Capítulo 44

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Era incrível com um banho poderia revitalizar a gente. Vestia uma calça de moletom preta e me permiti ficar sem camisa, meu cabelo estava molhado mas os pingos de água que escorriam dele não estava me incomodando no momento. Desci as escadas e encontrei uma Katy se deliciando com vinho no balcão da cozinha.

—Nossa, minhas costas estão me matando.— Falei, ao me aproximar de onde ela estava e pegando uma taça vazia que logo se encheu do meu vinho favorito. 

—Precisa trocar o seu colchão.— Katy virou mais um gole de vinho. 

—Não durmo em casa faz quatro dias. Estava de viagem e  noite passada eu dormi em uma cadeira de hospital.— Disse, virando as costas e caminhado até o sofá. Assim que encostei as costas no macio todo o meu corpo agradeceu.

—Como assim no hospital?— Perguntou se sentando  ao meu lado no sofá, preenchendo a taça de mais vinho.

—Zoey teve um outro ataque, dessa vez no Aeroporto e precisei socorrer ela. —Disse, me virando para Katy —Fiquei lá com ela a noite toda e depois o dia todo.— Respondi, deixando escapar um sorriso com as lembranças da tarde, seu calor em meu peito.

—Você esteve com ela a tarde toda? Então tem algo acontecendo em vocês?— Me perguntou, arqueando uma sobrancelha.

—Acho que sim. Nós nos beijamos naquele dia do passeio e depois ela me beijou no escritório de um amigo...— Fui interrompido com um grito histérico de Katy.

—Vocês se beijaram?! E quando pretendia me contar?!

—Estou te contando agora, não estou?— Respondi com uma pergunta retórica. —Eu estive preocupado com o que fosse pensar, minha profissão torna tudo isso horrível.

—Não, não é horrível. Olha só pra você, Keanu. Parece vivo novamente, tem um brilho em você. E ela voltou pra você. Pra nós.—  Katherine não sabia, mas havia tirado um dos pesos enormes de minhas costas. Saber que ela, de todas as pessoas, estava apoiando essa insanidade, em certa forma era realmente libertador.

—Teve um momento no Hospital que ela disse que eu era o sonho dela.— Falei, deixando escapar um pequeno sorriso.

De repente, tudo se interligou. Ela não havia passado mal por conta do esforço da viagem ou por estar ansiosa com alguma coisa, ela havia se lembrado de mais alguma parte da vida de Marie. Pelo desespero, talvez tenha se recordado novamente do teatro, a dor no peito, com certeza por conta da dor que Marie deve ter sentindo com a bala perfurando seu coração.  Me levantei sobressaltado do sofá, passando as mãos pelo meu cabelo. Os flashes de memórias estavam desgastando a Zoey, este era o estopim para a sua doença.
E pelo fato dela me dizer que eu era seu sonho, talvez ela tenha me visto, o que pode ter mexido ainda mais com as emoções dela e piorado tudo. Era isso que eu sentia que ela estava me escondendo, talvez ela saiba que está vivendo mais uma vez.

Voltei meus olhos para Katy e retornei para o sofá, me virando de lado para poder encara-lá.

—Zoey tem uma doença psicossomática.— Katy me encarava confusa, percebendo que ela não estava entendo o que eu estava dizendo pus a me explicar, antes que parecesse um lunático. —Estava lendo um livro de um especialista que descobriu que pessoas que reencarnavam tendiam  a trazer com elas doenças que se deram por modo em como elas morreram na vida anterior. —Me lembrei do exemplo que estava no livro.— Quem morreu por asfixia, por exemplo, consequentemente possui problemas no sistema respiratório. Uma doença psicossomática.

— Eu entendi. Mas como sabe que ela sofre com isso?

— Lá no Hospital, foram feitos alguns exames e foi constatado que ela tem sopro no coração, eu não lembro direito como isso acontece, é algo sobre uma válvula defeituosa no sistema cardíaco. Ou seja, no coração. Marie morreu com um tiro no coração." Finalizei, soltando um ar que nem sabia que estava segurando.

