CAPÍTULO 24 - RETRATO DE UM COVARDE

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Covardia é um ato que convencionalmente é visto como a corrupção da prudência, oposto a toda coragem ou bravura. É um comportamento que reflete falta de coragem; medo, timidez, poltronice, fraqueza de ânimo, pusilanimidade ou ainda ânimo traiçoeiro.

Na maioria das vezes a covardia vem acompanhada por uma traição, como Alfredo que preferiu abandonar seus amigos por medo de ir para as ruas, e como Roger que jogou sua esposa, mãe de seu filho, em cima de um zumbi para ela ser morta no seu lugar. E agora covarde continua agindo assim, ele sente receio pelo que fez, mas não por ser errado, e sim imaginando as conseqüências disso quando Felipe souber do que aconteceu.

– O que foi que eu fiz? – se desesperou Roger. – Felipe nunca vai me perdoar... – Tomado pela adrenalina, o homem pegou a faca e cravou nas costas do zumbi, mas não surtiu efeito algum. O monstro se levantou e passou a perseguir Roger dentro da casa, o pai de Felipe corria desesperadamente para porta de trás que levava ao quintal enquanto o zumbi o seguia com passos lentos. O corte que ele havia feito em seu braço enquanto procurava a faca começou a sangrar novamente. Distraído com o sangue, Roger tropeçou em uma mala que estava no chão e caiu do lado de fora da casa, mas batendo com a cabeça em uma pedra e desmaiando, ficando totalmente exposto enquanto o zumbi lentamente se aproximava.

Lucas dirigia cautelosamente, desviando de zumbis que estavam no meio da rua. Mariana olhava para os lados quando viu de relance um homem careca caído com a cabeça sangrando. – Nossa, parece o pai do Felipe. – pensou alto.

Lucas freou o carro bruscamente para a surpresa da garota.

– Onde? – perguntou Felipe.

– Ali. – apontou Mariana.

– Parece mesmo. – disse Lucas. 

– Tenho que conferir... – Felipe pegou o revólver, se certificou de que ele estava carregado e saiu do carro, preocupado Lucas foi junto enquanto Mariana ficou no carro. Ao pularem o portão que dividia o quintal da rua, surpresos os dois confirmaram que realmente se tratava de Roger.

– É ele mesmo. – gritou Lucas para Mariana enquanto Felipe mirava a arma para aquele zumbi que perseguia seu pai, o garoto respirou fundo e deu um tiro no meio da testa do monstro, o matando na hora. O jovem então se abaixou e começou a tentar acordar seu pai enquanto sentia um misto de medo, raiva e preocupação. Ao perceber que suas tentativas eram em vão, ele pediu para Lucas acordar Roger enquanto ele entrou na casa para procurar sua mãe. Felipe foi checando cômodo após cômodo, e quando chegou à sala, ele viu a única coisa que desejava não ver, sua mãe caída, morta, com o torso e pescoço parcialmente desfigurados. O garoto começou a pensar em um monte de coisas, mas mesmo que ele não quisesse aceitar, aquela era a verdade, assim como Luísa, Sofia e Gustavo, Joana havia sido devorada pelos mortos e agora estava morta também. Felipe começou a chorar e deu um grito de tristeza que pôde ser ouvido por Lucas e Mariana. Os amigos do garoto, mesmo não estando juntos dele dentro da casa, já sabiam o que aconteceu e também começaram a chorar. – Mãe, por que você não ficou em casa? Eu ia te buscar... – perguntou o garoto em meio às lágrimas que o faziam se engasgar. Mariana desceu do carro e com esforço conseguiu pular o portão, ela tentou entrar pra ter certeza do que tinha acontecido, ela não queria acreditar no que estava pensando, mas Lucas a segurou. – Melhor não entrar agora.

– Você devia ter ficado em casa... – lamentou Felipe enquanto fazia carinho no cabelo de Joana.

– Vamos tentar acordar o pai dele... Depois a gente vê o que faz. – pediu Lucas.

– Tá bom. – concordou Mariana.

Daniel, Rodrigo e Raul discutiam sobre o fato de não terem sido comunicados sobre a segurança do quartel do exército.

– O Steve devia ter me dito, eu vou xingar ele quando a gente chegar lá. – disse Daniel.

– Não tô acreditando que meus amigos não me informaram sobre isso, que falta de consideração... – lamentou Rodrigo.

– Pode ser que eles estejam muito ocupados, a conexão foi cortada ou algo assim... – disse Raul.

- Isso tá me cheirando à merda. – desconfiou Rodrigo.

– Bom, pode ser que eles estejam mortos, não é? – sugeriu Raul.

– O quê? – perguntou Rodrigo, surpreso.

– Eles disseram aí na rádio pra quem estiver altamente contaminado nem pisar os pés lá... Seus amigos podem ter sido infectados e mataram eles...

– Impossível.

– Não é impossível, o Capitão Daniel quis matar o Alfredo por desconfiar que ele tava infectado, por que os superiores do exército não podem ter feito o mesmo com seus amigos? – questionou Raul.

– Para de falar merda. – exigiu Rodrigo.

– Temos que estar preparados pra tudo. – disse Raul.

- Tá bom, a gente sabe, agora fica quieto. – ordenou Daniel.

Após muita insistência de Lucas e Mariana, Roger finalmente acordou. – O quê? Vocês? – perguntou confuso. – Onde estamos?

Lucas começou a se preocupar com os zumbis de aproximando.

– Você tava caído aqui, o que aconteceu? – perguntou Mariana.

Em meio à dor de cabeça e tontura, Roger se desesperou. – Tem um zumbi me seguindo. – gritou.

– O Felipe já matou, fica calmo. – explicou Mariana.

– Felipe? Cadê ele?

– Lá dentro... – disse Lucas.

– Que merda... – pensou Roger.

Do lado de dentro Felipe ainda chorava quando viu sua mãe lentamente se levantando, o garoto queria do fundo do coração que aquilo fosse um pesadelo e que sua mãe ainda estivesse viva, mas ele era pessimista e quando viu Joana se levantando, ele já sabia o que estava acontecendo. Ele se levantou e deu passos para trás enquanto tentava sacar o revólver, mas Felipe tremia muito, mais do que nunca. Mesmo que Joana tivesse se tornado uma zumbi, Felipe teria coragem de matar sua mãe?

No Way OutOnde histórias criam vida. Descubra agora