8.2

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— Por que você estava encarando a minha tartaruga daquele jeito? — Alisha quis saber, ajeitando as costas contra o travesseiro antes de me encarar de volta.

Aquela pergunta era ótima pra uma primeira.

— Essa coisa me fez ter um déjà vu.

Seus olhos me mediram como se ela estivesse prestes a me estrangular.

— Não chame a Picles assim.

Picles?

Eu precisei lutar pra segurar o riso e, como consequência, seu olhar sobre mim se tornou ainda mais mortal. Acabei deixando escapar pela garganta um barulho esquisito que evidenciava meu esforço.

— O nome dela é Picles?

— Você acabou de perder uma pergunta —apontou, suas sobrancelhas se erguendo em provocação. Minha vontade de rir passou no mesmo instante.

— Não faz isso...

— Sim, o nome dela é Picles — ela fingiu me ignorar, olhando pra frente. — Coloquei esse nome assim que a ganhei, aos quatro anos. Eu era só uma criança, e ela tem exatamente o mesmo tom de verde de um picles.

É... ela tem. — Encarei a tartaruga de longe por um segundo. — Uma criança prodígio com uma ótima percepção das cores. Isso não me surpreende nem um pouco.

Apesar do sorrisinho visível que tomou o rosto de Alisha, aquela sua ponta de orgulho a impediu de me olhar de volta. Pelo menos naquele momento.

— Sua vez — lembrou.

Eu imitei seu sorriso, passando a encarar a parede vazia e sem graça à minha frente como a mesma também fazia. Apesar de ter recebido aquela resposta por uma falha, ela não era insignificante em nenhum sentido.

— Você sonha em viajar pra algum lugar? — perguntei, finalmente.

— Rússia.

Ok... Aquilo era inesperado.

— Não acredito que você quer ir pra um dos países mais frios do mundo.

— Quero ter a experiência de conhecer um dos países mais frios do mundo pra valorizar o que eu tenho aqui — sua voz soou confiante ao responder. Touché. — E você?

— Eu sempre quis viajar pra lugares demais. — Meus olhos se perderam por um segundo, como se aquela parede fosse distração suficiente naquele momento. — Mas tem um em especial que eu quero visitar desde criança. Talvez até morar.

— Você está me deixando curiosa com esse exagero de morar.

— Qual é... Todo mundo sempre sonhou em morar na Inglaterra — argumentei. — Aquela coisa toda com a rainha, o sotaque engraçado, os pontos turísticos...

Minha resposta pareceu bem convincente, já que os olhos dela se apertaram em entendimento antes de confessar:

— Tudo bem... Eu não posso discordar. Inclusive eu acho que lidaria com o frio que faz por lá com todo o prazer pelo simples fato de ser o frio da Inglaterra — ela disse, contendo um sorriso. — Ok, próxima. Como vai na univerdade?

— Ah... O de sempre.

— Você sabe o que eu penso de respostas não-autênticas. — Sua provocação me fez voltar a encarar seu perfil, mas ela não fez o mesmo. — Você me disse isso em todas as vezes que te perguntei sobre os estudos por telefone. Quero saber mais.

A Teoria das Cores [#2]Onde histórias criam vida. Descubra agora