11.O Reino dos Naturais, Mirnagard

3 0 0
                                    

Symon

Eu conhecia muito bem a minha amiga, a ponto de vigia-la logo após aquelas descobertas nada confortadoras sobre o destino dela e ao mesmo tempo me reunia com todos sem o consentimento dela para decidir o que fazer. Claro, nessas horas, Mathew estava com ela, afinal de contas, ela não ia deixa-lo inconsciente e fugir para Anemida, não era do seu feitio atacar crianças. Então ela não fez nada.

Um dia, quando já estávamos com todos os suprimentos reunidos e fazíamos outra reunião sobre o que fazer em Anemida, nos interrompemos com o som da porta sendo aberta com tudo:

- Espera! Não é bem assim, eles só pensam no seu bem! – Mathew grita desesperando entrando correndo atrás de uma Adélia enfurecida

- Ele contou... aquele irmãozinho linguarudo – Jenna diz cerrando os punhos

- Contou, ele me contou do plano horroroso de vocês me vigiarem para eu não ir sozinha para Anemida. Já passou pela cabecinha de vocês que se eu for sozinha é bem menos provável alguém morrer por minha causa?

- E você? Já passou nessa sua cabecinha dura o como as pessoas que se preocupam com você vão se preocupar e enlouquecer de preocupação, pensando no que raios está acontecendo com você sozinha naquele mundo em plena guerra e com um império te caçando? – devolvo ela no mesmo tom

Sua resposta foi bufar resignada, bater o pé e se virar indo elevador acima, nesse momento Jenna e eu notamos o que ela ia fazer e imediatamente pegamos nossas mochilas, correndo atrás dela.

Como suspeitávamos, ela abriu o portal e estava partindo naquele momento, então sem pensar duas vezes pulo no portal e começo a me sentir enjoado e tonto, enquanto atravessava-o atrás dela.

Quando achei que não aguentaria mais, caio aliviado no chão e escuto mais três quedas atrás de mim e em seguida a água pingando, significando que o portal foi fechado.

- E vocês me seguiram mesmo. – Adélia diz com um meio sorriso

- Claro, sua cabeça dura. Não vou te deixar me abandonar de novo. – digo tentando controlar a ânsia de vomito

- Relaxa, só vão se sentir enjoados nas primeiras vezes que atravessam um portal, porque seus corpos não estão acostumados a atravessar um enorme campo de magia – ela explica tentando não rir

