CAPÍTULO 21 - MEUS AMIGOS

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Invalidez: Falta de capacidade motora, física ou cognitiva, que torna impossível a realização de algum trabalho ou atividade laboral.

O carro bateu violentamente no poste, o que fez com que Lucas e Carlos desmaiassem na hora. Após muita insistência e desespero de Felipe e Mariana os dois acordaram, Lucas um pouco dolorido, mas conseguindo se movimentar, não foi grande preocupação. Porém, Carlos estava praticamente inválido nessa situação, com uma dor extrema no peito, apesar de não ter nenhum sangramento ou corte na região, ficando inútil e se tornando um peso para os demais justo quando uma horda de zumbis estava se aproximando e eles precisavam fugir o mais rápido que pudessem.

Felipe e Lucas seguiram ajudando Carlos a andar, o açougueiro continuava com a forte dor no peito. – Só era o que faltava eu ter um infarto justo agora... – reclamou. Todos seguiram fugindo por minutos, quando ao virar em uma esquina eles se depararam com um pequeno grupo de cinco zumbis, esses estavam mais rápidos que os demais, mas o que mais assustou Felipe, Lucas, Mariana e Carlos foi o fato de os zumbis estarem em chamas.

– Que porra é essa? Eles tão pegando fogo... – disse Lucas, surpreso.

Felipe olhou espantado para aquilo. – Não faço idéia do que aconteceu... E eles estão fedendo demais... Vamos sair daqui logo. Carlos, tenta andar um pouco mais rápido. – pediu o garoto.

Eles continuaram a fugir, mas a lentidão do açougueiro estava atrapalhando os demais, e os zumbis pegando fogo já estavam se aproximando. – Me deixem aqui... – pediu Carlos.

– O quê? Tá louco? – perguntou Felipe.

– Eles tão chegando... Vocês vão acabar morrendo por minha causa... – respondeu.

– Você sabe usar o revólver?

– Sei...

– Lucas, me ajuda aqui. – Felipe segurou Carlos pelas pernas e pediu ao seu amigo para segurar pelos braços. – Vamos correr um pouco. – após anunciar seu plano, junto a Lucas, Felipe começou a correr carregando Carlos nos braços, e Mariana os acompanhando. Após um minuto correndo, os três pararam. Felipe se certificou de que não havia nenhum zumbi vindo pelo outro lado e sentou Carlos encostado em um muro. O garoto pediu o revólver para Mariana e o entregou para Carlos. – Me ensinar como faz isso. – pediu o garoto.

– O quê? Atirar? – perguntou Carlos, ainda com dor.

– Atirar, recarregar, tudo! – pediu o garoto.

Carlos ensinou Felipe a manusear a arma, tudo que alguém precisa saber para não fazer besteira na hora de utilizar o objeto. O tempo que Carlos levou pra ensinar o garoto foi bastante para que os zumbis em chamas voltassem a aparecer, eles não corriam, mas seus passos eram rápidos. – Vamos testar agora... – disse Felipe. O garoto um pouco nervoso empunhou o revólver e mirou na direção de um dos zumbis, em meio a uma respiração ofegante e soando frio Felipe atirou e acertou o peito do inimigo. Mas por experiência própria, ele tinha quase certeza de que tiros em outras partes do corpo não surtiriam efeito, então mirou mais precisamente e atirou na cabeça do monstro, que caiu na hora.

– Boa, só faltam quatro! – comemorou Lucas.

Felipe voltou a atirar, ele gastou as outras quatro balas restantes no tambor do revólver e conseguiu matar mais dois zumbis, desperdiçando duas balas. Enquanto recarregava a arma ele percebeu o quanto eram escassas as munições, entendendo que não poderia continuar errando tiros. O garoto voltou a atirar e matou os outros dois zumbis que restavam, mas isso não era motivo para comemoração, ele sabia que os oito barulhos de tiros seriam mais que o suficiente para atrair zumbis que estivessem por perto, incluindo aquela horda que o seguia desde a rua do supermercado.

Levando em consideração isso, junto à indisposição de Carlos, a situação levou Felipe a invadir uma casa ali perto que estava vazia, coisa que o garoto e seus amigos nunca fariam se estivessem em sã consciência. Eles entraram no imóvel e se trancaram, e pela janela todos viram os inúmeros zumbis na rua e Felipe ficou desolado, sendo acompanhado por Carlos. – Peraí, cadê o Gustavo? – perguntou e o silêncio acompanhado do olhar triste de Felipe fez o açougueiro entender. Carlos abaixou sua cabeça e começou a chorar.

– O que foi? Está doendo muito? – perguntou Lucas, preocupado.

– Não é isso...

– Então o que é?

– O Gustavo virou zumbi, não foi?

– Sim, e eu tive que matar ele... – respondeu Felipe.

– Ele era um imbecil, mas eu não queria que esse fosse o fim dele... Ele se sacrificou pela gente, malditos cachorros...

– Mas você está triste só por ele? – perguntou Lucas, confuso.

– Estou triste por tudo, não queria isso pra ninguém. Eu vi a Luísa e a Sofia morrerem na minha frente, vi Alfredo nos abandonar pra ficar com aqueles desgraçados, nem tenho família aqui em São Paulo pra me preocupar, a cidade está um caos, mas mesmo assim... Eu penso no Gustavo... Eu sou sozinho aqui, vocês são o mais próximo que tive de amigos. Sei que é estranho eu dizer isso, até porque eu nem vi a morte dele, mas é diferente lidar com a morte de uma gerente e de uma mulher que trabalhava no caixa, que mal falavam comigo e quando falavam eram assuntos de trabalho, ele trabalhava na padaria, de frente pra mim, a gente se via e conversava o dia todo, mesmo ele sendo um idiota e me irritando, eu gostava dele...

– Sei como você se sente, eu também sinto isso... – respondeu Felipe.

– Eu nunca gostei dele, mas não queria que ele morresse, e ele se sacrificou por nós. – disse Lucas.

– E agora estamos aqui, e eu com essa dor insuportável no peito, sei que não vou conseguir correr assim, estou sendo só um peso. A única coisa que eu tinha, meu carro quebrou, mas eu não conseguiria dirigir com essa dor mesmo...

– Não desiste, a gente vai sair dessa! – disse Felipe.

– Não tente me animar... Eu sei o que você pensa, você sabe o que vai acontecer com todos nós... A diferença é que vocês ainda têm suas famílias pra se preocupar e isso faz com que vocês não desistam, mas eu não tenho nada... – desabafou. – Felipe, seus pais não estão na sua casa, leve a arma. Vá com Lucas e Mariana atrás deles. E depois disso vá atrás dos pais dos dois também. Economize as munições pra não ficar sem...

– Carlos...

– Ninguém vai ajudar vocês, estão sós... Façam o que precisarem para sobreviver, e só se permitam morrer quando tiverem certeza que nada ficou pra trás... Eu consegui acompanhar vocês até aqui, mas esse é o fim da linha. – concluiu Carlos, caindo no chão desacordado em seguida.

– Carlos? – se desesperou Lucas.

– Não desista! – pediu Mariana, que balançava Carlos enquanto chorava. – Felipe, faz alguma coisa... – implorou.

Felipe empurrou Mariana, a afastando do açougueiro. – Você tá louco? – perguntou ela. Todos viram Carlos se levantar, porém com os olhos vermelhos.

No Way OutOnde histórias criam vida. Descubra agora