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Eu era um idiota.
Enquanto Alisha me abraçava por trás durante a viagem de moto, eu só conseguia pensar em como tinha estragado tudo mais uma vez. Ou melhor: em como o meu medo de estragar tudo acabou fazendo com que eu estragasse tudo.
Quando parei o veículo em frente à casa de seus tios, ela afastou os braços de mim e desceu sem enrolação. Eu não sabia se devia descer também ou ir embora de uma vez, então apenas decidi esperar.
Alisha pareceu respirar fundo antes de segurar a alça da bolsa com as duas mãos e se virar pra mim sem dizer nada. Passei um longo tempo a observando à espera de qualquer mínimo sinal antes de finalmente ouví-la sugerir:
— Não podemos nos despedir direito se você não descer daí.
Precisei segurar o desejo de erguer o canto de minha boca em um sorriso antes de seguir seu conselho.
Enfiei minhas mãos nos bolsos do moletom que vestia enquanto analisava seu rosto à procura de qualquer sinal de ressentimento. Mas foi impossível não me perder naquela busca quando seus olhos me mediram com atenção e, devagar, seu rosto passou a se aproximar mais do meu.
Ah, droga...
Qualquer sinal de hesitação deixou minha mente no instante em que sua boca cobriu a minha. Quando nossas línguas entraram em contato, fiz com que meus dedos alcançassem seu pescoço enquanto seu corpo me dava sinais de que ela não se arrependia daquilo.
Com certeza não.
O beijo durou bem menos do que eu desejava. Mas quando seus lábios se afastaram e abri meus olhos para ver os dela, eu tive certeza de que não tinha estragado tudo.
Pelo menos até o momento em que seu rosto endureceu e, parecendo desapontada, ela soltou:
— Nós esquecemos seu presente. — Aquele detalhe me fez suspirar em frustração, mas ela segurou meus ombros em resposta. — Ei... Tudo bem. Seus avós disseram que eu já tenho passe livre pra te visitar, não é? Posso pegá-lo a qualquer momento.
Aquilo me deixou sem reação por um segundo.
— Então... está tudo bem?
— Não, não está tudo bem. E sua preocupação no café da manhã deixou isso bem claro — ela afirmou, segurando meu rosto entre suas mãos com cuidado. — Eu só quero que você saiba que pode confiar em mim, Benjamin. Eu estou aqui pra você.
Meu subconsciente gritava para que eu contasse todo e qualquer detalhe insignificante da minha vida àquela garota. Mas apesar de ser a pessoa que eu mais confiava no mundo, Alisha também era a que eu tinha mais medo de desapontar.
— Eu não mereço você — garanti, movendo a cabeça em negação. — Me desculpa por hoje, e... nós vamos conversar sobre isso. Eu prometo.
Seus olhos me mediram com satisfação enquanto ela assentia, sinalizando o fim da conversa ao voltar a se aproximar. Mas antes que nossas bocas se tocassem mais uma vez, o som da porta da casa ao nosso lado se abrindo fez com que encarássemos a responsável pela interrupção.
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A Teoria das Cores [#2]
RomanceSete meses. Apesar de estarem prontos para lidar com suas limitações, eles não imaginaram que tal processo poderia ser tão lento. Alisha estava perto de ter a vida que sempre desejou. A fragilidade emocional causada por eventos passados era quase nu...