Draco sentiu quando a magia incontrolável e bruta cruzou sua fronteira. Primeiro invisível, surgiu destruindo uma das torres que colapsou, rapidamente sumiu para reaparecer como uma nuvem negra que se dobrava sobre si mesma e se chocou contra os arbustos do jardim, destruindo-os. Para em seguida, rapidamente, regredir e explodir desaparecendo de vez. Draco voou para o centro da última explosão e encontrou Hermione desacordada caída na neve. A garota tinha cortes por todo o corpo.
- Hermione! Diga alguma coisa. - Implorou assustado com o sangue que começava a manchar as roupas da morena.
Ela estava tão cansada, mal abriu os olhos. A jovem encarou o perfil do bruxo, o nariz elegante, os lábios sensuais, e os olhos profundos e tempestuosos marcados pelo medo e preocupação. Preocupação por ela. Hermione estava tão cansada que não teve forças para lutar quando as mãos fortes a seguraram, uma sob seus joelhos e outra a suas costas e a ergueram no ar, segurando-a contra o inconfundível corpo masculino forte e trabalhado. Voando, eles estavam voando e Hermione se odiou por se agarrar a ele, tão frágil e quebrada.
Ela acordou com a luz do sol no espaço aberto da grande sacada na ala oeste; nada além de céu limpo e neve ao seu redor. Draco estava sentado em uma poltrona diante do sofá no qual a jovem estava deitada, olhando pela janela, o rosto incomumente sério. Hermione engoliu em seco, e a cabeça dele se virou na direção dela. Não havia bondade em seus olhos, nada além de um ódio infinito e gélido, mas o Bruxo piscou e aquele ódio sumiu. Substituído talvez por alívio e exaustão.
Era a luz pálida do sol que aquecia seu rosto suavemente... Alvorecer. Já era pôr do sol ali... A garota não queria pensar em quanto tempo ficara inconsciente.
- O que aconteceu? - Perguntou. Sua garganta ardia como se tivesse gritado eternamente.
- Você estava gritando. - Respondeu Draco. Novamente, como se realmente pudesse ver sua cabeça, ler seus pensamentos e perguntas. - Também conseguiu dar um susto e tanto em todos quando se envolveu em escuridão.
- Eu machuquei alguém...
- Não. O que quer que tenha feito ficou contido a você. Destruiu um pouco do castelo e do jardim, mas não feriu ninguém.
- Quando eu voltar...
- Não tem nenhuma obrigação de voltar. - Falou Draco esfregando as têmporas. - A não ser que queira. - A questão caiu sobre ela como uma pedra pesada afundando rapidamente em um lago. Havia tanto silêncio em Hermione, tanto... Nada.
- Ele me trancou em casa. - Ela conseguiu dizer.
As asas poderosas se abriram atrás da cadeira de Draco. Mas o rosto estava calmo quando disse:
- Eu sei. Eu vi.
- Como? - Perguntou se obrigando a encará-lo de volta.
- Algo que qualquer bruxo bem treinado pode fazer. Legilimencia. E da mesma forma é preciso muito treinamento para aprender a proteger a mente.
- Você entrou na minha cabeça? - Perguntou, fraca de mais para ficar com raiva da violação.
- Eu precisava saber o que tinha acontecido. Você chegou envolta em escuridão destrutiva e quando a encontrei estava inconsciente e cheia de cortes. Não sabia mais o que fazer. - Justificou-se. Entretanto a garota não queria falar mais nisso, não agora.
- Não tenho para onde ir. - Sussurrou. Era uma pergunta e uma súplica.
- Fique aqui por quanto tempo quiser. Fique para sempre se tiver vontade.
- Eu... eu precisarei voltar em algum momento.
- É só dizer, e será feito. - Ele foi sincero. Mesmo quando ela conseguia ver a ira nos olhos de Draco, ele não gostava da ideia, mas ele a levaria de volta assim que pedisse. - Fiz uma oferta quando veio aqui pela primeira vez...
- Não vou voltar. - As palavras sangraram na jovem. - Não... não até resolver as coisas. - Falou afastando a parede de ódio, tristeza e puro desespero.
Um dia de cada vez, viveria um dia de cada vez. Talvez... talvez assim seu pai se desse conta, talvez assim ele se curasse daquele ferimento de medo pela morte da mãe. Talvez ela se curasse do que quer que tenha feito a si mesma. Não sabia, mas sabia que, se ficasse naquela casa, se fosse trancafiada mais uma vez... Se tivesse que se casar com Cormac ela se destruiria.
- Beba. - Falou o outro, gentil ao lhe passar a pequena xicarazinha que era James e só ai ela notou que Pansy estava com eles o tempo todo, silenciosa. Aceitou, deixando que o calor passasse para seus dedos rígidos e ao colocar um pouco de leite no chá, observou o claro se misturar ao escuro. O bruxo a observou até que ela tomasse um gole, e então, voltou a monitorar a floresta. Hermione tomou mais um gole: menta e... alcaçuz e outra erva ou tempero. Ela não voltaria.
- Por que está tão quente aqui quando o inverno está a toda lá fora? - Perguntou a primeira coisa que lhe veio à cabeça, temendo que o silêncio a levasse novamente para aquele inferno de nada, escuridão, medo e dor.
- Magia.
- Óbvio. - respondeu com um riso fraco e apoiou a colher no pires voltando a beber. Quase suspirou diante da fluidez do calor fumegante e sabor intenso. - Mas por quê?
-Você aquece uma casa no inverno, por que nós bruxos não deveríamos fazer o mesmo com este lugar também? - Falou se voltando para fora e observou o vento que fazia os flocos de neve dançarem.
- Eu aceito sua oferta... - Sussurrou sem olhar para o outro. - Aceito estudar e todo o resto. Eu só... Eu preciso fazer algo quanto a isso que está errado comigo, eu... - Não conseguia terminar, não sabia como.
- Descanse um dia ou dois, Hermione. - Disse ele. - Então, começamos a tarefa de descobrir todo o resto. - Você deve descansar.
Apesar de ter dormido bastante, ela ainda estava muito cansada... cansada até os ossos, até o coração destruído. Quando não respondeu, Draco se levantou e saiu andando por entre as pilastras de pedra esculpida.
- Já descansei o suficiente. - Argumentou, apoiando a caneca vazia e se levantando para ir atrás dele, não queria ficar sozinha, mas sentiu uma leve tontura. Quando tinha comido pela última vez? Não queria ficar sozinha. Não queria dormir e voltar para a escuridão de pesadelos. - Apenas... Por favor. - Odiou a última palavra, odiou implorar porque não tinha surtido efeito nenhum em seu pai. E Draco viu isso com a capacidade dele de entrar na cabeça dela, ele viu seu medo e se aproximou tocando-a levemente no rosto. Hermione se surpreendeu com como aquelas garras mortais podiam ser tão gentis e involuntariamente inclinou a cabeça contra o que seria a palma da mão dele.
- Ficarei ao seu lado o tempo todo... Agora durma. - Falou suave com a voz revestida em poder mágico e assim o sono a reivindicou, ágil, brutal e profundo.
Hermione acordou quatro horas depois, sem pesadelos, em seu quarto verde-água e dourado. Precisou de alguns minutos para se lembrar de onde estava, do que acontecera. Pelo menos, não estava mais cansada. Letárgica, mas não estava mais à beira de me sentir como se pudesse dormir para sempre. Virando o rosto viu Draco, sentado a seu lado, lendo "Romeu e Julieta" para ela. Ele não parou mesmo tendo notado que ela acordara. A voz dele era suave, profunda e aconchegante e fez algo no interior da garota se agitar vivo e alegre, tão diferente das últimas semanas que passara em sua casa.
- Pensei que detestasse romances? - Falou divertida.
- Não são os meus favoritos, mas detesto admitir que sejam os da minha agradável companheira. - A garota tentou não dar muita importância em como ele se referira a ela enquanto saia de baixo das cobertas macias. Ao pisava descalça no chão de madeira, sua pele clara em contraste com o piso marrom estava intacta, sem sinal de qualquer corte ou ferimento.
- Vamos jantar? - Perguntou o outro enquanto fechava o livro e estendia para ela que não conteve o pequeno sorriso. Ele ficou ao lado dela como prometera, ele não a deixou sozinha. E ela sorriu para isso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
The Curse
Fiksi PenggemarEra uma vez, no interior da Inglaterra, um belo Lorde Bruxo que vivia em um lindo castelo. Mesmo possuindo tudo o que seu coração desejava, o jovem era egoísta e preconceituoso, principalmente com aqueles que não possuíam sangue mágico. Com o dinhei...