Ao que parecia eu não era o único se sentindo mal, ao olhar para trás vejo Jenna e Gabry na mesma situação. Vendo-a de olhos arregalados sigo a direção em que olhava e arregalo também os meus.
- Bem-vindos a Mirnagard! - Mathew diz aparentemente se recuperando primeiro
- O que faz aqui mocinho? - Jenna diz subindo uma oitava
- Acham que eu não sabia que viriam para casa? Não sou trouxa, mana. Eu já sabia antes mesmo de vocês que Adélia viria para cá! - ele responde com um sorriso convencido
- Espera! Casa? - Jenna diz olhando ao redor pela primeira vez
- Espera aí! Se você está aqui, quem está olhando minha irmã? - pergunto já entrando em pânico
- Na verdade... o Mathew e eu deixamos um trunfo para os outros...dois na verdade... - Gabry tenta dizer meio encabulado
- O que ele quer dizer é que eu usei minha magia em um de seus inventos, num bracelete mecânico que permite ao dono falar com os animais e também num walktolk que permite comunicação entre dimensões - Mathew explica orgulhoso
Gabry simplesmente assentiu acrescentando termos técnicos que nunca entendi, mas pelo canto do olho noto que Jenna estava admirada com ele e logo ao notar estar sendo observado ele fica encabulado.
Só então me dou conta de que Adélia não estava entre nós e começo a procura - lá desesperado.
Quando ela pousa entre nós com tudo, todos param o que estavam falando encarando- a surpresos. Seu anel brilhava em verde e estava zonza, então a apoiei sobre um olhar crítico, ela havia feito de novo.
Ela me devolve o olhar com um dispensar de mãos, significando que ela estava bem e lhe devolvo um riso irônico de "sei", obrigando a se sentar em uma raiz enorme.
Precisamos novamente explicar o que havia acontecido agora a pouco e tanto ela quanto não gostamos nem um pouco.
Jenna estava prestes a começar outra discussão na hora, mas Adélia a interrompe dizendo que precisávamos nos apresar já que o centro de magia ficava a três dias de onde estávamos, passando pela cidade natal deles e pelo pântano. Dando fim ao assunto.
Conforme andávamos mais íngreme ficava a floresta, as raízes aumentavam mais de densidade, nos obrigando a escalar algumas delas e pular outras. Estava também ficando mais escuro, já que as folhas das copas das árvores ficavam mais densas, já era praticamente impossível ver o céu azul, mas o clima era mais úmido do que quente.
Gabry observava tudo atentamente tomando notas num caderninho e só então noto o porquê, pinheiros de um verde ocre andavam lado a lado com araucárias e cipreste, além de amoreiras, macieiras e laranjeiras.¹
Os saltos de Jenna sempre se prendiam em alguma raiz ou na terra mas ela nem pareceu se importar, Mathew começou a ser rodeado por esquilos, Gabry no intervalo das notas tentava arranjar sinal para o celular inutilmente e Adélia, bem... estava impassível.
Jenna e Mathew iam na frente animados por estarem em casa alheios a admiração de nós "turistas".
Se achávamos que a paisagem ao redor era impressionante ficamos ainda mais maravilhados quando atravessamos o arco formado por dois pinheiros entrelaçados, misteriosamente parecendo ser um fruto da própria natureza e não do homem. Só então noto que finalmente havíamos chegado.
A cidade era incomum, por todos os lados se viam arvores, as casa ficavam no topo delas, uma pequena horta se encontrava aos arredores das casas, no chão só se encontrava grama e bem no meio da cidade, ou melhor, bosque circular, havia um lago enorme.
Aproximando - se das árvores notava - se placas com nomes inscritos bem fixos nos troncos. Uma delas, estava escrito Grinlif, foi dessa que nos aproximamos.
Jenna sorriu ao vê-la e fez um sinal para nos aproximarmos mais, pega sua varinha do cinto do vestido jeans e toca-a no tronco. Este imediatamente range, afundando e abrindo uma porta em arco.
- Vamos subir? - ela diz já entrando na abertura
- Subir como? Não tem escadas. - Gabry diz entrando logo em seguida
- A natureza nos leva - ela diz com uma sorriso presunçoso
Como se a obedecendo o tronco se fecha atrás de Adélia e ao tocarem as palmas das mãos no tronco (Jenna e Mathew), assim adquirindo um brilho verde e marrom respectivamente, que se espalha ao redor do tronco inteiro, sinto o chão tremer e então sinto um solavanco e estávamos subindo até chegar a um buraco circular no teto. Este dava numa sala para ser razoável.
