ARQUIVO 21: JAMAIS VU

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OI GENTE sou eu de novo

VERIFIQUE se leu o anterior, é importantíssimo isso

Já ouviram a playlist perfeita?

Adicionei em cada capítulo a explicação por ter escolhido determinados títulos, já que algumas são subentendidas :)

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"Jamais vu (do francês, "jamais visto"; pronunciada(o) [​ʒa. ... vy]) é o oposto do déjà vu (do francês, "já visto"). Em vez de sentir que algo já foi visto, o jamais vu é a sensação de que algo familiar é totalmente desconhecido."

É como se eu conhecesse isso. O hoje, o agora, esse lugar. Mas nada disso me parece o mesmo que antes.

Data_JEON JUNGKOOK, 15 anos. 24 de Dezembro_ 21:55

Eu não sabia mais como caminhar sem mancar.

O caminhão veio mais vezes naquela semana, provavelmente pra acalmar os moradores de rua, já que os banheiros coletivos falharam em abrir mais que três vezes. Nas vezes em que funcionava e eu fui, os chuveiros não ligavam mais que um fio de água gelada, por dois minutos até desligarem.

Encarei o fim da rua, apertando meus olhos.

Eu não estava fraco o suficiente, por conta das visitas dos caminhões. Naquela noite em específico, mais cedo ouvi de um anúncio em alto-falante que nenhum morador de Seul dormiria com fome no natal. Eu quis rir.

Continuei caminhando naquela direção, porque a fila para a sopa quente era minha melhor chance de sempre aguentar mais alguns dias. Pelo menos até a próxima vez que viesse, e eu estivesse na rua certa. Caminhando pra lá, notei algo segurando a barra das minhas roupas, me fazendo parar no lugar por um momento.

Olhando para baixo, vi que não era uma criança ou coisa do tipo. Apenas uma senhora de idade, segurando a barra do meu casaco, e com pouco esforço da parte dela, muitas das linhas se desfizeram com o toque.

Eu continuei olhando para baixo, e ela suspirou pesadamente, soltando as linhas no chão — Você devia pegar meu casaco, garoto. — murmurou. Ela parecia exausta.

— Não... Eu estou bem. — eu disse. Era estranho demais me ouvir, mas me lembro de alguém dizer algo sobre respeito aos mais velhos, muitos anos atrás.

— Você devia. Essa noite... será uma longa, longa noite pra mim. — ouvi quando murmurou. 

— O caminhão... — tentei falar, sugerir para que ela fosse comigo.

— Argh... — ela tossiu, e não parecia forte o suficiente para se levantar.

— A senhora fica aí. Eu vou tentar pedir duas. — assegurei, hesitante em tocar ou não seu ombro.

Eu disse que levaria duas, mas eu sabia que não dariam. Quando pedi, apontando para a senhora, ele disse para que eu esperasse até que a fila acabasse, e que se sobrasse alguma coisa, me entregariam.

Eu demorei. Bastante. Tanto pela fila, quanto pela vergonha de voltar sem nada para ela. Eu não devia ter tomado toda a minha porção sem saber se teriam pra ela, mas eu não pude evitar...

Às vezes me lembro daquela noite. Mesmo que eu não a conhecesse, as pessoas que moravam na rua no fundo pareciam uma só. Com uma história triste, uma expressão cansada, os olhos famintos. Injuriados pelo sistema.

Eventualmente, eu acabei voltando mesmo assim, mesmo com a neve.

Às vezes as pessoas morrem em situações caóticas, às vezes elas nem têm chance de reagir propriamente.

[CONCLUÍDA] OPIUM (LIMINAR) | Jikook |Onde histórias criam vida. Descubra agora