— Isso é tudo muito louco, né? — Falou Katy, quase como um sussurro. Apenas balancei a cabeça em concordância. — O que faremos com toda essa informação? — Perguntou.

—Eu não faço a menor ideia. Minha vontade era contar tudo pra ela e levar ela para o altar novamente. Me casaria com sua irmã milhões de vezes.— Ela sorriu com minha afirmação, ela parecia longe. 

—Marie era realmente uma pessoa maravilhosa, de alma pura. Estou feliz que você tenha reconquistado ela, de verdade. Vocês merecem mais essa chance.— Respondeu, sorrindo. Seus olhos estavam molhados por lágrimas. — Quando vou poder me encontrar com ela novamente? Mas dessa vez, sem parecer uma idiota.

Eu ri, Katy ficará bastante chocada quando virá Zoey pela primeira vez. 

—Eu não sei. —Respondi sincero —Mas, vamos pensar em algum jeito.

—Só toma cuidado, nem todos vão entender esse lance de vocês. Você pode perder tudo, sabe disso, não é? — Sua voz agora estava bastante séria.

—Eu sei dos riscos disso. Mas é mais forte que eu. É difícil resistir.— Respondi, sorrindo.

— É, eu imagino. Sabia como você e Marie eram, tão, como posso dizer, conectados. — Disse, ela com uma voz carregada de malícia.

—Todas as noites. — Respondi no mesmo tom.

—Não quero saber da vida sexual que você tinha com minha irmã — Respondeu fazendo uma careta, mas logo levando uma mão ao queixo — Mas você não me disse o que aconteceu pra ter perdido as chaves.—  Relembrou ela, com um tom de voz mais debochado.

—Quando estava socorrendo Zoey, eu esqueci de tudo que me cercava, incluindo minha mala e minhas chaves estavam dentro delas, acabei deixando ela no Aeroporto. Por sorte, Margareth está com ela e vai me entregar amanhã.

— Quem é Margareth? — Perguntou intrigada.

—Uma colega de trabalho. — As lembranças da noite erótica com Margareth me atingiu. Tentando afastar ela, engoli mais vinho e mudei imediatamente de assunto.

Passamos mais algum tempo ali conversando e depois que Katy foi embora, eu subi para meus aposentos e dormi, calmo e sereno, o que não acontecia já algum tempo. Meu sonho, dessa vez tinha paz.
Estava caminhando com Zoey em rumo ao pôr do sol. A mistura do laranja com amarelo era lindo e Zoey parecia ter saído de um filme, sua beleza era surreal. Sua beleza deveria ser considerado um crime. O som da sua risada, inundava meu coração de alegria, eu gostava de fazê-la sorrir.

— Nós merecemos ser felizes de novo, Keanu. — Ela me dizia, parando de caminhar e se virando para mim, ela entrelaçou seus braços em volta do meu pescoço. — Devemos esquecer a dor.

— Do que está falando, Zoey? Vamos ser felizes e não há mais dor. — Seu rosto havia uma careta, seus olhos se fecharam com força e se abriram em questões de segundos, estavam agora marejados. Haviam lágrimas neles.

—Há dor sim, eu sinto dor, o tempo todo. —  Sussurrou. De repente, algo molhado estava na minha camisa. Algo vermelho. Era sangue. Zoey estava sangrando.

Não entendia a rapidez que um sonho bom poderia se tornar novamente um pesadelo.

Não entendia a rapidez que um sonho bom poderia se tornar novamente um pesadelo

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Nota da Autora

Olá, quanto tempo que não deixo uma nota por aqui, mas vamos lá.

No meu perfil, aqui no Wattpad, eu posto frases de William Shakespeare que fazem parte do enredo. São frases dicas do que vai acontecer na estória, se eu fosse vocês iria lá ver. ♥️

Além do Olhar [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora