capítulo 33

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A pista de dança — se é que podia chamar assim— era mais como um salão de uma decadente mansão, propriedade de uma família fabulosamente rica de gostos luxuosos e excêntricos. Se tivesse que descrever o ambiente com uma só palavra, poderia definir-se como "vitoriano", embora esse termo não seria muito preciso. A enorme sala tinha tetos com painéis, bordas vintage, descoloridos tapetes persas, uma enorme lareira e espécimes empalhados; acima de tudo aquilo, pendurava uma gigantesca bola de discoteca. Havia sofás de veludo dourados e marrons, antigas mesas de madeira, cadeiras estofadas de zebra, grandes plantas em vasos de barro, lustres e vitrôs que iam do teto ao chão, cobertos por cortinas de veludo.

E nessa cortina de fundo da descolorida glória cuidadosamente idealizada, homens e mulheres vestidos de gala se relacionavam e dançavam ao som de um DJ que tocava a canção do Edwyne Collins A girl like you.

Havia um camarote e Camila teve vontade de subir para ter um olhar panorâmico da sala.

Um homem se aproximou. Usava um traje de veludo vermelho, o cabelo preto penteado para trás e uma máscara em forma de bico.

— Participarão da caça ao tesouro à meia-noite? — perguntou. — Se lhes interessar, há uma folha de inscrição junto à cabine do DJ.

— Não, obrigado — respondeu Lawrence.

Camila gostava de caça ao tesouro e a idéia de que se fizesse uma a meia-noite, com um disfarce assim, pareceu-lhe fascinante.

— Está seguro de que não quer participar? — perguntou a Lawrence.

— Sim, é só um exercício para ajudar às pessoas a estabelecer vínculos e que assim possam passar a atividades mais... íntimas ao longo da noite. Nós não necessitamos disso.

A imagem de um homem com smoking seguido por outra pessoa a distraiu, era impossível saber se era homem ou mulher, que andava a quatro patas, coberta dos pés a cabeça com um traje preto de látex.

— Como pode alguém respirar com isso? — perguntou, estremecendo-se.

Parecia algo pouco natural e incômodo e resultou perturbador a ela.

— Estou seguro de que há buracos para o ar. Bom, não estou seguro. O látex não é o meu — ele comentou.

Apesar de que se esforçava ao máximo por não fazê-lo, Camila se encontrou seguindo com o olhar o estranho casal.

— Vamos subir — sugeriu Lawrence.

Ela o seguiu através de uma porta estofada em pele com incrustações de bronze. Pegaram um elevador até o segundo andar e percorreram um estreito corredor revestido de madeira. Como já tinham explicado, todas as portas dos quartos estavam totalmente abertas.

Camila olhou para o interior de uma e, imediatamente, desviou a olhar. A porta aberta revelou a uma mulher nua numa cama de solteiro, atada com um elaborado sistema de cordas que a mantinha deitada de barriga para baixo, com as mãos e os pés unidos e uma mordaça na boca. Tinha a bunda coberta de vergões vermelhos.

— Oh, Meu Deus! — exclamou Camila e agarrou a mão de Lawrence. — Acredita que ela está bem?

— É obvio que sim — ele assegurou.

— Alguém a deixou aí... — Essa imagem lhe resultou perturbadora, mas pensou que era uma espécie de representação, como uma das fotos bondage do livro de Bettie Page.

— Camila — disse Lawrence, — tenta lembrar onde está. E, acima de tudo, confia em mim.

Cruzaram com outro casal pelo corredor. A mulher ia vestida de branco, com um vestido que chegava até o chão. O homem vestia umas calças de smoking, sem camisa, e um colar de couro preso a uma corrente. Tinha as mãos à costas, claramente atadas, algemadas ou presas de algum modo. Embora os dois usassem máscara, havia algo vagamente familiar neles. Camila teve a clara impressão de que os tinha visto antes, que eram celebridades de algum tipo.

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