22.Legado

1 0 0
                                    

Adélia
Quatro dias, é esse o tempo que eu estou presa aqui.
A última coisa que recordava era da armadilha na casa de Symon, depois veio a dor e a escuridão.
Quando acordei estava morrendo de dor de cabeça, meu pescoço doía muito, estava tudo muito escuro e por algum estranho motivo não conseguia sentir minhas mãos direito.
- Lumina! - digo estalando os dedos e uma explosão de luz acontece
Foi muito rápido, mas foi o suficiente para me situar, eu estou acorrentada na parede do que deveria ser a parede de mérito da sala do diretor Mealches.
A sala estava diferente: as portas de vidro para a sacada que outrora eram cobertas por cortinas transparentes agora usava cortinas pretas e pesadas, o local de descanso de Zely (parceira dele, que é uma águia) também sumiu e em seu lugar estava uma almofada mal cheirosa, os quadros das paredes que retratavam criaturas mitológicas, agora retratavam o próprio Akador e o tapete antes colorido de lã de ovelha, agora era de pelos de lobo.
A mesa outrora arrumada estava com papéis espalhados de qualquer jeito e o pior fato, foi que tiraram o meu anel e a minha luva.
Preciso respirar bem fundo para não transmitir minha frustração e estalo os dedos formando uma chama branco prateado, tenho que colocar toda a minha concentração para não fazer outra explosão. Estou suando frio com o esforço, mas consigo controla-la, então constato que eu estava certa, estou em Skyrdholp e para piorar minha situação, minha bolsa, anel e luva estavam em cima da mesa.
Estou desconfortável nessa posição, os braços estavam presos acima da cabeça e a chama esquentava para baixo atraída pelo metal do grilhão.
Quando sinto um vento diferente e desagradável, apago imediatamente a chama e a porta se abre.
A tortura começa, virou rotina até. Ele pergunta como desarmar a barreira da minha bolsa que eu nem fazia idéia que existia e apanho ao responder.
Então agora, estou meio quebrada tentando aguentar o calor das chamas que estou aplicando para tentar me soltar dessa parede, mas paro imediatamente assim que sinto o ar mudar de novo.
Era Akador vindo me obrigar a dizer algo sobre essa maldita barreira, me forçar a comer algo que vou vomitar logo em seguida por ser vegetariana e ele me obrigar a comer carne ou só para vir me vigiar.
Ele se aproxima, segurando meu rosto e eu cuspo nele como tenho feito todos os dias, desde que acordei aqui.
- Estou vendo que ainda não vai colaborar comigo. - ele diz limpando o rosto com a manga da blusa marrom
- Colaborar com o que? Eu nem sei de onde saiu essa barreira. Nem sei o que você quer comigo, achei que me queriam morta para conseguirem o Starlink.
- Você não sabe de nada mesmo, não é?... - ele diz se aproximando de novo
- Do que? O que eu não sei? - digo começando a ficar com medo
- Você vai descobrir logo, logo. Mas até lá é melhor me dizer como desarmar essa barreira ou vou matar alguém próximo a você. - ele diz sombrio segurando meu queixo de novo
- Você não se atreveria...
- Claro que vou, todos os professores dessa escola estão nas masmorras e até você me dizer algo, vou matar cada um deles. - ele diz se aproximando mais e eu o chuto para longe
Imediatamente minhas feridas começam a doer, principalmente as queimaduras nos punhos que eu tentava arduamente esconder com magia natural.
- Mentira! Você matou todos, não tem como alguém como você ter deixado eles vivos. - digo me debatendo e tentando não gritar de dor
- Acha que eu sou louco? Para que eu ia mata-los? Matar Mealches seria tentador, mas não sou louco de fazer essa magnífica fortaleza ir pelos ares. Pelo menos não até ele me passar o direito de propriedade. - ele diz com aquele sorriso maléfico
- Ele está vivo?!
- Sim...
