Capítulo Final

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Meu Pudinzinho retornou de madrugada. Eu já dormia, graças a exaustão de cuidar de um bebê. Porém, o mesmo me acordou.

— Arlequina! — Me beliscou.

— Ei! Não faça isso, meu pudim. — Gritei assutada, tocando a região que ficara vermelha.

— É melhor você me ouvir.

— O que houve?

— É sobre a Belle. — Falou sério.

— Deve ser bem sério mesmo, afinal, você falou o nome dela pela primeira vez. — Soltei uma risadinha. E levantei-me cobrindo meu corpo com um lençol.

— Não precisa cobrir sua nudez. Logo para mim. — Sorriu malicioso.

— Fale logo, Pudinzinho! — Falei preocupada.

— Tem uma mulher a procura dela. — Seu olhar era vazio.

— Acha que se ela descobrir onde ela está, essa mulher vai tirá-la de mim? — Senti uma lágrima tola descer por meu rosto, e meu sorriso murchando.

— Tudo indica que sim.

— Precisamos acabar com ela! — Falei histérica. — Que morte você recomenda? Rápida ou torturante?

— Por quê vamos matá-la? Ela é a mãe.

— Por quê está apoiando essa mulher?

— Óbvio. Não quero te dividir com uma bebê. — Gritou.

Meus cabelos arrepiaram. Ele apertou meu pescoço, senti o ar faltando aos poucos. Ele queria me ver desmaiada. Era claro que ele queria levar a minha Belle embora, e inventara a mentira de que uma suposta mãe estivesse à sua procura. Ele não gostava da minha pequena.

No outro dia, acordo com a visão turva, algo de estranho está no ambiente. Uma mesa enorme e várias pessoas ao redor. Não pode ser! Meu Coringa leiolando minha Belle? Ou é uma mesa de jogos?

Belle está no centro da mesa, cercada por bandidos ridículos e assassinos frios e perturbadores.

Não posso deixar que a levem embora. Vão fazer coisas horríveis com minha bebê, não vou deixar.

Procuro o Coringa ao redor, mas não o vejo. Onde estará meu Coringa?

— Surpresa! — Aquela voz falou nos meus ouvidos. — Está me procurando docinho? — Ele coloca a mão em minha boca. — Não sente o quão bom vai ser isso aqui? — Apontou ao redor.

— Você não pode deixar que algum desses malucos a levem! — Digo apavorada.

— Não percebe que nós dois não passamos de dois loucos? — Riu ironicamente. — Olhe para mim, sou o bandido mais procurado de toda Gotham City. Você era uma psicóloga, seus medos e loucuras borbulhavam ao seu redor, mas bastou eu aparecer na sua vida para você perceber o quão louca é. Somos dois loucos, vivendo um sentimento louco, o qual não podemos classificá-lo como amor, pois seria loucura!

Minhas lágrimas embaçam minha visão, mesmo assim eu o vejo, aquele sorriso cruel de um psicopata malandro.

— Por favor, não a tire de mim! — Imploro de joelhos.

Ele me encara, como se eu fosse uma submissa, ou uma cadelinha adestrada.

— Querida, ela não passa de uma praga. — Seu sorriso assutador dá as caras.

Ele dá passos em direção à mesa de jogos. Eu ofego. Levanto-me cambaleando. Reviro uma gaveta da cozinha e acho o que procuro, minha pistola. Me dirijo até a sala de estar, olhos intensos me espreitam, são os de Belle. Ela está me reconhecendo, meu coração bate acelerado.

Ergo a arma e atiro no teto. Todos me encaram, amedrontados.

— O que está fazendo Arlequina? — Coringa grita furioso.

— Só protegendo o que é meu. — Pego Belle da mesa e continuo com a arma apontada. — É melhor ninguém se mover.

Olho desapontada para meu Pudinzinho. Ele tem o mesmo olhar sedento por fúria, sua boca entreaberta mostrando os dentes afiados.

— Nem um passo. — Ameaço e saio com minha bebê.

Corro como nunca corri na vida com Belle, sinto que estão me seguindo. Passo por um beco estreito, pisando em poças de água e avançando pelas ruas.

Quando vejo que estou sem saída, bato numa porta. Uma mulher aparece, ela usa um vestido dos anos 80 e um coque bem ajustado.

— Por favor, deixe-me entrar. Querem matar minha bebê. — Olho para Belle que está chorando baixinho.

A mulher assustada, assente.

Respiro de alívio ao estarmos seguras naquela residência.

— Obrigada. Por nos proteger.

— Não precisa agradecer. — Sorri docimente. — Mas não entendo o por quê de quererem matar sua filha?

— O pai dela, está louco. — Falo me lembrando do olhar frio do meu Pudinzinho.

— Ele usa drogas?

— Das mais loucas. — Respondo com um sorriso nos lábios. — Mas o problema é que ele não aceita a filha de jeito nenhum.

— Sinto muito.

Descobri que a mulher se chama Mary, ela vive sozinha desde que o marido faleceu no ano passado, vítima de febre amarela. Ela é perfeita para cuidar da minha Belle. Sorrio só de pensar em Belle sendo bem cuidada numa casa boa e com uma ótima mãe.

Quando chega à noite, estou deitada com Belle ao meu lado. Ela dormindo é lindo de se ver. Beijo sua bochecha e a acaricio com a mão. Como sentirei saudades dessa minha lindinha. A abraço e sinto sua respiração perto de mim.

— Como é lindo ver mãe e filha assim. — Mary entrou no quarto com uma coberta. — Aqui, é para vocês. — Sorriu.

— Obrigada, por tudo. — Digo e ela assenti. — Mary, se por um acaso eu fosse precisar de que você ficasse com a Belle por um tempo para mim, você cuidaria dela?

— Sim. Sou sozinha. Uma companhia é sempre bem-vinda.

Sorrio.

Depois que todas as luzes da casa se apagaram, eu sabia que era chegada a hora. Beijei a testa de Belle.

— Eu sei que é loucura. Mas eu te amo. — Sorrio. — Minha Belle.

Levantei-me e abri a porta, achei uma caneta num canto da sala de estar. Como não tinha papel, tive que escrever na parede um pequeno bilhete. Espero que ela não surte ha ha ha.

Fui embora dali, um pouco sem rumo, mas muito melhor por ter deixado a menina em segurança.

A Filha da ArlequinaOnde histórias criam vida. Descubra agora