. Duncan tem Alzheimer.

- O quê? – Encolhi os ombros, mal conseguia pronunciar as palavras direito, não sabia nem o que deveria ou não pensar.

Alzheimer?

Não.

Este não era o meu avô.

- Eu n... – Minha mãe também não conseguiu terminar a frase, apenas sacudiu a cabeça, unindo bem as sobrancelhas.

Seus olhos não procuram os meus desta vez, contudo o aperto de sua mão se tornou ainda mais forte, como se precisasse ter a certeza de que eu ainda estou ali, junto a ela.

- Eu abri o relatório do plano de saúde e vi que Duncan se consultou duas vezes em Horkshire mais ou menos há um ano, então eu tomei a liberdade de ligar para o médico de lá. O Sr. Carter disse que lembrava dele, mas que só o viu nessas duas vezes, a primeira quando foi diagnosticado, e a outra quando o Sr. Wheeler disse que não poderia mais seguir o tratamento porque a neta corria perigo e teria que dedicar seus últimos dias combatendo as forças do mal. – Ele explica detalhadamente, mas ainda assim eu não estava entendendo.

Desejo ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora