Symon
Eu estava à beira da loucura, como se quer tive a coragem de deixar minha irmãzinha sozinha? Como pude se quer ter a idéia de arrastá-la para uma guerra em outra dimensão?
Eu não sabia, não sabia o que fazer e por isso não parava de andar de um lado para o outro no gramado da frente da casa de Adélia. Os outros simplesmente estavam contando sobre as fantásticas aventuras que tivemos para Valder e Aby que encarava-os admirados e Adélia... bem, estava meditando.
Eu estava frustrado, não obtivemos nenhuma informação relativa nessa uma semana investigando e olha que eu e Gabry tivemos que voltar a escola só para passar por um interrogatório incessante por parte dos nossos colegas e professores sobre o nosso desaparecimento de quase seis meses.
Como ensaiamos várias vezes, dissemos que estávamos viajando para ajudar um primo meu de centésimo grau recém descoberto. Ele estava com problemas na sua pesquisa e eu e Gabry nos oferecemos para ajudar.
Se eles acreditaram? Por incrível que pareça, sim acreditaram e depois disso voltamos a faltar e agora não parava de andar de um lado para o outro, preocupado
- Para com isso, Symon. Estou enlouquecendo. - Adélia grita me fazendo parar
- O que você quer que eu faça? Quero saber o que aconteceu com a minha irmã!- Isso eu sei! Mas não é motivo para... - ela diz me encarando séria - Não, Symon! Essa não é a solução. - ela completa depois de aparentemente me ler
- Mas é a solução, vou ter que ir para casa falar com o meu pai.
- Não é, acredite em mim. Ele só está fazendo isso para te ter de volta.
- E se você estiver errada... e se ele simplesmente fizer algo a ela para se vingar de mim?
- Se ela estiver errada, ele nunca vai notar. Estará ocupado com a festa de caridade de hoje. - Valder diz se intrometendo na nossa discussão
Encarei-o sem reação achando que não passava de uma de suas brincadeiras. A final de contas, duas palavras que nunca combinaram e nunca vão combinar são caridade e meu pai, mas aparentemente era verdade. Meu pai ia dar uma festa de caridade e isso elevava ao máximo meu alertômetro de problemas.
Discutimos por mais duas horas sobre os prós e contras de ir a minha casa investigar durante essa festa de caridade, mas acabamos por decidir ir.
Claro todo o cuidado era pouco, então o tempo inteiro ninguém ia ficar sozinho e iriamos nos dividir pela festa para não chamarmos tanta atenção. Então aqui estamos em frente à casa de Adélia esperando as garotas se aprontarem.
Eu estava tão impaciente que assim que o tronco da árvore se abre, levo um susto enorme e fico de boca aberta quando vejo o como Adélia estava diferente.
Ela estava usando um vestido prateado bem colado no corpete, que se tornava folgado e solto a partir na cintura e a sua saia ia até a altura dos joelhos, era aberto nos ombros, com um decote bem discreto. Estava usando as botas de saltinho da Jenna e luvas sociais brancas. Os cabelos estavam soltos e bem cacheadinhos e usava maquiagem bem leve. Estava mais do que na cara que as outras duas a obrigaram a usar aquela roupa, Adélia claramente não estava gostando disso.
Ah, eu havia me esquecido de dizer, era uma festa de gala. De caridade, sim, mas de gala. Agora sim fazia sentido.
- Symon, vai entrar uma mosca se você não fechar essa boca. O que você está olhando? - Adélia diz claramente desconfortável
- Realmente, você impressionou, Marion. - Samuel diz sarcástico
- Foi o máximo que conseguimos fazer com essa teimosa. Ela até nos expulsou do quarto para trocar as botas, não aceitou nem um salto e nada. - Jenna diz com toda a sua indignação
- Não e ponto final, eu nem queria usar essa roupa e como vocês me obrigaram por ser uma festa de gala, a minha condição é somente as botas. - Adélia bufa indignada cruzando os braços
De começo, eu pisco os olhos e esfrego-os com força não acreditando no que estava vendo, mas realmente estava ali. As marcas de garras no braço direito dela haviam sumido.
Devo estar com uma cara de retardado porque logo Marion, Jenna e Samuel começam a rir de mim e logo me explicam entre risadas que ela estava com maquiagem camufladora no braço, afinal de contas de acordo com elas, uma garota com uma cicatriz feia no braço chama atenção indesejada e não é isso que queríamos.
Todos estavam bem arrumados, com exceção de Gabry e eu, já que ambos escolheram usar roupas não tão sociais assim e conforme andávamos pelas ruas da cidade, eu notava como as pessoas nos olhavam e não gostava.
Entrar na festa foi pior ainda, não demorou nem 10 minutos e as pessoas já sabiam quem eu era. Se continuasse assim eu realmente iria ter que enfrentar meu pai e eu não queria.
Estou prestes a sair dali para não chamar mais atenção, mas sinto Adélia segurar minha mão e sou arrastado para um corredor vazio e sem câmeras.
