Gall.

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Draco colocou Hermione na cama entre os lençóis e estava pronto para passar a noite ao lado da garota quando o Bruxo mais velho o advertiu.

- Ela precisa lutar contra isso sozinha. - Falou sério. Draco relutou, mas ao se voltar para o Newt acenou concordando, os dois deixaram-na dormindo e foram se sentar perto da lareira do hall.

Pansy serviu um chá e depois voltou para a cozinha enquanto Theodore e Blaise permaneceram em silêncio em seus lugares no aparador. Draco observava as chamas, silencioso, quando ouviu a pergunta do mais velho.

- Ela não sabe que é sua companheira não é mesmo?

- Não.

- Por que não contou? Se me permite perguntar. Pois sei bastante sobre Veelas para ficar confuso com a sua decisão. - Continuou Newt enquanto apreciava o chá.

- Porque não quero prendê-la. - Suspirou. - Sei como ela se sente quanto a mim, me contento com sua amizade sabendo que ela terá os restos de seus dias para sorrir feliz e livre conhecer o mundo.

- Quanto tempo ainda lhe resta? Para os 21 anos e a maturidade?

- Um mês.

A conversa não continuou e por mais que o bruxo ancião se preocupasse com a decisão do outro não interferiria.

* * *

Cansada. Hermione estava tão cansada, sentia como se todas suas forças tivessem sido drenadas, mas não lembrava do por que sentia-se tão fraca.

A jovem abriu os olhos e piscou tentando acostumar-se com a pouca luz, não reconhecia onde estava e ao ergue-se tossiu com a poeira que se acumulava nos escombros de madeira a sua volta. Assim, a memória piscou em sua mente; uma porta trancada; um casamento indesejado; raiva e ódio incontrolável.

- Ele a trancou... - Uma voz sussurrou próxima ao seu ouvido assustando a jovem que virou-se tentando encontrar quem falava.

- Quem está ai?

- Você implorou e ele a trancou. - Falou novamente a voz.

- Apareça! - Exigiu assustada enquanto olhava entorno sem conseguir enxergar muito além dos escombros a sua volta.

- Ele devia protegê-la... - Continuou a voz fria vinda da escuridão que parecia se mover preguiçosamente. - Você o amava e ele a trancou... - Sussurrou tão próximo como se estivesse ao lado da garota, mas não havia ninguén ao lado de Hermione. Ela estava sozinha naquele quarto destruído e empoeirado.

- Quem? - Perguntou receosa.

A risada baixa e cruel dançou entorno da jovem, uma risada intima que fez calafrios subirem pelos braços da garota que se abraçou tentando aquecer-se inultimente, Hermione sentia tanto frio.

- Ora, você sabe quem, Hermione. Nós sabemos quem... Diga-me.

- Me-meu pai... - Gaguejou sem fôlego quando a compreensão a atingiu.

- Isso... - Aprovou a voz com deleite. - Você confiou nele e o que ele fez?

- Ele me trancou. - Disse, entre dentes, com raiva.

- Por quê? - Continuou e Hermione podia sentir a escuridão a sua volta, deslizando ao seu redor ansiosa.

- Ele queria que eu me casasse com Cormac! - Respondeu aumentando a voz. A revolta e indignação voltando a queimar-lhe o interior.

- E ele a trancou... E o que você fez?

- Implorei. - Sussurrou envergonhada com lágrimas amargas em seus olhos. Ela não queri chorar, sentia-se inútil, fraca e não queria derramar aquelas lágrimas.

- Não... - Respondeu a voz com sua risada cruel. Ali, no escuro, a garota sentiu a malícia antiga e fria quando o que quer que estivesse deslizando entorno de si, oculto nas sombras, voltou a falar. - O que Ele fez você fazer?

A cena ao seu redor mudou e ela viu a si mesma em frente do pai. "Não posso me casar com ele!" Sua voz soava tão frágil e quebrada. "...Pode e vai! Nem que eu tenha que arrastá-la para o altar!". " Não, papai eu imploro!". Hermione viu quando seu outro eu foi tomada pelo desespero ao olhar nos olhos duros e decidido do pai, com a certeza que ele a obrigaria. Obrigaria sua filha a se casar com aquele homem detestável, ter filhos dele. O horror e medo que sentiu por ser trancada foram substituídos por ira e revolta.

- Ele me fez implorar! - Gritou para a escuridão a sua volta, no mesmo momento em que a Hermione da memória rasgou-se em escuridão estilhaçando e destruiu a casa. Agora ela reconhecia o cômodo, ela tinha feito isso e como a primeira vez sentia ódio bruto queimando em seu interior junto com raiva, mas diferente de sentir remorso deleitado-se com a destruição.

- Sim... Ele a fez implorar! Ele a fez reprimir sua magia...

- Fez com que eu me odiasse! - Gritou enquanto a voz a sua frente ria.

- Sim... E você o odeia por isso... odeia a todos! - Sussurrou. - Posso dar-lhe o poder de quebrar todas as prisões que eles lhe impuseram.

E ela o queria. Queria o poder de causar o mesmo sofrimento que foi lhe imposto por tantos anos, a solidão sem o carinho da mãe, a proteção sufocante de um pai ferido e a humilhação de não conhecer sua própria natureza e de não saber usar sua própria magia. Ela queria que todos sentissem a dor que ela sentiu, a raiva e o sofrimento que a tinham estilhaçado. Ela queria despedaçá-los com o mesmo poder que tinha feito aquele quarto ser reduzido a ruínas e depois que eles fossem esquecidos como a poeira soprada pelo vento.

Quando Hermione sentiu o toque deslizar possessivamente por seu corpo não se assustou, não lutou quando dedos frios acariciaram suas bochechas, a testa, os ombros. Não lutou quando viu a si mesma com um sorriso cruel e olhos brancos como a morte, a analisando e circundando predatória. Mas se encolheu quando sentiu o beijo molhado na curva de seu pescoço e percebeu que o resto de suas forças eram drenadas pela criatura que tinha assumido sua forma. Assim que sentiu o toque daqueles lábios frios em sua pele Hermione se perdeu nas memórias que piscaram em sua mente, uma a uma ela viu cada momento de dor, abandono e revolta, memórias que faziam seu ódio e raiva queimar em fúria, era disso que a criatura se alimentava. E mesmo sabendo disso ela não se importou.

Por que importar-se em ser consumida pelo ódio? Eles a tinham feito assim! Ele, seu pai ao trancafiá-la; ele. Cormac ao vê-la como sua propriedade; eles, seus ditos amigos que esbanjavam magia quando a ela tinha sido negado o direito de estudar; e aqueles que queimaram sua mãe viva por puro preconceito. Era culpa deles e ela os odiava!

E assim Hermione não lutou quando seu outro eu deu um sorriso cruel e desfazer-se em escuridão. Não lutou quando o vento de areia negra a envolveu por inteiro a arrastando para as profundezas.


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