capítulo 27

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Camila viu a mensageira tatuada no outro extremo da sala. A garota foi direto ao balcão de devoluções fazendo bolas com o chiclete.

— Trocou de lugar — comentou.

— Sim — assentiu.

— Mas encontrei você do mesmo jeito — afirmou ela.

— Isso parece.

— Isto é para você. E preciso que assine.

Camila pegou a grande caixa preta envolta com um amplo laço de cetim branco e deixou-a no chão. Assinou a folha que a garota lhe entregou e esperou que ela partisse.

— Há algo mais? — perguntou Camila.

— Parece que tem que me dar algo para entregar a ele.

— Do que está falando?

— Não sei — respondeu a garota e fez estalar a bola tão forte que alguns visitantes da biblioteca olharam-nas. — O cara disse que quando abrisse a caixa entenderia.

— Oh, Senhor! Tem que sair. Não quero que minha chefe veja isto.

— Esse cara dá umas gorjetas muito boas. Não irei.

— Bem. — Camila suspirou, desatou o laço e abriu a caixa.

Dentro, sob uma nuvem de seda branca, encontrou uma reluzente bolsa preta Chanel de couro acolchoado, com o grande logotipo do duplo C de cada lado. As argolas douradas tinham couro onde deviam descansar no seu ombro. Havia uma nota presa a ele.

"Minha queridíssima C:

Feliz aniversário. Odeio chegar tarde, mas neste caso nós dois sabemos que não tive muita escolha. Espero que o presente te pareça útil. E como não desejo deixar isso ao acaso, dei instruções à pessoa que está entregando isso que recolha essa horrível bolsa de lona que usa e que me traga isso. Na Chanel me asseguraram que esta bolsa é mais que suficiente para carregar todos seus livros.

Dentro do bolso interior está sua chave do apartamento do Four Seasons. Sua roupa para esta noite e seu verdadeiro presente de aniversário estarão te esperando ali quando acabar de trabalhar.

Até então, L."

— Podemos ir mais rápido com isto? — pressionou a mensageira. Camila tinha esquecido que ela estava ali.

— OH, sim... — respondeu.

Pegou a desgastada bolsa OldNavy e esvaziou o conteúdo no chão, a seus pés, para que a garota não pudesse ver o que estava fazendo. Em seguida a entregou. Sentiu uma pontada de nostalgia por sua velha bolsa, embora sem dúvida não o merecesse.

— Isto é o que acredita que devo entregar? — perguntou a mensageira enquanto sustentava a bolsa como se pudesse ser infeccioso.

— Sim — respondeu Camila.— Isso.

***

Camila e Margaret encontraram uma mesa no Bryant Park, uma exuberante extensão de grama verde de trinta e seis quilômetros quadrados, com quiosques de comida, mesas e cadeiras, e inclusive um carrossel, tudo situado entre a Quinta e a Sexta Avenida, no limite oriental da biblioteca.

— Isto é tão maravilhoso. Por que não viemos comer aqui antes?— perguntou Camila.

Sem dúvida era maravilhoso e seria ainda mais se a cadeira de metal não lhe cravasse no seu ainda sensível traseiro.

— Antes era uma jóia. Agora está abarrotado de turistas por todas essas tolices. Festivais de cinema, semanas da moda... Tudo o que pode e não haver. Eu o considerava parte da biblioteca, mas agora não mais. Embora debaixo de todo este parque se encontram os arquivos subterrâneos.

— Arquivos da biblioteca? Não pode ser.

— Sim — assentiu Margaret enquanto abria a marmita com sua salada de frutas. — Começamos a ficar sem espaço nos anos oitenta, embora já tínhamos mudado muitas coleções a outros edifícios. Assim a solução foi criar milhares de metros quadrados de espaço para armazenagem por baixo do parque. Está conectado com a biblioteca através de um túnel de quase vinte metros de comprimento.

— Assombroso! — exclamou a garota, uma vez que olhava a seu redor. — E esse carrossel é tão encantador.

— Você acredita? Sigo sem poder me acostumar.

— É novo?

— Sim. Construíram-no faz dez anos. — Margaret entreabriu os olhos. — Um pingente interessante — comentou, enquanto contemplava o cadeado de Camila.

— Oh, obrigada — respondeu ao tempo que o tampava com a mão, inibida.

— Sloan tinha um igual — comentou a mulher.

Camila a olhou atônita. Quando foi capaz de voltar a falar, quase gaguejou.

— Nunca o vi.

— Faz muito tempo. Mas antes o levava sempre. Depois deixou de fazê-lo.

Ela demorou abrindo a garrafa de água com a cabeça encurvada, para que o cabelo ocultasse seu ardente rosto.

— Está bem? — interessou Margaret.

— Sim... faz calor aqui fora. Possivelmente comer atum não foi a melhor ideia. Sinto muito.

— Camila, me diga o que acontece.

Ela vacilou um momento, mas a dor que estava sentindo era muito grande para guardar para si mesmo.

— Estive... vendo alguém — disse devagar. Margaret assentiu encorajando. — E me deu de presente este pingente. Tem um significado para ele... para nós. Também conhece a Sloan e o fato de que ela usasse o mesmo pingente não pode ser uma coincidência.

— Sloan está comprometida e vai se casar. Está dizendo que acredita que ela também está saindo com seu amigo?

Essa ideia fez que revirasse o estômago.

— Não... agora não. Deus, não. Mas em algum momento no passado, possivelmente — levantou-se, sentia-se enjoada pelo calor, o repentino movimento e as espantosas imagens que estavam passando pela sua cabeça. — Tenho que falar com ele — decidiu.

— Camila, todo mundo tem um passado. Possivelmente seja difícil de compreender com a sua idade, mas tem que ver as coisas em perspectiva. Se é verdade.

— Está certo, talvez. Mas eu não deveria ser informada assim. Ele deveria ter me dito. Não é assim que se supõe que funcionam as relações? Falar sobre as coisas.

Margaret assentiu, reconhecendo que tinha razão.

— Mas Camila, se me permitir isso, se informe dos fatos antes de agir impulsionada pela emoção. Como mulheres, frequentemente esquecemos o quão importante é isso e logo fazemos e dizemos coisas das quais nos arrependemos.

— Se o que estou pensando é certo, e parece que é, a única coisa que me arrependerei é de me ter metido nesta situação, isso só para começar — replicou ela.

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