CAPÍTULO 20 - DESTINO DE UM COVARDE

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Implicância: Manifestação de desagrado e antipatia em relação a algo ou alguém. Ação de infortunar alguém para fazer com que essa pessoa se irrite. Dizemos que uma pessoa está implicando com alguém quando essa, com ou sem motivos, fica provocando ou fazendo complô contra a pessoa ou animal, afim de causar intriga no local ou situação. Quando Felipe e seus amigos chegaram à delegacia, Daniel falsamente foi cordial e receptivo, mas deixou bem claro para Rodrigo que os mataria sem pensar caso desconfiasse de algo. O clima ficou bem hostil após Felipe sair para resgatar seus pais, o que fez com que todos, exceto Alfredo, também deixassem o local. Daniel voltou suas atenções ao açougueiro e quis o matar a todo momento. Daniel estava apenas implicando com todos por não ter simpatizado com eles ou ele estava certo em agir assim?

Raul permaneceu por minutos parado em frente à porta, pensando se deveria deixar Alfredo sair de dentro da sala. Nesse tempo em que ficou lá tentando tomar uma decisão, o sargento pôde perceber que a tosse elevada do açougueiro foi diminuindo drasticamente, até que chegou um momento em que não fazia mais nenhum barulho. Mesmo sabendo que Daniel iria repreendê-lo, ele abriu a porta. Ao ligar a luz, Raul percebeu um extenso rastro de sangue no chão, pela quantidade ele julgou que aquilo não era oriundo apenas da tosse do enfermo. Raul também percebeu que Alfredo não estava no seu campo de visão, foi nesse momento que ele escutou uma pancada que fechou a porta da sala. Apreensivo, rapidamente ele se virou e viu Alfredo apoiando sua mão na porta e se levantando com dificuldade. – A gente vai sair daqui, vamos. Você precisa de um médico. – disse Raul, mas Alfredo manteve-se calado. – Está me ouvindo? Vamos logo! – repetiu o policial, que continuou sem resposta. Já desconfiado Raul deu passos para trás, evitando pisar no sangue e se afastando do açougueiro. – Se você não responder, eu vou te deixar aqui! – se impôs.

Alfredo não reagiu a nenhuma tentativa de diálogo, ele apenas ia se levantando com dificuldade enquanto Raul o observava cada vez mais nervoso. – Está certo, eu tentei te ajudar, mas se você não quer, então fique aí! – disse o sargento, que caminhou em direção a porta para sair, mas quando colocou a mão na maçaneta ele foi surpreendido por uma espécie de tapa meio desengonçado vindo de Alfredo. Raul deu passos para o lado e olhou indignado para o homem que o atacara sem motivo. – Que porra é essa? Tá ficando louco? – perguntou Raul, mas a resposta não foi bem o que ele desejava. O policial viu Alfredo levantando a cabeça e o semblante do açougueiro era assustador, com a boca e nariz escorrendo sangue, e os olhos vermelhos, igual à Luísa, Sofia, Gustavo e todos os outros zumbis que estavam à solta do lado de fora. Nesse momento Raul congelou por segundos e se lembrou de tudo que Daniel disse. O capitão podia ter todos os defeitos possíveis, mas o julgamento que ele havia feito estava certo, Alfredo estava contaminado e se tornou um zumbi.

Todos foram embora, Alfredo decidiu ficar, e justo ele acabara se tornando um monstro. Mas isso nos leva a mais questionamentos. Alfredo não teve nenhum contato direto com zumbis, e mesmo assim acabou infectado em um curto período de tempo. O que causara a contaminação dele? Se ele em algum momento foi mordido e não tínhamos conhecimento disso, por que ele demorou tanto pra sofrer a mutação, sendo que Luísa e Gustavo viraram zumbis poucos minutos depois de serem mordidos, enquanto que Sofia levou mais tempo e mesmo assim não foi tanto quanto Alfredo? Essas respostas ainda não temos, o que sabemos é que ele tentou atacar Raul e levou dois tiros de pistola na cabeça, caindo no chão já morto, destino merecido para um covarde que abandonou seus amigos, que preferiu deixar seus companheiros irem embora e ficou em um lugar com desconhecidos, sendo que o líder deles, com razão, o hostilizou e o tratou como uma aberração o tempo todo.

Raul trancou o morto dentro da sala e voltou para o andar de baixo, mesmo que ele quisesse esconder o que aconteceu, todos ouviram os tiros, eles eram policiais, e Rodrigo um ex-soldado, todos entendiam de armamento, não dava pra inventar que o tirou veio de outro lugar, não havia escapatória para isso.

– O que foi isso? – gritou Daniel, enquanto corria de volta para a recepção. – Quem atirou?

– Calma, chefe. Fui eu. – respondeu Raul, que desceu correndo.

– Tá atirando por quê? – perguntou o capitão.

– Eu fiquei com dó do Alfredo.

– Raul... – disse Daniel em tom agressivo.

– Eu não soltei ele, eu abri a porta e atirei, pra ele não ficar sofrendo... – respondeu Raul, convicto em suas palavras.

– Certo. Vamos sair daqui logo.

Daniel, Rodrigo e Raul terminaram de pegar tudo que poderiam precisar e juntos de Garcia, entraram na viatura e partiram, procurando um novo lugar, mais seguro, para se protegerem dessa infestação.

– Acordem logo! – suplicou Mariana.

Felipe se desesperou ao perceber que os zumbis já estavam ficando visíveis. – Não temos muito tempo... – O garoto correu para o banco do motorista, empurrou Carlos para cima de Lucas e tentou ligar o carro. Por um momento o veículo até funcionou, mas parou de pegar logo em seguida, isso aconteceu por três vezes até que Felipe desistiu de tentar.

– E agora? – perguntou Mariana.

Já sendo tomado pela adrenalina, Felipe arrombou a porta de uma casa e foi até a cozinha. Lá ele pegou uma garrafa d'água e correu novamente para o carro. – Se isso não der certo... A gente vai ter que deixar eles aqui.

– Não! – disse Mariana.

– E vamos fazer o quê? Ficar pra morrer também? Olha lá os zumbis chegando...

– Então joga logo...

Com medo do resultado, Felipe virou a garrafa na cara de Lucas, após alguns segundos o garoto acordou, ainda um pouco atordoado pela batida. – Fica calmo. – disse Mariana para ele.

– O que tá acontecendo? – perguntou Lucas, confuso. – Mike?

– Vai logo, porra... – disse Felipe enquanto jogava água na cara de Carlos. – Tô achando que ele não vai acordar...

Ainda desnorteado Lucas olhou para o lado e viu a multidão de zumbis se aproximando. – Mike... – disse o garoto desesperado.

– Vai logo Carlos! – gritou Felipe. – Vai logo porra!

Sem abrir os olhos Carlos acordou, igualmente dolorido pela batida. – Felipe? – disse ele. – Te achei... Agora já podemos... – sem conseguir terminar a frase, ele levou a mão ao peito e deu um grito de dor. – Pegue a arma... – disse ele.

– O quê? – perguntou Felipe.

– A arma...

Felipe viu o revólver e as munições jogados dentro do carro, ele os pegou e entregou para Mariana, e com Lucas já voltando a si, os quatro abandonaram o veículo e passaram a fugir dos zumbis, com Mariana correndo devagar e segurando a arma, as balas e a barra de ferro de Felipe, enquanto Lucas e Felipe ajudavam Carlos a caminhar.

No Way OutOnde histórias criam vida. Descubra agora