Capítulo 27

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Faltavam  poucos dias para a viagem a Auschwitz. Eu finalmente havia encontrado o meu passa porte, estava guardado em uma mala de viagem, quem deixa passa porte em uma mala? Eu era realmente bastante desleixado com algumas coisas, Marie bem dissera isso uma vez.

 Me arrependi amarguradamente por ter folheado o pequeno livro azul. Carimbos e mais carimbos de viagens que fiz com a Marie, lembranças da época que eu era realmente feliz invadiu a minha mente.

Lembranças felizes que agora me traziam dor, tristeza. Eu ainda não aprendi a lidar com isso. A saudade dela para mim não era bonita. 

Muitos dizem para focar nas lembranças boas que passamos com as pessoas e sermos gratos pelo tempo que pudemos passar com elas. Mas não dá. 

Eu ainda não havia superado e nem me conformado. Naquele ano, havíamos feitos vários planos, tínhamos planejado de ficarmos 'grávidos', era um sonho de Marie ser mãe, é claro que eu estava apavorado com a ideia.

Ter filhos não era uma coisa com o que eu sonhava, eu queria viajar mais. Tinha lugares que eu queria levar Marie, lugares que eu queria conhecer. Um filho adiaria tudo isso, sem contar também que éramos bastante atarefados, várias horas para cumprir na St.Andrews. Era algo que exigia uma enorme dedicação.

Isso era uma coisa que deveríamos decidir junto. Marie possuía um caderno de anotações, onde ela já sonhará com o nome do bebê que ainda nem existia. Todos os dias, ela me contava que havia pensado em um nome novo.

— O que você acha de William Charles? — Marie me perguntou, em um dia que estávamos presos em casas, devido uma forte tempestade. As aulas haviam sido canceladas.

— Eu apenas imagino um homem adulto.—  Disse em resposta. — Não poderia ser um nome mais jovial? Do tipo, Bryan? Ou algo assim.

Ela abriu um enorme sorriso. Pulando em meu colo.

— Isso quer dizer que você tem pensado no assunto de ficar grávido? —  Dei um sorriso. De fato eu havia pensado muito nesse tempo. Um filho com a mulher que eu amo não seria algo ruim, iriamos a jogos de beisebol, faríamos bagunça assistindo filmes de ação.

— É, talvez eu esteja interessado nessa ideia. —  Dei um beijo em seus lábios macios.  — Um garoto correndo por aqui, bagunçando todos os seus livros.

—E se for uma menina? — Ela perguntou, com um sorriso presunçoso.

— Não, seria um garoto. Um garoto forte. — Disse, contrariando ela. Isso a fez franzir o cenho.

— Keanu, não é algo que decidimos. Você só aceitaria se fosse um menino?! — Sua voz era zangada, lancei para ela um sorriso malicioso. A mesma tentou sair do meu colo mas eu a segurei.

— Não me importa se será uma mini Marie ou um rapazinho. O importante é ter um filho com a mulher que eu amo. — Nessa frase, eu tirei o sorriso mais lindo que eu já virá no rosto dela. Nem no dia do nosso casamento quando eu disse o "sim" ela havia dado um sorriso desses. 

—Mas —  Eu disse — Eu ainda preferiria que fosse um garoto. 

Deixei todas essas lembranças de lado e me concentrei em chegar em St.Andrews, por coincidência ou não do meu pequeno devaneio, estava chovendo. Não era uma tempestade igual ao daquela época.

Desci do carro e peguei um pouco de chuva, corri para a sala dos professores, o meu cabelo havia molhado um pouco e pingava sobre a minha camisa social branca. Nada demais.

— Bom dia Margareth. — Eu a cumprimentei e me arrependi assim que notei que a sala ainda estava vazia e ela me respondeu.

— Bom dia, que chuva, não? —  Disse, desabotoando um botão de sua camisa social, era um rosa claro. 

Apenas limpei a garganta e desviei o olhar. Não queria que ela interpretasse isso de forma errada.  Me concentrei nos meus papéis e em algumas anotações que fiz na noite anterior para a aula de hoje.

De repente, toda a sala foi tomada por várias vozes, assim como o diabo foge da cruz, eu sai da sala e fui para a minha sala. 

O sinal tocou, a sala toda foi tomada por alunos. Dei início a mais uma aula. Mas faltava um par de olhos nessa sala.

Hoje era o quarto dia que Zoey faltava, desde o último dia que estive com ela no jantar após o estágio. Ela simplesmente sumiu.

Eu estava curioso para saber o motivo de sua ausência, por mais que tivéssemos uma história de beijos e amizade, eu não podia simplesmente ir até o seu apartamento. Pra todos os defeitos, eu ainda era seu professor e deveria me mostrar profissional, certo? 

Eu não tinha a resposta para isso. Ultimamente eu não tinha resposta para nenhuma das minhas perguntas, a única coisa de que tinha por certo, era o sentimento que tinha por Zoey, o qual eu lutava todos os dias para tentar esquecer.

Mas com a relação de afeto que criamos nesse estágio estava simplesmente impossível. Era complicado negar a conexão que havia entre nós dois.

 Era complicado negar a conexão que havia entre nós dois

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