Hermione se viu novamente no quarto de madeira destruída, mas algo viscoso e quente pingava de suas mãos. Confusa ela as analisou, a cor sumiu de seu rosto e horrorizada tentou se afastar, tropeçando nos escombros a sua volta e caindo no chão.
Sangue.
Sangue escarlate e quente, cobria suas mãos.
Ela tentou limpá-las no vestido mas não saia e com desespero olhou em volta tentando entender o que havia acontecido. O soluço gorgolejante chamou sua atenção e foi quando ela viu. Maurice estava caído pouco à frente escondido sob vigas de madeira que atravessavam seu corpo dilacerando-o e o sangue vermelho se acumulava nas feridas abertas.
- Papai! - Gritou, com lágrimas nos olhos enquanto desesperada tentava mover os escombros para alcançá-lo. - Papai! Fale comigo! - Implorou sem conseguir conter os soluços. - Socorro! - Gritou desesperada para a escuridão a sua volta. - Socorro!!! Por favor, meu pai precisa de ajuda!!!
Era muito pesado, não conseguia mover todas as vigas de madeira sozinha e o desespero se acumulava na garota enquanto via seu pai tossir sangue conforme sua respiração desregulada e sofrega se tornava mais fraca.
- Vai ficar tudo bem papai! A ajuda está a caminho! - Falou pegando uma das mãos do homem a sua frente. Estavam geladas. Hermione tremia e chorava compulsivamente enquanto ainda tentava empurrar as vigas de madeira sem soltar-se do pai.
- A caminho? - Perguntou uma voz atrás de Hermione e quando a jovem se virou se deparou com Gina parcialmente oculta nas sombras. O cabelo vermelho era a única coisa que se destacava a denunciando.
- Gina! Por favor me ajude meu pai ele...
- Te ajudar!? - Perguntou dando uma risada cruel. - Por quê eu faria isso?
- Gina?! - Choque cobria a voz da morena que viu sua amiga dar um passo em sua direção. Mas aquela a sua frente não era Gina. Sua amiga não possuía aquele sorriso cruel e sádico entretanto foram os olhos brancos como a morte que amedrontaram a jovem.
A ruiva a sua frente estava impecável em vestes elegantes e nobres que destacavam sua beleza. Beleza estas que era ofuscada pela maldade que brilhavam nos olhos, pela voz fria e cortante que com desdém e nojo ecoaram no cômodo destruído.
- Eu ofereci minha ajuda. Me preocupei com você. - Falava calmamente enquanto aproximava-se passo a passo.
Sua presença era opressora e fez com que Hermione se encolhesse quando a memória a atingiu. "Não tem acontecido nada, Gina".
- Você mentiu para mim... - Sussurrou em seu ouvido após agachar-se elegantemente ao lado de Hermione que, paralisada de medo, não se moveu.
"Não aconteceu nada, Ginevra!" Tinha gritado com sua amiga. "Eu fiquei mais tempo na cidade vizinha, foi só!"
- E-eu... - Gaguejou.
- Ora, vamos. Você abandonou seus amigos. - Disse a ruiva se levantando e começando a rondá-la.
- Eu não queria. Por favor, ajude...
- Não queria!? - Perguntou levantando a sobrancelha delineada, cortando-a. - Você se afastou de nós. E se não me engano disse "Não sou como vocês!" "E nunca vou ser!".
"Tudo bem Gina, algo aconteceu! Eu aprendi a odiar magia e tudo que diz respeito a ela... Não quero mais nada a ver com isso ou com vocês!" A própria voz de Hermione gritou furiosas ao seu redor. "Vá embora!", " Eu disse para sair... Eu não a quero aqui!".
- Você me mandou embora. - Sussurrou. - E agora isso aconteceu. - Disse indicando seu pai sangrando a sua frente e o quarto destruído. - Você fez isso! Por quê devo ajudá-la?
