capítulo 24

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Pela manhã, o primeiro pensamento da Camila foi para o pingente. Suas mãos subiram ao pescoço, buscando-o, enquanto se perguntava se tinha sido um louco sonho erótico. Mas não, o pingente estava ali, sentiu seu peso sobre a clavícula e isso a reconfortou lembrava-lhe a realidade de que era escrava sexual de Lawrence: um símbolo de seu próprio desejo e de si mesma como objeto de desejo.

Era como se o mundo pudesse vê-la. Pela primeira vez, os homens a olhavam descaradamente quando caminhava pela rua. Não acreditava que tivesse um aspecto diferente, fisicamente falando; era mais como se pudessem perceber a paixão que fervia no seu interior, como se pudessem sentir a luxúria que a acompanhava por toda a parte.

Levantou-se da cama, com a euforia persistente da satisfação sexual. E então lembrou que era seu aniversário e que iria encontrar-se com a sua mãe.

***

Era quase meio-dia e levava horas ordenando alfabeticamente as devoluções quando foi interrompida pela visita de Margaret.

— Eu fui te buscar no balcão de empréstimos e me disseram que foi transferida para cá — comentou a mulher. Naquele dia, usava óculos com lentes tão grossas que seus olhos pareciam hipnotizados. — O que você fez para ser exilada assim?

Camila sorriu.

— Não sei por que, mas consegui obter o lado ruim de Sloan.— Margaret suspirou.

— Essa mulher é uma tirana. Você trouxe o almoço? Eu pensei que poderíamos nos sentar nas escadas. Hoje não faz muito calor.

Era verdade, seu aniversário tinha levado embora a primavera. O céu estava limpo e não havia umidade.

— Eu adoraria — disse com um sorriso.

Colocou a mão debaixo da mesa e pegou o sanduiche de geleia e manteiga que levava no saco de papel marrom. Quando se agachou, o cadeado lhe golpeou o pescoço. Usava-o escondido sob a blusa e quase esqueceu dele.

Encontraram um lugar no alto da escada. Camila levantou o rosto para o sol.

Pensou no primeiro dia que sentou nesse lugar, o primeiro dia que viu Lawrence. Se não fosse o jantar que teria com a sua mãe esta noite, quase seria feliz. Perguntou-se se ela já teria escolhido o cardápio quando a mulher começasse a fazê-la se sentir culpada.

— Quanto tempo mais terá que ficar no balcão de devoluções?— perguntou Margaret.

— Não sei — respondeu Camila enquanto desembrulhava o sanduiche.

Ela havia passado geleia e escorria do pão. A senhora balançou a cabeça.

— É uma pena que você chegou aqui numa época tão ruim. Posso ver que sente paixão por isso.

— Oh, é só a Sloan dando uma de chefinha. Não me preocupa. Posso esperar que passe.

Margaret negou com a cabeça enquanto pegava uma uva da salada de frutas que levava numa marmita de plástico.

— Não é só Sloan Caldwell, embora, em minha época, uma mulher como essa nunca teria levado o cassetete. Mas hoje em dia tudo que importa é o dinheiro. Todo o sistema se está vindo abaixo. Todas as bibliotecas estão perdendo financiamento e o apoio dos políticos, que não compreendem o que fazemos. Luisiana perdeu os recursos estatais. As bibliotecas estão fechando, corte de pessoal, diminuindo as horas. Nunca pensei que veria isto.

— O que quer dizer com que Sloan não estaria levando o cassetete?

— Ela não ganhou o posto. Seus pais estavam na comissão. Ainda hoje seguem fazendo grandes doações. Eles compraram-lhe o trabalho.

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