capítulo 16

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Lawrence jogou as chaves sobre uma mesa de vidro e pegou o guarda-chuva das mãos.

Apesar da chuva implacável, Camila estava totalmente seca, porque tinham estacionado o carro numa garagem que dava diretamente ao edifício. Pegaram o elevador até o último andar e a porta abriu diretamente num enorme apartamento que tinha umas janelas que iam do chão até o teto e que se podia ver o rio Hudson.

O espaço era grande o suficiente para deixa-la atordoada, mas, além disso, o interior era incrível, uma mistura espetacular de madeira e mármore escuro. Os quartos não contavam com muito móveis, mas os poucos móveis que havia se adaptavam perfeitamente, criando um efeito artístico. As paredes brancas estavam cheias de fotografias com molduras pretas.

— O que é tão importante que você tinha que me trazer aqui, em meio a este dilúvio? — perguntou.

— Você disse que estava desconfortável no trabalho. Assim aqui estamos. Sem mais desculpas — afirmou. — Eu vou tomar uma taça de vinho. Você quer? — perguntou, enquanto se dirigia à cozinha de mármore preto.

— Ok. — assentiu nervosa.

Aproximou-se da primeira parede de fotografias. Mesmo à distância, pôde ver que se tratava de fotografias de moda como as que tinham visto na revista de Carly. Eram mais refinadas do que o estilo bruto que tinha usado para as fotos instantâneas de Astrid Lindall, mas também nessas reconheceu muitas modelos que tinha visto nas capas de revistas, em fotos grandes e brilhantes nas janelas da Quinta Avenida e em anúncios nas laterais dos ônibus.

Caminhou devagar de um lado a outro da parede, detendo-se a cada passo para contemplar as imagens. Não entendia muito de fotografia, mas se sentiu atraída por elas a um nível visceral, do mesmo modo que poderia responder a alguma canção especial no rádio ou na página inicial de um grande romance.

— Não te trouxe para que veja essas. — disse Lawrence, que de repente estava atrás dela.

Camila se sobressaltou levemente, mas se recompôs. Ofereceu-lhe uma taça de vinho.

— Qual quer que eu veja? — interessou-se e tomou um gole.

— No jantar, eu disse que a fotografia de moda não é minha categoria favorita, lembra?

— Sim — respondeu.

Sentiu que seu corpo se encostava ao dela, embora seus braços e suas mãos não a tocavam. Isso foi suficiente para que o coração começasse a bater com força. Bebeu outro gole de vinho. Era suave e estava fresco e teve que lembrar a si mesma que devia bebê-lo devagar.

— Siga-me. — indicou-lhe em voz baixa.

Pegou a mão livre e a guiou para o fundo do apartamento. Segurou-a com firmeza e autoridade, algo que notava inclusive nesse simples contato. Camila desejou impor-se de algum modo, dizer, por exemplo, que não tinha terminado de olhar as fotografias no salão. Embora fosse consciente de que todos seus protestos seriam em vão. Ele sabia, e ela também, que a partir do momento em que foi ao seu apartamento, estava disposta a aceitar suas condições.

A sala de Lawrence descrevia um ângulo fechado, onde as paredes se estreitavam para criar um longo corredor. Guiou-a pela penumbra até que ele apertou um interruptor que iluminou o espaço e Camila se deu conta de que estava rodeada de fotos em preto e branco que ocupavam toda a parede, do chão até o teto, todas de mulheres com poucas roupa e extraordinariamente belas. Tinham os seios descobertos e algumas estavam completamente nuas. Usavam cinta-ligas, sapatos de salto, simples vestidos pretos abertos na frente. Sua pele era como a nata fresca, algumas com tatuagens, outras intactas como um manto de neve. Seus grandes olhos, muito maquiados, sedutores, sonolentos, lascivos, zangados, contavam-lhe milhares de histórias.

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