Continuação

135 7 5
                                    

Depois que eu saí da sala liguei pra o meu pai mandar um dos vapor ir me buscar, depois de uns dez minutos o Guilherme chegou, dos vapor, ele era o mais próximo a mim, por isso meu pai sempre mandava ele ir me buscar.

Gui: E ae, princesa, como que o PH tá?
Nanda: Já está sendo um babaca. Já está pronto pra outra. - falei de cara fechada e ele riu.
Gui: Tu quer ir direto pra casa ou quer que eu te leve em algum lugar?
Nanda: Quero que tu me leve pra boca, preciso falar com o meu pai.
Gui: Suave.

Subi na moto e ele praticamente voou com a moto até o morro, particularmente, eu adorava essa adrenalina, a liberdade que eu sentia quando estava encima da moto era inexplicável. Assim que eu pegar minha carteira no mês que vem, meu pai vai comprar uma pra mim. Eu não vejo a hora.
Cheguei na boca e cumprimentei algumas pessoas que estavam esperando pra falar com o meu pai, passei na frente de todas elas e entrei na pequena casa onde meu pai guardava as armas e as drogas, era dali que ele comandava absolutamente tudo que existia no morro. Ele fazia isso muito bem, na comunidade ninguém mais roubava ou brigava, todos gostavam do meu pai e o respeitavam muito, desde que ele assumiu haviam regras e essas regras eram cumpridas a risca. Meu pai era um homem incrível, mas ele também não perdoava erros e deixou isso claro assim que assumiu o morro.
E eu não poderia, nem deixaria que qualquer um destruísse isso.

Nanda: Pai?
- Oi, princesa. Aconteceu alguma coisa? - ele parecia surpreso, já que eu só aparecia lá quando acontecia algo grave.
Nanda: Não, tá suave. Só quero conversar contigo.
- Não dá pra esperar chegar em casa?
Nanda: Na verdade, é algo relacionado ao morro, então achei melhor falar aqui.
- De boa, pode falar.
Nanda: Eu quero assumir o morro.
- Que? - ele me olhou espantado como se jamais imaginasse que eu iria falar aquilo, de certo modo, eu também não esperava.
Nanda: Eu quero assumir o morro pai, é claro que não agora, mas não quero que o senhor entregue nosso morro a qualquer pessoa.
- Olha filha, eu sei que você é extremamente capaz de assumir o morro, mas eu não quero que você assuma.
Nanda: E por que não?
- Porque não é tão simples assim, além de ser perigoso, não quero tu envolvida com o tráfico.
Nanda: Mas eu sei me cuidar, pai.
- Eu já falei que não, Fernanda. - ele levantou a voz, o que me deixou incomodada porquê ele quase nunca fazia isso. - Agora vai pra casa, chegar lá nós conversamos sobre isso.

Eu levantei e desci do morro extremamente irritada, se ele achava que eu desistiria disso fácil, ele tava muito enganado.
Cheguei em casa e bati a porta, me joguei no sofá e então a Maria apareceu da cozinha com um pano de pratos na mão.

Maria: Oi Nanda, tá tudo bem?
Nanda: Agora não, Maria. Agora não. - falei isso e subi as escadas correndo em direção ao meu quarto, deixando a senhora confusa lá embaixo, entrei no meu quarto e tranquei a porta, eu precisava ficar sozinha e não queria que ninguém me incomodasse. Fui pro meu banheiro e liguei a água na banheira, eu precisava me cuidar, precisava de um tempo pra mim. Coloquei alguns produtos dentro da água e algumas coisas pra pele perto da banheira, voltei ao meu quarto e liguei o rádio colocando minha playlist de rap favorita. Tirei a roupa e parei em frente ao espelho, eu estava péssima com uma aparência cansada, as olheiras se destacavam em meu rosto e a tristeza que eu estava sentindo era tanta que eu nem conseguia saber ao certo porque era.

Entrei na banheira devagar, sentindo a água morna lentamente entrar em contato com o meu corpo, apliquei o shampoo em meus cabelos e tirei logo em seguida, coloquei a hidratação e enquanto esperava o tempo, peguei a máscara facial e apliquei. Deitei um pouco a cabeça no batente da banheira, tentando relaxar mais um pouco, fiz uma leve massagem em meu pescoço, não era novidade que eu estava totalmente tensa. Com todo os acontecimentos, eu não estava cuidando de mim, e acho que esse era o momento exato para isso. Eu sentia minha cabeça pesar, com pensamentos confusos e intensos, parecia que minha cabeça ia explodir. De repente, senti meus olhos arderem e simplesmente deixei que as lágrimas quentes molhassem meu rosto, eu apenas chorei, coloquei toda aquela mágoa e angústia pra fora, eu sabia que era daquilo que eu estava precisando. Terminei meu banho e coloquei um roupão, passei o secador no cabelo e então deitei na cama...

Acordei com um toque alto e incômodo, peguei meu celular e no visor aparecia um número que eu não conhecia.