As paredes eram verdes, cheias de fotografia de família, recortes de animais e medalhas de honra a esquerda (uma parede delas, para ser mais exato). Tinha um conjunto de sofás marrons formando meia lua a um metro do buraco/porta de entrada, no meio deles tinha uma mesa de centro em estilo vitoriano com molduras de mais fotos em família e uma almofada em baixo, provavelmente para algum animal de estimação.
As janelas em forma de arco eram rodeadas de vários tipos de flores crescendo para formar uma moldura, uma gaiola dourada jazia na sombra da janela e estava aberta.
Uma porta se encontrava aberta perto da parede de medalhas e era de madeira parecendo o próprio tronco, levando para uma ponte de madeira que levava para outra casa e um corredor jazia perto da janela da gaiola. Jenna e Mathew entraram lá animados, enquanto olhávamos a sala com mais atenção.
Adélia estava olhando um retrato que estava na mesa de centro, enquanto eu olhava curioso as flores da janela e Gabry olhava as medalhas de honra, quando de repente sinto algo espetar a nuca e só então noto meu melhor amigo me encarando empalidecido.
- Quem são vocês? Como entraram na minha casa? - pergunta uma voz feminina enfurecida
- Vocês são do Império? - pergunta outra voz feminina enfurecida, dessa vez parecia mais velha
- Não, nós...
- Mãe! Vovó! - Jenna e Mathew dizem reaparecendo do corredor
Sinto a pressão sumir e ao me virar me deparo com uma cena emocionante de um abraço de família enorme e bem apertado. As duas mulheres os afastam depois de um tempo para olha-los melhor, provar a si mesmas que eram eles. Depois de contentes com as comprovações, olharam-os questionadoras e depois nos encaram. Eles entendem imediatamente o recado.
A mulher mais jovem que havia espetado as varinhas na minha nuca, era alta com os mesmos olhos e cabelos dos filhos, usava botas marrons de cano curto, um vestido florido verde longo e um avental marrom. Era a mãe deles, Amélia Margaret Grenlif.
A outra mulher que era mais velha, era um pouco mais baixa, com cabelos brancos presos em um coque, se vestia de forma parecida a Amélia, só diferenciavam as cores e um pouquinho nos estilos, já que está se vestia de uma forma um pouco mais liberal. Parecia ameaçadora, segurando um taco de beisebol. Era a avó deles, artesã e curandeira da cidade, Gertrudes Grenlif.
O clima no ar ficou menos tempo depois das apresentações e esclarecimentos sobre os maus entendidos. O que claro, gerou vários pedidos de desculpas por parte delas, dirigidas principalmente para mim.
Nós claro, dispensamos essas desculpas, já que a entendíamos completamente, elas haviam achado que éramos soldados do Império que conseguiram entrar em sua casa.
Esperançosas, perguntaram quanto tempo ficaríamos e se Jenna e Mathew iam ficar em casa, mas estes respondem que não. Iam com Adélia, comigo e Gabry aonde fossemos.
- Melhor irmos agora, não queremos chamar atenção indesejada. - Adélia diz olhando através da janela, desconfiada sempre
- Chamar atenção do que? De quem? - Gertrudes diz franzindo a testa
- Algo está nos seguindo desde que voltamos e não parece ter boas intenções. Se sairmos agora e corrermos talvez cheguemos ao centro ao centro ainda hoje e se tivermos sorte conseguiremos despista-lo. - ela diz agora nos encarando um por um
- Ah..., mas já? Que centro é esse, afinal?
- O centro do reino, vovó! - diz Jenna animada e leva um chute de seu irmãozinho, e balançava a cabeça em desaprovação
- O que vocês farão lá? Se posso saber. - a senhora pergunta já desconfiada
- Isso já não podemos dizer. Se quer mesmo saber... vai ter que fazer um juramento comigo, mas não vai se lembrar toda vez que tentar contar sobre o que falamos. - Adélia diz já olhando irritada para a melhor amiga
- Ok... esquece que eu perguntei - a senhora diz desistindo frustrada
Quando pensamos que finalmente poderíamos ir embora, fomos interceptados de novo. Dessa vez pela mãe dos irmãos da natureza, está ao contrário da mãe era bem mais teimosa e não nos deixava sair sem responder a suas perguntas.
Perguntas que mostravam que ela não sabia nadinha sobre a origem da magia do próprio reino.
