Arquivo 2: RUN

5.1K 849 346
                                    

A vida é uma verdadeira corrida.


Data_JEON JUNGKOOK, 16 anos. 24 de Janeiro_ 22:12, ano seguinte.

Está ficando frio.

O casaco que consegui pegar na casa daquele homem, não é mais o suficiente, além do que, o tecido de má qualidade está quase se esfarelando em minhas mãos, não ouso puxar os fios que se soltam, porque é tudo que eu tenho agora. Ele não é resistente o suficiente a chuva, sol, chão áspero e sujeira.

Bom, mas talvez nem eu seja.

O caminhão, que vinha trazer pão de dia e sopa à noite, não aparece há quase uma semana.

Eu sei que lentamente, estou me tornando lixo também. Acabo dormindo quando estou exausto, encolhido entre algum entulho para me esconder, mas sempre acordo assustado por alguma buzina do trânsito, ou pessoas gritando. Porque a cidade nunca dorme.

Sempre tem barulho, brigas, e todos andando de um lado para o outro, indo para seus trabalhos, ou voltando deles.

A parte mais difícil de estar aqui... Talvez seja ser invisível. Mesmo que eu olhe nos olhos deles, todos aparentemente têm seus próprios problemas, e na realidade são poucas às vezes em que olham de volta. Não é surpreendente uma criança estar na rua, e eu não sei o que estive esperando, ao olhar para essa gente. Talvez porque pareciam felizes e generosas no natal.

O natal passou, e depois dele, sabia que viria essa temporada. Mas antes, eu tinha um teto sobre minha cabeça. Eu provavelmente estou mais seguro agora, por mais contraditório que seja falar algo assim.

As ametistas da BigCoins que tinha em meu relógio acabaram depois de dois meses, mesmo que eu economizasse cada centavo, essa hora chegaria, e de alguma forma, antes que acontecesse, eu já me sentia desamparado, então não foi difícil pisotear e destruir meu relógio. Além do que seria alguma proteção, caso um dos meus primos tentasse me encontrar.

Eu quero deixá-los no passado, o mais rápido possível.

A única memória que decidi guardar, quando voltei naquela casa para pegar calçados e esse casaco, foi o colar que minha mãe tinha. Era simples, um cordão de tecido, e uma peça de plástico enrolada num aro fino de metal. A pedra da lua, pelo que sei.

Não tem valor algum, por isso ele deixou que ficasse comigo, depois de muita insistência, e um empurrão forte na parede, que me fez bater a cabeça. Se valesse algo, com certeza teria vendido, como fez com todos os pertences dela.

Me encolhi contra o muro, debaixo de uma das milhares de escadarias de metal. Eu sabia também, que antes que conseguisse dormir, ficaria despertando a cada cochilo. Puxei meu pulso, encarando a pele tocando o osso, e fechando meu polegar e indicador em torno dele. Quanto menor ficasse aquele espaço, mais perto eu estaria de morrer.

E eu estou ficando mais fraco a cada dia.

Fugir de tudo, qualquer barulho ou sinal de ameaça, gasta a energia que eu poderia poupar para me manter são por mais tempo, mas de qualquer forma, aos poucos estou perdendo a força. E está tão frio...

Se nevar hoje, eu espero que aconteça enquanto eu estiver dormindo. A ideia de morrer ainda me dá medo.

O que será que acontece depois? Há um limbo, exatamente igual a esse mundo, com as pessoas que já se foram? Ou existe um lugar pra se descansar?

Talvez a consciência apenas se apague. Da mesma forma que surgiu. Uma hora você está e no momento seguinte... Não está mais. Como um piscar de olhos.

[CONCLUÍDA] OPIUM (LIMINAR) | Jikook |Onde histórias criam vida. Descubra agora