Nanda: Alô?
xXx: Fernanda?
Nanda: Quem é?
xXx: É o Jhonatan. Eu só liguei pra saber de que horas posso te buscar.
Nanda: Puta merda, eu esqueci completamente. Desculpa. - ficou silêncio dos dois lados até que ele falou.
Jhon: Se você quiser desmarcar, tudo bem.
Nanda: Não, eu vou me arrumar rápido e te ligo pra você me esperar.
Jhon: Certo, não demora.
Nanda: Ok

Desliguei o telefone e corri pra me arrumar. Puta que pariu, Fernanda, como você esqueceu!?
Coloquei um vestido branco justinho e um blazer jeans, junto com minha argola e uma percata preta. Fiz uma maquiagem bem natural e desci. Avisei a Maria que ia sair e liguei pro Guilherme me levar onde o Jhonatan iria me buscar, avisei ao Jhonatan o local e quando cheguei lá ele já estava ao lado do carro me esperando.
Quando ele me viu, me analisou de cima a baixo e sorriu, fui em sua direção meio sem graça pelo vacilo.

Jhon: Oi. - ele disse quando eu cheguei mais perto, ele se aproximou e me abraçou fazendo com que eu sentisse seu perfume marcante.
Nanda: Desculpa, é que... - ele levantou a mão e negou com a cabeça.
Jhon: Tudo bem, valeu a pena esperar. Você está muito linda.
Nanda: Obrigada, fiquei com medo de que você ficasse com raiva.
Jhon: Relaxa. E então, já sabe pra onde vamos?
Nanda: Claro, falou em comida, é comigo mesma. - rimos juntos e entramos no carro, eu mostrei a ele o caminho para o meu restaurante favorito, ele ficava na beira da praia e era incrível, servia todos os tipos de comida. - Foi o meu pai que me trouxe aqui, desde então é um dos meus lugares favoritos. Ele pediu minha mãe em casamento aqui.
Jhon: É realmente incrível, e inspirador para um pedido de casamento mesmo.

Jantamos e conversamos mais sobre a vida de ambos, ele me contou que a mãe dele mora no Canadá desde que se separou do pai dele, me falou que o pai é um escroto. Eu contei a ele toda a história do PH, cortando algumas partes, é claro, contei sobre a minha mãe e o quanto meu pai é incrível comigo. Ele me ofereceu ajuda com o Enem, já que o ensino no Canadá é mil vezes melhor que o daqui. Eu aceitei, já estava muito próximo pra recusar qualquer ajuda. O meu pai queria pagar um cursinho, mas eu não quis. Ele era inteligente e engraçado, além de lindo, o que me fez pensar.

Nanda: Porquê você não namora?
Jhon: Bom, é uma pergunta um tanto complicada. Digamos que eu não fui feito para relacionamento.
Nanda: Ué, por que? Você é galinha demais pra namorar? - ele riu e tomou um gole do refrigerante.
Jhon: Assim você me ofende.
Nanda: Bom, é a única justificativa plausível.
Jhon: Certo, certo. Eu até já fui noivo, mas ela me traiu e me largou.
Nanda: Uau, achei que fosse mais provável o contrário. - ele fingiu ficar ofendido.
Jhon: Você quer saber da história, ou vai continuar me acusando injustamente? - rimos juntos e eu assenti. - Bem, eu namorei durante dois anos uma pessoa no Canadá, mas ela me traiu com um dos meus amigos, e eu fiquei numa fossa triste, mas depois que eu me recuperei, digamos assim, eu passei a não me envolver sentimentalmente com mais ninguém, aí eu só fico mesmo.
Nanda: Acho que vou apresentar sua ex noiva ao PH.
Jhon: Seria um casal e tanto. Mas e a sua amiga, você ainda fala com ela?
Nanda: A Lua é como uma irmã pra mim. Claro que eu fiquei puta, mas me coloquei no lugar dela. Ela vai ser uma mãe incrível.

Conversamos durante horas que pareceram minutos, depois do jantar, fomos caminhar na praia, sentamos na areia e parecia que o assunto nunca acabava. Ficávamos alguns instantes em silêncio apreciando a beleza do mar e logo em seguida começávamos o falatório novamente.

Jhon: Quer amanhecer o dia aqui? Amanhã eu estou de folga. Claro se for tudo bem pra você.
Nanda: Sério? Seria ótimo, só preciso avisar ao meu pai.

Liguei pra o meu pai e avisei onde estava, eu disse que não precisava mandar ninguém, mas eu sabia que ele faria mesmo assim. Tomara que o Jhon não percebesse.
Conversamos até o amanhecer e ele pediu pra me deixar em casa, por mais que ele fosse um cara muito bacana, eu ainda não sabia se ele deveria saber tanto. Mas eu disse onde morava, só não disse quem era o meu pai.

Jhon: Você mora no Alemão?
Nanda: Sim, porquê?
Jhon: Por nada, meu pai é o dono do Canta galo. - PUTA QUE PARIU!!!
Nanda: Uau, deve ser incrível, né?
Jhon: Não, eu odeio essas coisas de armas.
Nanda: Ah, bom... Obrigada pela noite, foi incrível.
Jhon: Eu também adorei. Quando nos veremos de novo?
Nanda: Eu não sei, mas vamos marcar logo, ok?
Jhon: Perfeito.

Eu dei um beijo em sua bochecha e sai do carro, fui direto pra casa da Luane. Aquilo não era possível.

A nova dona do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora