Uma garota com uma camiseta da Universidade de Nova Iorque e o cabelo pintado de vermelho entregou-lhe uma relação enorme de livros toda amassada.
— O que faço? Espero aqui?
A garota se inclinou sobre o balcão.
— Pode esperar numa das mesas até que saia seu número na placa. Então poderá pegar seus livros. — explicou-lhe.
Já estava acostumada a rotina do balcão de empréstimos: as primeiras horas da manhã eram tranquilas, o pico de atividade chegava à tarde e as últimas horas tinham um ritmo mais lento, quando as pessoas iam partindo para jantar; alguns retornariam e outros não.
Camila sabia que era feliz por passar os dias no que poderia dizer como o melhor lugar da cidade. E embora seu trabalho não precisasse de um grande desafio intelectual, contribuía com uma certa satisfação pessoal, entregar os livros aos usuários da biblioteca, que aguardavam com impaciência. Enquanto observava as filas e filas de gente inclinadas sobre livros e laptops, perguntava-se no que estariam trabalhando cada um deles. O próximo grande romance americano se escreveria naquela sala? Inventariam algo? Redescobriria a história?
Mas, às vezes, quando havia uma trégua, sentia-se inquieta.
— Por que não lê algo? — disse-lhe Alex, um estudante da Universidade de Nova Iorque magro e um pouco indecente, mas doce como um mascote, que trabalhava meio-período levando os livros das diversas salas ao balcão de empréstimos.
— Nos permitem ler aqui? — perguntou Camila.
— A mim ninguém nunca disse nada. — respondeu ele. — E você e eu sabemos que Sloan não perde nenhuma oportunidade de saltar no pescoço de qualquer um de nós. Assim eu diria que não há problema.
Camila pensou que possivelmente Alex e ela pudessem ser amigos, embora nunca tivesse tido nenhum amigo homem. Sua mãe sempre a advertia de que os meninos não podiam ser verdadeiros amigos de uma garota, porque só queriam uma coisa.
Mas Alex parecia sinceramente amável. Embora Camila sentisse que, de algum modo, tinha decepcionado-o quando lhe disse que gostava de seu corte de cabelo, tão Bettie Page, e ela tinha perguntado quem era Bettie Page.
Alex tinha olhado divertido, como se não estivesse seguro que ela falava a sério ou em brincadeira.
— Já sabe... A legendária pin-up. Uma de cabelo negro e franja curta.
Ela tinha assentido, embora não tinha nem ideia sobre quem ele estava falando. As pessoas lhe diziam às vezes que se parecia com tal garota de algum programa... Ou á Zooey Deschanel.
Tinha visto essa atriz numa comédia e, apesar de que podia haver certa semelhança no tom de pele, no corte de cabelo e inclusive nos traços faciais, na sua opinião, a extravagante agitação de Zooey Deschanel fazia qualquer comparação com ela resultasse absurda. Agora teria que procurar no Google essa tal Bettie Page.
— Será que a lanchonete já abriu? — perguntou Alex.
Desde seus primeiros dias de trabalho, há algumas semanas, os dois tinham tido o costume de sair juntos para comprar um hambúrguer ou um cachorro quente na lanchonete da esquina na Rua Quarenta e um. Mas hoje Camila tinha pensado em propor a Margaret que comessem juntas.
Subiu a escada sul até o quarto andar, que acomodava as primeiras edições, os manuscritos e as cartas e também a Sala de Reuniões. Depois de passar em frente a outra sala fechada, encontrou Margaret anotando uma pilha de livros num registro.
— Faz tudo isto à mão?
— Sim. Temos um especialista que introduz no computador. Eu não posso perder tempo com essas máquinas.
— Vim convidá-la para almoçarmos juntas. Trouxe comida e poderíamos nos sentar no exterior...
Margaret já estava negando com a cabeça.
— As terças-feiras eu não almoço. — respondeu. Camila não estava segura do que dizer. Margaret acrescentou: — Quando você fica mais velha, precisa comer e dormir menos. Você vai ver.
