Capítulo 66

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— E por quê, eu deveria ir com você? Em todos esses anos, você foi sozinho. Qual a diferença deste?!—  Disse Katherine aos berros na sala.

—Porque eu preciso de uma companhia sociável.— Respondi, levantando a taça de vinho e arqueando uma sobrancelha para ela.

Todo ano, em Dezembro, é tradição da St.Andrews, realizar um baile beneficente um dia antes da véspera de Natal, onde todos eram convidados a participar, e eu, havia convidado Katherine.

— Você não pode me deixar na mão. E desde quando interagir com as pessoas e comer de graça, não te agradou?

— Tem razão. Mas eu não vou te ajudar a servir mesas, ok? Apenas vou estar lá me divertindo. Quem sabe não encontro alguém bacana.

Dei de ombros.
—Desde que me acompanhe, por mim tudo bem.

Convencer Katy a vir comigo não fora tão difícil quanto pensei que seria, na verdade, foi bem fácil. Katherine era uma pessoa fácil de lidar e eu gostava muito disso, sem jogos e transparente, uma pessoa rara de se encontrar hoje em dia.

— Não podemos ir de mãos vazias, já que é um baile beneficente.—  Falou me encarando.

—Sim, minha cara Watson. Pisquei para ela.

—Pela sua positividade aposto que já pensou no que fazer.

—Sim, mas eu não lembro direito a receita...— Disse eu, jogando um verde.

O prato em que pensei é tradicional dos Natais aqui, minha mãe preparava sempre quando Matheus e eu éramos ainda crianças. No dia vinte e cinco de Dezembro, acordávamos cedo e íamos direto para a cozinha olhar a nossa mãe preparar o famoso Bife Wellington*. Era assim que ela chamava um bife envolta em uma massa folheada. Parece um prato fácil, simples de se fazer, mas não é. Em toda a minha vida, eu já havia tentado realizar esse prato em outras ocasiões, apenas pelo prazer de cozinhar e em todas em havia falhado, mas hoje, havia algo diferente, eu quase poderia me ver realizando esse feito.

— Ah, me conta outra, Keanu! Eu já disse, não vou te ajudar. Isso incluí cozinhar com você. Te vejo ás oito! É melhor que me busque! — Não pude deixar de rir com a agilidade de Katherine para fugir de mim.

—Até as oito.— Bebi o último gole de vinho que havia em minha taça depois que Katy saiu.

Horas haviam se passado quando finalmente consegui a montagem do Bife Wellington, jamais havia me esforçado tanto para a construção de um prato. Após quinze minutos no freezer, eu o retirei,e orgulhoso, coloquei em cima da bancada da cozinha. 'Agora falta pouco', falei comigo mesmo.

Removi o plástico filme de sobre a massa, e com uma faca pequena, aparei as arestas da massa para que ficasse o formato correto de um pão recheado. Apanhei uma tigela limpa, e nela, abri dois ovos, separando as gemas na tigela. Com um pincel culinário, eu pincelei a massa com as gemas dos ovos. Usando as costas de uma faca, eu enfeitei a massa com riscos verticais, para que a massa ficasse com a aparência de uma baguete francesa. Já com o forno pré aquecido, eu coloquei a forma no forno. Se esse prato chegasse pelo menos ao nível de minha mãe, eu me sentiria um homem realizado.

Com o bife no forno, eu poderia tomar um banho. Subi as escadas, em direção ao meu quarto. Ao me olhar no espelho, eu cai em gargalhada. Meu cabelo e meu rosto estavam cobertos de farinha de trigo, meu suéter vermelho, também estava branco de farinha, eu estava parecendo uma criança que acabara de aprontar na cozinha. Bem, não deixava de ser, eu acabara de ter me aventurado na cozinha.

O bom dos invernos eram os banhos quentes, o vapor invadia o banheiro de uma forma aconchegante, não me dava vontade alguma de sair de lá, mas eu precisava. Arrependido eu fiquei quando o ar gelado do quarto me tomou, eu poderia ter aproveitado o clima caloroso do banheiro por mais alguns instantes.

Além do Olhar [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora