CAPÍTULO 7 - PAI

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Ceticismo: É qualquer atitude de questionamento para com o conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas. Filosoficamente, é a doutrina da qual a mente humana pode não atingir certeza alguma a respeito da verdade. O cético é aquele que não acredita, que duvida ou se apresenta como incrédulo e descrente, um sujeito que se recusa a aceitar uma ideia ou teoria com base na sua popularidade ou na autoridade que representa ou impõe essa ideia. Felipe sempre foi cético, mas ele não tenta distorcer os fatos, se ele está vendo algo que não acredita, ele passa a acreditar. É assim que deveria ser, a pessoa duvida de algo, mas admite estar errada quando lhe é provada o fato anteriormente questionado. Ao contrário de Felipe, Lucas é bem menos cético, mas agora, no momento em que ele mais devia aceitar os fatos, ele se mostra relutante em dar o braço à torcer. Felipe teorizou sobre a existência de zumbis, e sua teoria se mostrou verdadeira, primeiramente na papelaria, e posteriormente no mercado, embora Felipe, Lucas e Mariana ainda não saibam do que está ocorrendo por lá. O fato é que Felipe estava certo, e por não ter dado o braço à torcer, Lucas agora está com um braço grudado em seu pescoço.

Lucas tentava gritar, mas a mão lhe enforcando o impedia, ele só se debatia sufocado enquanto ia perdendo o ar, Mariana entrou em desespero, Felipe correu na direção de Lucas e começou a dar pisões no saco de lixo, na parte da cabeça do ser que atacava seu amigo. Mas mesmo com os incontáveis e fortes golpes que Felipe desferiu, a mão não largou Lucas de jeito nenhum. Felipe e Lucas começaram então a torcer os dedos na esperança de que o agressor sentisse dor e puxasse o braço, sem sucesso, mas ambos perceberam que mão estava absurdamente fria. Quando nenhum dos três sabia mais o que fazer, ouviram barulhos de tiros, Rodrigo acabara de matar com seu revólver o monstro que tentava matar L, que finalmente pôde se soltar, caindo no chão enquanto tentava recuperar o fôlego.

Rodrigo é ex-militar de cinquenta anos que teve de se aposentar devido uma lesão irreversível em sua perna, por esse motivo ele não consegue se locomover muito rápido. Antes de se desligar do exército ele era capitão.

- Obrigado... – disse Lucas em meio a tossidas e lágrimas nos olhos.

- Se não fosse você, ele teria morrido. – disse Mariana aliviada.

- Obrigado mesmo cara. – completou Felipe.

- Vocês não vêem os jornais? Não deviam estar na rua. – afirmou Rodrigo.

- Não tinha como saber que uma mão ia me agarrar. – explicou Lucas.

- Se você me escutasse, você não teria chegado perto desse lixo. – cravou Felipe. – Acredita em mim agora?

- Deixem pra brigar depois! – exigiu Rodrigo. – Vamos checar uma coisa. - Cautelosamente Rodrigo abriu o saco de lixo e confirmou que o homem que atacou Lucas já estava morto no momento do ataque. – Temos que sair rápido daqui!

- Mas por quê? Ele já está morto. – disse Mariana.

- Isso era um morto vivo, não sei se isso realmente está morto, ele pode levantar de novo. Vamos rápido! – respondeu Rodrigo.

Felipe explicou que eles estavam voltando ao mercado, e temendo que algo pudesse estar ocorrendo por lá, Rodrigo decidiu ir com eles. Os quatro entraram no carro de Rodrigo, e no caminho, entre conversas, ele falou sobre sua condição física e que vive à toa, na maioria das vezes sem nada pra fazer. E explicou que já sabia o que estava acontecendo e pegou o carro para ajudar possíveis vítimas, quando percebeu o desespero dos jovens, principalmente de Mariana.

- Eu ainda não acredito no que aconteceu... – disse Lucas.

- Já tá me irritando cara, um zumbi quase te matou e você ainda duvida. – responde Felipe.

- Mas se é um zumbi, porque ele estava só apertando meu pescoço ao invés de tentar me morder? – questionou.

- Não é como um filme, não sabemos como essas pragas se comportam na vida real. – respondeu Rodrigo.

- Mas de onde eles vieram? – perguntou Mariana.

- Não sei, mas ao invés de ficar pensando de onde vieram, temos que pensar em um jeito de acabar com isso antes que se espalhe. – determinou Rodrigo. – A propósito, se vocês têm família, eu aconselho ligarem para eles pra ver se está tudo bem.

- Boa ideia. – disse Felipe. O jovem ligou para o telefone de sua casa, seu pai atendeu. O garoto tentou explicar o que aconteceu para o seu progenitor, mas foi interrompido por risadas do outro lado da linha. – Eu não tô brincando! Se você quer ser morto por um deles, morra só. Eu quero falar com a mãe! – disse Felipe, visivelmente irritado com a atitude ridícula do desocupado. Além de não ter seu pedido atendido, ele ainda teve de ouvir um sermão sobre respeito e que pagaria bem caro quando chegasse em casa. O garoto desligou o celular na cara de seu pai e desejou que o imbecil fosse morto pelos zumbis. Mas ainda ficou preocupado com sua mãe, o celular dela estava quebrado, o único meio de falar com ela era o telefone de casa, o que já percebemos que não vai acontecer.

Lucas e Mariana perceberam a instabilidade emocional de Felipe, mas respeitaram o espaço do garoto, ambos o conhecendo, sabiam que em alguns minutos o bom Felipe, ainda pessimista, mas melhor humorado, estaria de volta. Mariana ligou para seu pai e confirmou que ele estava bem, ela pediu para que ele ficasse afastado de aglomerações de pessoas para não ser infectado. Seu pai não se importou muito, mas não tirou sarro da cara dela. Lucas ligou para sua mãe e ela também estava bem, ele a pediu para tomar cuidado e desligou.

- Isso não faz sentido. – opinou Lucas, enquanto via carros e mais carros passando pelas ruas.

- O que não faz sentido? – perguntou Rodrigo.

- Se nossas famílias estão seguras, por que não voltamos pra casa? Lá estaremos seguros também.  – questionou o garoto.

- Não sabemos até que hora eles estarão seguros, mas as autoridades já estão pensando em algo, logo estaremos todos a salvos. – respondeu Rodrigo.

- Você realmente acredita nisso? – perguntou Felipe, cabisbaixo.

- Eu sei do que estou falando. Não sou mais militar, mas ainda tenho amigos do exército e da polícia. Já fui informado, logo estaremos em um lugar seguro!

- Não é disso que estou falando. – respondeu o garoto.

- Do que é então?

- Você realmente acredita que existem chances de escapar disso? – questionou o garoto, para surpresa de seus amigos.

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