- Gina, por favor! Eu imploro! - Suplicou olhando para a amiga que se afastava adentrando as sombras. - Ele vai morrer!
- Estou apenas fazendo o que você me mandou. - Disso com divertimento enquanto o sorriso cruel pintava seus lábios finos. - Partindo.
- Não. Não! Não! - Repetia enquanto se via sozinha novamente e voltava a tentar libertar o pai.
- Hermione...
- Sim, papai. Estou aqui! - Falou voltando a segurar as mãos do homem.
- Por quê?
- Pai?
- Por quê usou magia?
- E-eu... - Não sabia como respondê-lo.
- Isso é culpa sua. - Falou frágil. - Você quebrou sua promessa! - Disse duro enquanto suas feições se tornavam amargas.
- Me desculpe! Eu não sabia...
- Você sempre foi tão egoísta. - Disse soltando a mão da filha a olhando com nojo. - Eu fiz tudo para protegê-la! - Se exaltou, voltando a tossir sangue.
- Papai, não se esforce. - Falou doce mesmo que as palavras do homem ferissem seu coração. Hermione engoliu as lágrimas tentando passar a calma que não tinha para o homem a sua frente.
- Não... me toque... - Falou fraco. - Bruxa.
Aquelas foram as últimas palavras de seu pai e Hermione não pôde fazer nada. Ela chorou como nunca tinha chorado, chorou e gritou de dor e angustia. Era culpa dela, ela o tinha matado.
- Ingrata. - Mais uma voz soou a suas costas. - Eu a considerava como uma irmã.
- Harry? - Reconheceu o amigo, mas esse tinha sumido antes que ela pudesse disser qualquer outra coisa
- Assassina! - Falou agora Ron.
- Bruxa! - Gritou Neville levantando um terço em sua direção enquanto protegia a pequena menina que um dia ela tinha ensinado a ler.
- Você é tudo que eu mais odiava no mundo. - Sibilou seu pai surgindo na sombra como os outros. - Seria melhor se tivesse morrido como sua mãe. - Falou desaparecendo em seguida.
- Monstro. Ingrata, Traidora. Assassina. Egoísta. Mentirosa. Bruxa. - Cada um de seus amigos surgia e desaparecia em meio às sombras. As vozes se juntavam numa espiral medo e dor oprimindo-a. Lágrimas de culpa cortavam seus olhos enquanto ela via cada um daqueles que amava a desprezarem.
- Você é uma decepção. - Draco surgindo elegante, como sempre, em suas vestes bem cortadas envoltas em noite, a pele clara contrastava com a túnica ébano ricamente bordada, as calças escuras terminavam em botas pretas tão lustradas que reluziam. Ele estava completamente humano, não havia sinal das garras ou das penas. Os cabelos loiros quase prateados combinavam com os olhos cinzas tempestuosos, mas seu olhar era frio, cortante e cruel.
As palavras dele a feriram mais do que qualquer outra. Sim ela era uma decepção, tinha renegado a si mesma e se afastado de todos. Mentira para seus amigos. Era egoísta. Abandonara sua família e fora sua traição que resultara na morte de seu pai. Ela era uma assassina.
Era culpada de tudo isso, causara toda aquela destruição a sua volta. Merecia aquele sofrimento, o medo. Ela merecia. E o quer que habitasse a escuridão a sua volta deleitou-se com a constatação da jovem, Hermione podia sentir o prazer cruel das sombras. A dor dela era o prêmio.
Não havia ninguém para salvá-la, pois ela tinha afastado a todos. Não sobrará ninguém, ela estava sozinha no escuro eterno.

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The Curse
FanfictionEra uma vez, no interior da Inglaterra, um belo Lorde Bruxo que vivia em um lindo castelo. Mesmo possuindo tudo o que seu coração desejava, o jovem era egoísta e preconceituoso, principalmente com aqueles que não possuíam sangue mágico. Com o dinhei...