— Oh, está certo. Bom, até mais tarde então. Ah, aproveitando, o que há na Sala 402?
— A coleção Jauregui. É necessária uma permissão especial para visita-la. Nela há as primeiras edições de Virginia Woolf e Charles Dickens.
— Estava acostumada a percorrer toda a biblioteca uma vez por ano quando era menina, mas não me lembro dela.
— Construíram-na faz uns cinco anos. A família Jauregui doou vinte milhões de dólares. Foi quando reformaram toda a Sala Principal de Leitura. Recorda que permaneceu fechada mais de um ano?
Camila assentiu.
— Antes a Sala Jauregui ficava aberta. Eu passei algum tempo nela, mas não voltei lá, já que tem de pedir permissão.
— A quem temos de pedir permissão? Margaret encolheu os ombros.
Camila não era uma pessoa que ignorasse a autoridade, mas não entendia porque mantinham as obras ocultas dos visitantes. Fazia sentido que o público em geral não pudesse entrar nessa sala quando desejasse, mas sem dúvida não custaria nada ela dar uma olhada.
As portas escuras de bronze do salão tinham as palavras esculpidas “Sala Michael Jauregui” em letras douradas no umbral de mármore. Camila se aproximou com cautela e pensou que se as portas estivessem trancadas, o dilema que se devia ou não dar uma olhada ficaria resolvido. Apoiou a mão no trinco dourado e, depois de só alguns segundos de hesitação, empurrou para baixo. A porta não estava fechada com chave e abriu.
A primeira coisa que notou foi que a sala tinha um estilo muito mais simples que os outros salões da biblioteca. Era de estilo clássico inglês e as paredes estavam cobertas de livros do chão até o teto, guardados em estantes de madeira e vidro. No centro, havia uma longa mesa de madeira escura, quase como uma mesa de jantar, cercada por poltronas antigas estofas em couro vermelho.
Nesse momento se deu conta de que não estava sozinha.
De um canto da sala, um espaço escondido da entrada, ouvia-se um estranho som, quase um gemido. Quando Camila avançou, viu uma mulher nua inclinada sobre um banco de mármore, estava apoiada nos braços, com a cabeça encurvada e seu longo cabelo quase arrastando no chão. Atrás dela, um homem, também nu, agarrava-a pelos quadris e a investia com uma ferocidade tal que Camila chegou a se perguntar se o que ela estava vendo era uma mulher consumida pelo prazer ou pela dor.
Uma parte de si mesma, a parte prática e racional, sabia que deveria dar meia volta e sair de lá rapidamente, mas outra parte, uma que não compreendia, estava fascinada.
Com o coração desenfreado, deu-se conta rapidamente de que o que estava vendo, definitivamente, era uma cena de prazer. O ritmo constante dos dois corpos movendo-se juntos, os descontrolados gemidos da mulher e o brilho do suor, que Camila pôde distinguir inclusive daquela distância, em seus longos braços, refletia puro êxtase. Sabia que não devia estar ali e, como se punisse a si mesma pela infração, seu corpo a traiu com um ardente brilho de excitação entre as pernas.
Envergonhada, tentou desviar o olhar, mas em vez disso acabou fixando-o no rosto do homem e, para seu assombro, deu-se conta de que o conhecia. Aquele rebelde cabelo escuro, os olhos claros, as feições bem definidas... Era o que tinha pego a tampa de sua garrafa térmica na escada no seu primeiro dia de trabalho. E por seu sorriso quando seus olhos se encontraram, pareceu que ele também a reconheceu.
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A Bibliotecária
Hayran KurguCamila Cabello, uma brilhante rata de biblioteca, conseguiu seu emprego tão sonhado: bibliotecária na Biblioteca Pública de Nova Iorque. Mas o descobrimento das sórdidas aventuras sexuais de um jovem libertino milionário entre os santos corredores e...