Capítulo 53

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As últimas semanas tinham sido de chuvas constantes, definitivamente havia chegado o inverno no Reino Unido. Já haviam se passado três semanas desde que Zoey começou a terapia regressiva com o Steven Stoucker, os resultados têm sido positivos, na última sessão, Zoey me contou que estava no corpo de Marie enquanto falávamos sobre ter um filho, naquele dia, eu não consegui manter minha postura, eu comecei a chorar nos braços dela e não consegui mais parar, Zoey também estava aos prantos comigo. Me doía recordar dos planos que havia feito com minha esposa.

Após aquele episódio, Zoey preparou uma lasanha e ficamos na inercia, assistindo filmes. Ali, com meus olhos inchados de tanto chorar, eu me vi casando com ela novamente e recriando todos os planos anteriores. É claro que no momento não seria possível, quem sabe após a formatura que seria no próximo ano. Cedo? Não, eu perdi tempo demais sofrendo pela perda dela. Eu poderia até encurtar isso se eu fosse lecionar em outra Universidade, era uma opção.

Claro que Zoey e eu estávamos levando nossa relação muito bem, ainda não colocamos um rótulo no que éramos e eu gostava disso. A gente se encontrava 'acidentalmente' em vários restaurantes e cafeterias, por sorte, nunca desconfiaram de nós. Eu agradecia mentalmente por morar em uma cidade grande. Eu gostava de estar com Zoey em público, mas eu preferia os momentos em que estávamos ou em minha casa ou no apartamento de Katy, conversando, assistindo, lendo ou apenas em silêncio. Nós nunca passávamos do limite, sempre que o clima tendia a esquentar nós parávamos, respirávamos e íamos fazer outra coisa. Com Zoey, eu me sentia um adolescente novamente, namorando na casa dos pais.

Hora ou outra, eu notará Zoey um pouco distante, mas eu entendia. Passar por toda a história de reencarnação não era algo fácil, suas dores de cabeça realmente pioraram assim como Steven disse que aconteceria, mas isso não me tranquilizava em nada.

Em um dos nossos encontros eu cheguei a pedir que ela suspendesse as sessões de terapia regressiva evolutiva, alegando que as pioras em suas dores de cabeça estavam me preocupando e que eu não via mais motivos de continuar com isso, já havíamos esclarecido todas as dúvidas. Infelizmente, Zoey não me deu ouvidos, ela queria continuar. Ela me disse que iria até o fim.

Hoje mais cedo, havia recebido uma ligação do meu irmão, Matheus. Ele queria me encontrar em um bar no centro da cidade, para colocar o papo em dia. Eu aceitei e agora, enquanto me olhava no espelho estava completamente arrependido. A chuva estava mais forte quando sai de casa. No rádio do carro, estava tocando um rock clássico, ouvi muito em minha juventude. Lembro-me vagamente de quando brigava com Marie por alguma bobagem, eu colocava Wind Of Change no último volume, deitava na cama e passava a noite remoendo minhas merdas. A chuva estava tão forte que atrapalhava minha visão no trânsito, se não fosse as luzes traseiras dos outros veículos era um acidente na certa. O para-brisa não parava de dançar, de um lado e do outro, ele fazia um bagulho um pouco irritante, o que me lembrava de ter que trocar a borrachinha.

Estacionei em frente ao bar com certa dificuldade. O lugar estava lotado, uma aglomeração de pessoas bebendo e falando alto, o ambiente cheirava a coma alcoólico. Aparentemente, não importava qual o clima, isso não era desculpa para faltar na bebedeira. Em meio aquela multidão, consegui ver meu irmão, sentado em uma das mesas paquerando a garçonete. Seus cabelos eram curtos e da mesma cor que o meu, castanho escuro.

—O galanteador de sempre, Matheus Davies!— O chamei a atenção.

—Olha só, se não é meu irmão mais velho! —Ele se levantou e me abraçou. —Achei que não fosse vir por conta da chuva.

—Eu não viria, mas faz tempo que não nos vemos.— Respondi, me sentando na mesa e já pedindo uma cerveja.

—Você parece bem, meu irmão. Disse, Matheus.

—Sim, estou mesmo bem. Não ficava sim há tantos anos.—
Sorri, tomando um gole da minha cerveja gelada. Me surpreendi com o sabor, tinha tempos que não bebia uma cerveja pura.

—Tem mulher na parada. Eu conheço você quando está apaixonadinho, é o mesmo sorriso quando me contou de Marie. Quem é ela, hein?— Matheus, sempre tão invasivo.

—De certo modo, continua sendo a Marie.— Essa resposta deu brecha a mais perguntas do que eu gostaria. De tanto insistir, acabei cedendo e contei tudo os acontecimentos, até o fato de que sou professor de Zoey.

—Irmão, você está completamente ferrado.

—E eu não sei disso, Matheus? Mas é mais forte do que nós.

Continuamos jogando conversa fora por algumas horas. Eu não sabia que havia sentindo tanta falta assim do meu irmão caçula. Eu precisava mesmo dessa escapada para ficar bebendo e jogando conversa fora, se não fosse por algumas coisas, por exemplo: Estar dirigindo e que amanhã haveria aula, eu poderia ficar até mais tarde.

—Agora é hora de ir. —Disse, me levantando.

—Já?!Temos muito pra falar ainda.— Matheus disse se levantando e jogando um braço por cima dos meus ombros. O bafo de álcool atingiu meu rosto.

—Amanhã eu trabalho.— Foi tudo que respondi, antes de ajudar Matheus a se sentar de volta na cadeira. Ele não estava mais em condição de andar por aí, era melhor eu levar ele embora comigo. —Chega de bebidas por hoje, vamos embora.

—Eu não quero ir agora! Exclamou Matheus, sua voz era confusa. —Vá você!

—Matheus, você não está em condição alguma de ficar sozinho aqui.— Respondi, tentando pega-lo pego braço.

—Eu não estou sozinho— Disse, apontando para a garçonete. —Me solta, porra!—Matheus se levantou tão rápido quanto a mão dele atingia meu olho esquerdo.

—Mas que porra! —Esbravejei, levando uma mão para o olho dolorido. Quando abri o olho que recebi o soco, minha visão estava embaçada. Com certeza ficaria um roxo amanhã. —O que pensa que está fazendo?— O segurei pelo camisa. —Olha o que você fez!— Gritei e o joguei sobre a mesa, seu rosto estava assustado, pessoas gritavam ao meu redor para parar, mas eu estava cego de ódio. —Nunca mais me ligue. Não quero olhar pra sua cara nunca mais!

Matheus era muito imaturo, não sabia beber. Me arrependi completamente de ter saído hoje pare encontra-lo, entrei no carro absurdamente enfurecido. Soquei o volante algumas vezes na expectativa de diminuir a fúria, eu queria voltar lá dentro e pagar com a mesma moeda. Maldito bom senso que me impedia. Fiquei algum tempo dentro do carro, esperando que minha raiva diminuísse e meu olho tivesse um pouco de foco.

Eu nem notei o caminho que fiz, eu estava dirigindo as cegas. Matheus havia agido feito um imbecil. Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi abrir a geladeira e tirar dela alguns cubos de gelo e um garrafa de Whisky, no copo, coloquei um pouco dos cubos e o liquido marrom. Em um guardanapo que estava no balcão eu pus o resto dos cubos de gelo e fiz uma espécie de bolsa de gelo e posicionei sobre o olho dolorido. Enquanto o liquido descia rasgando a garganta, mais a raiva ia passando. Fiquei com o pano no olho por alguns minutos até eu finalmente subir e me deitar na cama.

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