Adélia finalmente já estava perdendo a paciência e acabou falando para onde íamos, ficando emburrada imediatamente.
- A Árvore Milenar - escuto Gertrudes murmurar para si mesma
- Vamos logo, antes que quem quer que esteja nos seguindo resolva atacar a casa. - Adélia diz já na porta
- Esperem! Antes de partirem... Gostaria de lhes entregar presentes! - Gertrudes grita
Adélia contrariada acabou se sentando enquanto as duas mulheres adentravam o corredor e voltavam com mantas e cobertores. Agradecemos, mas antes que dissemos mais algo somos interrompidos pela discussão mãe e filha.
Amélia estava contrariada com a filha fazendo caminhadas com aquele salto agulha de 9cm, era completamente insano e Jenna rebatia que dizendo que a mãe não tinha que lhe dar palpites de moda e sobrevivência. Elas discutiam aumentando a tonalidade de voz, mas passados cinco minutos assim, Amélia finalmente vence e Jenna coloca as botas de salto bem baixo.
Ela estava contrariada, mas se anima rapidinho ao ganhar frascos com poções de sua avó. Mathew também ganhou uma mochila de suprimentos a contragosto de Amélia, que dizia que ele estava rã novo demais para essa empreitada e que deveria ficar em casa. Ele ficou frustrado, mas é salvo pela avó que diz que deveriam deixa-lo ir está varam aproveitar sua juventude.
Gertrudes até nos disse para nosso alívio que existia um atalho para a Árvore Milenar e que iria nos levar lá.
As duas nos levaram para a árvore mais alta e grossa da cidade, onde ficava o palácio do governo. Em suas raízes ficava uma passagem subterrânea, por onde passamos a meu contragosto.
Por uma hora andamos nesse túnel, o tempo todo eu colocava na cabeça que o túnel ia desabar sobre nossas cabeças e tentava controlar a respiração para parecer o mais normal possível.
Eu nunca admiti para ninguém e nunca vou admitir, mas eu tenho medo do subterrâneo de ficar preso em baixo da terra de novo como aconteceu a quatro anos atrás em uma excursão escolar.
Respire fundo, respire fundo e não olhe para cima, olhe para frente sempre, imagine que está em um corredor normal. - esses eram meus únicos pensamentos o caminho todo
A esfera mágica de Adélia era a única luz que tínhamos durante todo esse tempo e acabei me focando nela para não perceber ao meu redor. Os quatro surpresos estavam o caminho todo a bombardeando com perguntas, por várias vezes a pequena esfera brilhante piscou e pipocou, mas nunca apagou. De acordo com o que falaram nenhum feiticeiro nem que tenha 20 anos de experiência conseguiria criar uma esfera de luz tão brilhante como a de Adélia, eles no máximo conseguiriam aguentar vinte minutos sofridos do feitiço e Adélia a fazia como se fosse sua respiração.
Ela só é salva demais perguntas por que finalmente vemos a luz no final do túnel. Nunca me senti tão aliviado na vida e pelo canto do olho noto que Adélia também estava contente por finalmente podermos sair daquele túnel, mas no caso dela eu tinha a leve sensação que ela estava mais aliviada por se livrar do interrogatório.
Assim que sai, fiquei de boca aberta com a esplêndida beleza do lugar, que ao contrário da Caverna da Coragem era mil vezes mais bonito, parecia um imenso jardim de tantas flores que tinha por perto.
Um trono de madeira se encontrava recostado numa árvore gigantesca, maior até que o céu parecia. Atrás dele se encontrava um símbolo.


Inconsciente já estava caminhando pelo local admirado.
- Symon, abaixe - se! - ouço Adélia gritar
Como se no automático obedeço, me jogo no chão e vejo que por pouco não sou atingido por uma raiz violenta. Seguindo o caminho da raiz vejo a bruxa do concurso (ela realmente ficou feia!) e ao seu lado se encontrava um ser enorme meio humanoide, meio felídeo, era monstruoso e assustador. Ele tinha quase dois metros e meio, olhos completamente negros e uma boca cheia de presas. Seus pelos completamente marrons pareciam um tronco.
- Eu disse maga do fogo, você ia pagar pelo que me fez! - a bruxa diz com um sorriso diabólico




¹Tanto Symon quanto Gabry ficam surpresos porque teoricamente essas arvores nunca iriam ser encontradas juntas devido a diferença de clima e tipo de solo em que são plantados.

LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora