23:50 PM
A escuridão dominava a área em que o casal invadira. O rapaz pôde enxergar após o estalo no interruptor, ligando as luzes uma atrás da outra. Os corredores estreitos da biblioteca eram o local perfeito que a dupla procurava.
Gui, o rapaz acompanhado pela loira de estatura média, abriu um sorriso largo ao ser puxado pela moça. Ela o guiou até o fim do corredor, deixou-o contra uma das estantes - um livro chegou a cair do outro lado - e recepcionou o parceiro com beijos no pescoço que desciam aos poucos. O jovem se arrepiava com o toque de seus lábios. Era bom para ele, finalmente estava acontecendo, mas a moça estava num ritmo tão acelerado que cada nova ação por parte dela o surpreendia. Ela passava a mão nos fios castanhos e ondulados dele, enquanto a canhota dava conta de desabotoar a camiseta, deixando seu corpo semi definido a mostra. O gesto incessante da moça cessou quando ela se afastou com as mãos em seus ombros, olhando diretamente para ele.
- Trouxe? - perguntou ela.
Guilherme entende na hora, afirmando com a cabeça e puxando a carteira.
- Só um instante. - procurou.
Ela espia mordendo o canto do lábio. Ele tira o preservativo de dentro da carteira e a moça logo pega de suas mãos.
- Lembra daquela nossa brincadeira? A zebra e o leão?
- É sério?
- Vai ser divertido. - diz ela, se afastando.
Guilherme solta uma risada nasal, negando enquanto espera que ela suma de vista. Quando feito, ele passa a andar pelo corredor com as mãos na cintura, espreitando os lados.
Outrora as luzes piscavam nos longos corredores silenciosos.
Os passos distantes fizeram o rapaz dar meia volta e acelerar na direção ouvida, ele espiou o corredor a direita já esperançoso. O sorriso se desfaz quando não viu nada ali.
- Porcaria.
Volta a caminhar. O silêncio começava a perturbá-lo. Ele para no meio do corredor e tenta ter algum indicio da jovem pelos espaços nas prateleiras.
- Ana? - a chamada percorre o local. - Fala sério. - murmurou.
- AHHH.
O grito repentino seguido pelo barulho de livros caindo, faz ele recuar e olhar todas as direções, ele chama-a, mas nenhuma resposta é dada. Agora, Gui caminha vagaroso pelo corredor, atento as entradas dos corredores próximos.
- Ana, não tô brincando!
Vira a esquerda, fitando diretamente o fim escuro do corredor. Ele olha para o lado oposto e nenhum sinal da jovem. Ao voltar seu foco para a mesma direção, ele fixa-se com o piscar da luz, destacando uma figura careca ajoelhada. Gui franze o cenho, fica parado com a mão apoiada na estante. Outra piscada volta a destacar o individuo.
- Ei!
O careca olha por cima do ombro na mesma hora. Guilherme trava o olhar no corpo estirado a frente do homem: era Ana com sua garganta aberta e com os olhos fixos no nada. O sangue ensopava todo o piso. A respiração dele aumentou junto com os batimentos cardíacos, a boca movia-se, mas nenhuma palavra saía. A cena sumiu com o apagar da luz. Os passos firmes vindos em sua direção percorreram todo o corredor. A luz voltou a ligar, revelando a aberração indo ao seu encontro.
Guilherme impulsionou o corpo para o lado, iniciando uma corrida desajeitada do qual esbarrava nas estantes para se manter de pé. O careca era veloz, emitindo um rosnado feroz atrás do jovem. Gui deslizou na curva, quase caindo, puxou a estante da qual se segurou, derrubando e atrasando seu perseguidor. Ele focou na única entrada de luz externa no momento, uma janela retangular no topo da parede. Um salto e tanto para o desesperado foi o suficiente para alcançá-la. Passou o tronco para fora da biblioteca e acabou por dar uma pirueta para fora, caindo de costas no gramado. Levantou ligeiro, correndo para o meio da rua noturna e deserta.

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After The World (PAUSADO)
Kinh dịO mundo se transforma no caos de uma hora para a outra. Vidas são transformadas, laços são criados entre pessoas que passam a precisar uma das outras para sobreviver. Interesses pessoais podem ser colocados sobre o coletivo, assim como o medo de lid...