Operação Princesa Escondida

Capítulo 10 | Quebrada como porcelana

Meses tinham se passado desde que eu saí de Ilha Branca, meses se passaram desde que eu vira Rei Charles II e Rainha Clair, meses se passaram desde que eu assumi minha nova identidade para me esconder dos Rebeldes e de sua ameaça de morte.

Apesar de toda essa aflição eu estava dividida entre servir à coroa ou renunciar meu cargo e viver como uma plebeia. Sim, eu estou, de fato, gostando de me iludir com a ideia de que sou uma colegial como qualquer outra, chamada Juliet Benson. Tenho amigos legais e uma família postiça mais legal ainda. Eu sinto falta da minha verdadeira família, mas queria que as coisas ocorressem de outra maneira.

É complicado, as pessoas dizem isso quando não tem uma explicação para algo, certo?

Ando muito confusa ultimamente, e os hormônios da juventude me torturam, Lia anda conversando muito comigo ultimamente, ela diz estar preocupada, não ando me alimentando tanto quanto antes. As coisas não fazem tanto sentido quanto faziam antes, essa é a verdade. Todo mundo parece estar a par de toda situação, menos eu. Isso me quebra como porcelana. Jake Will voltou a ficar obscuro com os seus segredos como antes. Tenho vontade de bater nele. Me sinto sozinha em meio a tanta gente. Me sinto sozinha, embora eu receba atenção.

Acho que é algo interior, algo mudou desde os acontecimentos dos últimos meses. Me sinto frustrada por não poder fazer nada além de me esconder como uma covarde e implorar para não morrer. Sinto saudades de poder ver minha mãe fazendo seus bordados, sinto saudades de ouvi-la cantar, sinto saudades da comida do papai, sinto saudades das histórias dos nossos antecessores, das histórias de amor que o papai contava de quando ele era jovem e conheceu minha mãe. Eu sinto saudades de poder abraçá-los e dizer "eu amo vocês". Sinto como se eu nunca mais fosse vê-los e isso machuca.

Meu porto seguro, atualmente, está sendo Sebastian. Ele sempre me ajuda quando eu preciso, me escuta e me abraça quando eu choro e falo sobre os tão famosos problemas da vida. Eu tenho muita vontade de contar toda a verdade a ele, porém jurei lealdade à coroa, no entanto sinto que devia. Ultimamente, Sebastian tem andado mais pensativo do que antes, sinto que ele quer me falar algo, mas não digo nada, nem o obrigo. Estamos tão próximos, meu coração salta só quando eu penso o tanto de passos que podemos dar nesse nosso relacionamento.

Basicamente, somos amigos que se beijam e saem juntos.

A ideia de pensar em um namoro me deixa estranhamente estranha. Eu quero isso mais que tudo, porém não quero iludir Sebastian com a ideia que podemos ser um casal de namorados como qualquer outro (na verdade eu já estou o iludindo).

Como diria Rainha Clair: "princesas não ficam de namoricos por aí".

Isto é fato.

Realmente, estou virando uma louca de pedra. As vezes tenho surtos noturnos que me impedem de dormir. Tenho falta de ar e calafrios por todo o corpo. Lia disse que tenho que tomar cuidado com isso, Jake Will acha que estou mais para lá do que para cá. Na primeira vez que tive essa espécie de ataque de Pânico, acabei acordando boa parte da casa e Jake Will entrou no quarto com uma frigideira achando que algum cara tinha invadido meu quarto e estava me fazendo algum mal. Quando ele soube que se tratava apenas de um mísero ataque de nervos, ele achou que eu estava, de fato, com um pé na cova. Jake Will um exagerado nato como sempre, há coisas que realmente não mudam.

E agora, olhando para Jake, vejo o quando o mesmo é doido, ele e Sebastian na verdade. Os dois estão fazendo uma competição de quem come sorvete mais rápido. E o resultado? Dois doidos com os cérebros congelados, gritando feito umas hienas. Mel gargalha sinistramente e sinto medo. É hilário a forma como eles se divertem com algo simples e aleatório.

Estamos no terraço de um prédio abandonado na R. Amaro. Já virou algo rotineiro para nós invadir prédios abandonados e cheios de teias de aranha. Eu aprendi a gostar de tal ato. Em Ilha Branca eu nunca poderia fazer uma coisa dessas, provavelmente eu ficaria de castigo por um mês e seria obrigada a ter o triplo de aulas de etiqueta durante a semana. Trágico.

- Hey, tudo bem? - falou Sebastian piscando seus olhos em minha direção. Ele sentou ao meu lado, Jake e Mel riam escandalosamente de alguma coisa, atrás de nós. Sebastian e eu estavamos sentados na beira da sacada do 12° andar, eu conseguia enxergar nossa casa dali e a Wilian Dicksonn. Era umas das melhores visões que eu já havia tido.

- Sim. - respondi somente, sem a menor vontade de responder, ouso falar. Eu não queria ter vindo, porém Jake Will fez chantagem sobre ter gastado 10 dólares com sorvete e quando eu disse que não iria, ele simplesmente me colocou sobre os ombros e me trouxe para cá.

- Não parece, tá todo mundo se divertindo e você aí, você sabe que pode contar comigo, não é, ruiva? Aconteceu algo? - falou e tomou a atitude de pegar uma de minhas mãos para acariciá-la.

- Não estou me sentindo muito bem hoje, deve ser uma espécie de bad passageira, isso é normal. - falei simples e lhe dei um beijo no canto da boca. Sorri. Eu tinha um garoto incrivelmente bonito e engraçado que realmente se preocupava comigo, e ele não era Jake Will. Não significa que estou menosprezando Jake. Minha vida toda só meus pais e Jake Will realmente se importavam comigo. Ter alguém que não tem nenhum vínculo familiar comigo, se importando comigo é de se admirar.

- Eu gosto tanto de você, sabia? - disse e me roubou um selinho.

- Verdade? - falei arqueando uma sobrancelha, meu rosto possuía um ar de riso.

Sebastian não falou nada, apenas balançou a cabeça com a expressão facial mais fofa possível.

- Aí eu gosto tanto de você sabia? - falou Jake Will numa tentativa falha de imitar Sebastian. Ele articulava tanto que meus olhos doíam.

- Verdade? - falou Mel me imitando.

- Vocês são terríveis. - disse Sebastian e revirou os olhos.

- Ai, vocês são terríveis. - provocou Jake.

- Eu declaro guerra! - berrou Sebastian jogando sorvete em Jake Will.

Isso foi o basta para o caos se instalar no edifício.