- Você nunca vai conseguir esse direito, ele é por linhagem. É passado de geração a geração... - digo triunfante
- E ele não tem filhos. - ele diz suspirando frustrado
Nesse exato momento, a porta se abre e seu sorriso muda de frustrado para vitorioso. Sinto calafrios ao reconhecer o homem moribundo e ferido trazido, era Mealches.
- Então pronto para me passar o direito? Ou prefere que sua filha de consideração pague pelo seu egoísmo? - ele diz encarando-o maliciosamente
Mealches não responde, se levanta com dignidade, mas seu olhar dirigido para mim é de desculpas. Tenho vontade de chorar ao vê-lo, mas não o faço, sou forte o suficiente para não o fazer na frente desse monstro.
Akador por outro lado, suspira frustrado e sai da sala nos deixando a sós.
Tenho vontade de abraça-lo, mas na minha situação atual era impossível e meu desconfiometro me dizia para ficar atenta, já que poderia muito bem não ser ele ali na minha frente.
- Me prove que você é você. - digo em élfico
Ele me encara confuso, mas depois de um tempo uma luz alaranjada sai de suas mãos e envolve a sala inteira e logo em seguida ele encosta a mão na parede e uma passagem se abre de frente para mim. Nem presto atenção enquanto ele tenta me libertar, estava concentrada na sensação que sentia vindo da passagem recém-aberta.
Estou mortificada, era realmente ele e ele era um mago esse tempo todo. Não conseguia acreditar nisso, mas não havia nenhuma varinha ou dom a vista.
- Como você sabia? Da ravina do vento, digo. O que mais está escondendo de mim? De todos? - digo em meio a lágrimas de frustração
- Eu sempre soube, mas sempre preciso esconder quem sou realmente para que algo assim nunca aconteça. - ele diz frustrado com sua sorte em me tirar dali
- Senti sua falta, sabia? Quando você me mandou aquela mensagem senti que meu mundo acabou. Para onde eu iria? Eu queria gritar com você sobre isso, mas te obedeci e não voltei, agora eu quem digo que você tem que ir. - digo tentando parar de chorar
- Eu também senti sua falta, mas não precisa ficar no meu lugar. - ele diz me encarando sério
- Sabe que eu estou certa. Somente nós dois não é o suficiente para recuperar a nossa Skyrdholp, você precisa achar Symon e os outros e chamar reforços... eu vou ficar bem. Enquanto você estiver vivo tudo ficará bem. - digo tentando não chorar e dar o sorriso mais convincente da minha vida
Ele protesta e tenta novamente me soltar, mas acaba por suspirar frustrado sabendo que estou certa e some passagem afora fechando-a logo em seguida, mas não antes de dizer que não ia me abandonar ali.
Quando a porta abre minutos depois tento parecer o mais triste possível, mas na verdade me sinto o completo oposto disso.
Akador não gostou nadinha disso e começou a descontar sua raiva em mim, só parou de me bater quando se acalmou.
- Sabe... acho que um de vocês mentiu para mim. Até agora não me entra na cabeça como ele fugiu. - ele diz dando mais um soco em mim
Pela posição do sol que eu estava observando através das cortinas pretas, devem ter se passado duas horas que ele estava me batendo e duas e meia desde a fuga de Mealches.
Ele foi repetindo todo o processo ao longo dos dias, três se não contei errado. Dessa vez acrescentou a pergunta de como Mealches escapou, mas sempre dou a mesma resposta.
Em um desses dias, ele se interrompe quando um de seus soldados adentra a sala para avisar de problemas e sai correndo irado, batendo a porta atrás de si.
Aproveito a minha chance e concentro com toda a força de vontade na chama mais quente que eu conseguia, reprimindo um grito de dor e logo em seguida a água mais fria.
Dessa vez escuto o estalo e o grilhão se parte, me libertando completamente.
Imediatamente desabo no chão com força e preciso de toda a minha força de vontade para não desmaiar por causa das feridas.

LegadoOnde histórias criam vida. Descubra agora