Arquivo 7: BEGIN

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Todos os acontecimentos possuem um início.

Data_JUNG HOSEOK, 28 anos. O dia seguinte_ 8:16

Jungkook.

Ele demorou dias para me dizer que nome tinha, é verdade.

Todos na Fraternidade pensavam que eu estava maluco por trazer outro alguém, provavelmente ferrado até o pescoço, para ficar com a gente. E de fato, ele tinha arranhões no corpo, mancava, e mantinha o olhar assustado e alarmado o tempo inteiro.

Ele estava apavorado, não dormia, e por duas ou três vezes o peguei tentando fugir, mesmo que não soubesse para onde. 

E se passaram semanas, talvez meses até que ele parecesse confiar um pouco em mim. Então eu lhe trouxe roupas novas, e não antigas minhas. Uma joelheira que mantivesse seu joelho no lugar, para que mancasse menos quando sentisse dor. Até que melhorou consideravelmente, o suficiente para caminhar de maneira normal, até que aceitasse a comida e os mantimentos sem reclamar ou tentar pagar de alguma maneira, até me chamar pelo nome, e então de Hyung.

Jungkook era o que eu tinha de mais perto, quanto à família. Eu protegia e apreciava todos os outros, mas ele se tornou um verdadeiro irmão para mim.

E as coisas evoluíram a um ponto que nós simplesmente sabíamos o que o outro estava pensando sobre um assunto, quando estava tentando omitir algo ou quando queríamos ficar em silêncio. Os silêncios aconteciam geralmente depois de passarmos por algum mal bocado, e nossas vidas ficarem penduradas em perigo. Nós íamos para o lugar mais alto que pudéssemos chegar, e ficávamos acima de tudo ali, no escuro, no silêncio.

Ele estava perdido, assim como cada um de nós esteve um dia.

Eu continuei perdido por muito tempo, e talvez isso não tenha mudado quando perdi a perna.

Dança. É o que disse à eles que faço, quando desapareço por uns dias. Na verdade era o que eu tinha feito, até os meus talvez vinte anos. Mas hoje em dia, ninguém mais paga por coisas assim. Conseguir ametistas é muito mais difícil que antes, e outras formas de entretenimento muito mais famosas que as anteriores estão em alta. Dança não era uma delas. E apenas eu sabia que esta não era a verdade. Mas agora, sem uma de minhas pernas, e sem a prótese que me ajudou por algum tempo, eu tinha certeza de que continuava perdido, em pouco tempo a nossa situação deveria piorar bastante.

Eu sabia que ele escondia algo, por trás de seus olhos escuros. Sabia que ia além do que tinha contado sobre o Opium e o Às, sabia que existiu um Jungkook antes de tudo aquilo.

Mas ele dizia o contrário. Que só passou a se reconhecer como ser humano depois que nos encontrou. Que antes, era um rato fugindo com um pouco de comida. 

Me doeu ouvir algo assim, mas me doeria mais se ele retrocedesse. Então aceitávamos como verdade, aquele era o único Jungkook que já existiu.

_Vocês dois perderam o juízo. _Hyuna dizia, no sofá ao lado de Dawn. Eles sempre estavam lado a lado, dividindo as coisas e perto, mas ninguém poderia afirmar categoricamente que eram um casal. No entanto, nunca se aproximaram de outra pessoa, se não um do outro, então era um acordo sem palavras que soubéssemos que eles de alguma forma se pertenciam.

Bufei, olhando para o lado, tentando buscar algum apoio moral em Jungkook. Mas ele estava movendo o colar que sempre mantinha pendurado no pescoço, entre nos dedos, com o olhar perdido. Certamente ainda estava pensando sobre o ateliê, ou sobre voltarmos para lá.

_Ele sequer é um médico. _Hwasa comentou.

_Jungkook disse a mesma coisa, vocês dois às vezes parecem o eco um do outro. _eu disse. _Você sabe que para gente como nós, médicos não existem. Nem saúde, nem educação. Ou conseguimos da maneira que podemos, ou morremos sem. 

[CONCLUÍDA] OPIUM (LIMINAR) | Jikook |Onde histórias criam vida. Descubra agora