Capítulo 08

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Cheguei intrigado em casa. Como pode, os mesmo olhos? Tentei afastar esses pensamentos durante o banho.

Estou faminto e sem disposição pra cozinhar qualquer coisa, talvez eu merecesse uma comida diferente em algum lugar mais calmo. Mas não há lugar calmo quando sua mente te persegue, com dolorosas e alegres lembranças ao mesmo tempo.

Tudo em minha cabeça era melancólico e confuso. Eu não poderia explicar pra alguém o que eu sentia, a confusão que era. A saudade corroí, a dor nos leva a insanidade.

A sanidade é tanta que por um segundo, na noite passada, quase acreditei que Marie, de fato, poderia voltar. A saudade nos leva a loucura. Todos os dias era como se eu estivesse na beira de um precipício, prestes a pular.

O que me dava um pouco de descanso era os breves momentos de devaneio, que infelizmente hoje me deixaram. Talvez para me perseguir durante o dia.

Talvez a insanidade da saudade tenha feito eu imaginar que aquela garota tinha os olhos dela. Mas como poderia? Eu nunca havia visto essa garota... Essa Zoey. É muita loucura para uma mente cansada em eterno sofrimento.

Os pensamentos que tentei manter longe durante o banho me atingiram agora em que eu tentava decidir o que comer.

Desistir de sair e estava agora fazendo um macarrão instantâneo, não era muito saudável, mas era o que eu iria jantar por fim.

Enquanto esperava o macarrão ficar pronto, liguei a televisão e mudei rapidamente de canal. Estava passando um filme que eu não estava prestando atenção.

Foi quando aqueles olhos voltaram em minha mente. Aqueles cabelos escuros, aquela boca...

— É loucura! Você está louco!— Esbravejei comigo mesmo.

— Quem está louco? — Katy estava agora dentro de minha casa. Me olhado confusa.

Me recuperei.

— Como você entrou?—  foi tudo que consegui perguntar, enquanto passava ao lado dela para voltar a cozinha e pegar meu macarrão instantâneo.

— Chave extra. Marie deixou comigo há um tempo. —  Katharine por um momento pareceu tão longe.

— Ah sim, quer jantar? Tenho outro copo destes em algum desses armários.

Ofereci com educação. Katy e eu eramos próximos quando Marie era viva. Depois eu não consegui manter tanta conexão, era doloroso.

— Chama isso de jantar Keanu?— Ela riu. — Francamente, vamos sair. Sinto falta o meu amigo.

— Katy, você sabe que eu...— Ela não me permitiu completar

— Olha Keanu, eu também amava Marie, ela era minha irmã, minha confidente. Sofremos juntos a perda dela. Mas nós eramos amigos, além de cunhados, e passou-se muito tempo. Muito tempo mesmo. — Ela suspirou. — Eu sinto falta do meu amigo inteligente. Estou cansada dos amigos de trabalho.— Katy disse olhando para mim. — Por favor, Keanu.

O olho castanho que no dela eram os dois, me olhou com súplica, então eu cedi.

— Eu também sinto falta de sua amizade, Katharine. — Eu fui sincero. E essa foi a abertura que ela teve para me abraçar.

Deixei o Cup Noodles na bancada e retribui o gesto de carinho.

Após nos afastarmos, eu peguei novamente a chave do carro e um casaco. E fomos jantar, de verdade.

— Você conhece onde fica o tal restaurante novo?— Perguntou Katy, enquanto mudava a estação de rádio.

— Sim, conheço. Fui lá noite passada. —  Disse, por fim.

— Com alguém? —  Ela perguntou, apreensiva, mas com um pequeno sorriso nos lábios. Balancei a cabeça.

— Com muitos "alguéns", colegas de trabalho. —  disse, ela soltou o ar que prendia. — Marie ainda tem meu coração. E talvez permaneça assim pra sempre.

Katy olhou pra frente e parecia perdida em seu próprio mundo. Até que falou.

— Sabe, as vezes eu ainda sinto como se de alguma forma ela não tivesse partido. Sinto como se sentisse a alma dela por perto, em raros momentos.

A olhei, ela ainda estava perdida em pensamentos. Voltei a atenção para estrada e estacionei assim que chegamos no restaurante.

— Como agora... Sinto como se ela estivesse por perto.

Ela suspirou e virou para mim, em um sorriso desconcertante. Tentei retribuir da melhor forma que poderia.

É Katherine, sinto isso também, mas eu sei que é porque ela está em meu coração o tempo todo. E nunca se vai, eu não permito.

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