- Symon, você quis isso. Então vamos até o fim. - ela diz me lançando um sorriso travesso
- O que você.... - digo confuso e sou surpreendido quando do nada sinto um formigamento pelo corpo
Eu já havia sentido isso antes e ao olhar o espelho do corredor constatei o óbvio, estávamos invisíveis.
Sorrio satisfeito e começamos a busca naquele corredor mesmo, abrimos porta por porta, mas nada.
Por várias vezes, Adélia reclamava bem baixinho do vestido e eu tive vontade de rir, mas me contive para não chamar sua atenção.
Quando estávamos para verificar a vigésima oitava porta, Adélia me para e me arrasta para uma porta qualquer deixando uma pequena fresta por onde observamos o corredor.
- Será que pode nos dizer para onde está nos levando? Fizemos algo de errado? A saída não era do lado oposto?- Marion diz enquanto Samuel lutava contra guardas que nunca vi na vida
- Estranho... muito estranho. - ouço Adélia balbuciar
- O que?
- Esses guardas... Eles são magos. - Adélia me reponde franzindo o cenho
- Magos? Isso explica o porquê eu não os reconheço, mas o que meu pai tem a ver com magos? A existência de vocês não deveria ser segredo?
- Tecnicamente sim. Acho que seu pai está envolvido em mais coisa do que imaginávamos - Adélia diz observando desconfortável enquanto nossos amigos sumiam pelo corredor
Resolvemos seguir pelo lado oposto, dando de cara com a porta do porão. Imediatamente trocamos olhares sabendo que aqui provavelmente acharíamos algo e entramos, descendo as escadas às escuras.
Conforme descíamos mais eu notava o desconforto de Adélia com o vestido, mas não fiz nada, o que eu poderia fazer?
Quando chegamos ao final dela, imediatamente nos escoramos a parede ao ouvir vozes reclamando: guardas e dentro de uma cela... estava minha irmãzinha! Espera desde quando tem celas nessa casa?
Percebo que ela estava muito tranquila com a situação, estava lendo um livro de fantasia e conversava tranquilamente com os guardas. O que estava acontecendo aqui?
Em determinado momento, ela acaba por mandar os guardas pegarem algo para ela e eles somem escada acima.
Aproveitamos a nossa deixa e Adélia nos deixa visíveis.
- Symon! Não acredito, você veio mesmo. E quem é ela? - minha irmã diz surpresa ao nos ver.
- Essa é a Adélia. O que está acontecendo aqui? Desde quando temos celas no porão? - pergunto enquanto tento abrir a cela
- Desde que papai conheceu aquele homem. Eu finalmente havia achado que ia receber a atenção total dele e então... o sujeito surge e lá se vai toda a minha atenção. - ela bufa cruzando os braços
- Você não muda nunca mesmo. E porque essa fechadura não abre? - digo frustrado com o meu fracasso
- Afaste-se Symon. - Adélia diz apontando a varinha para a fechadura
Observando melhor, noto que ela estava usando as roupas normais dela, não o vestido de antes, mas não questiono. Ela poderia muito bem ter encantado as roupas. E por falar em encantar...
Observo a fechadura assim que o feitiço de Adélia se dissipa e... nada.
Ela xinga, dizendo algo sobre fechadura encantada e se aproxima para ver melhor, mas assim que me aproximo também, tudo fica escuro e não consigo me mexer direito. Estávamos enredados, sério isso?
- Symon! - escuto minha irmãzinha gritar
- Symon, sai de cima de mim. Você pesa, sabia? - Adélia protesta abaixo de mim
- Desculpe, bem que eu adoraria, mas não consigo me mexer. - digo tentando nos livrar dessa enrascada inutilmente
- Eu também não consigo ver nada. De onde essa rede saiu? - Adélia responde frustrada
- Do teto! Tinha um gatilho na fechadura da cela, eu tentei alertar vocês. - minha irmã diz preocupada, escuto as grades sendo balançadas
Por mais que tentássemos sair dessa enrascada, parecia que a rede apertava mais e foi frustrante o quanto já estávamos chegando no limite disso tudo. Adélia até que tentou usar um feitiço ou dois para sairmos dali, mas imediatamente somos eletrocutados e minha irmã mesmo surpresa com tudo tentou sair da cela dela.
Devem ter se passado três horas e já estava ficando dolorido de ficar nessa posição e Adélia provavelmente estava tendo dificuldade de respirar por que eu estava em cima dela.
Já estava quase me entregando ao sono quando as luzes são acesas e minha visão protesta.
- Ora, ora, ora. O que temos aqui, um filho ingrato preso na rede. - ouço meu pai dizer e sinto calafrios, seu tom era sombrio
- Deve estar adorando a vista. Não é, "pai" - digo o mais friamente que consigo
Ele não responde, seu silêncio me deixa nervoso, já que ele poderia fazer qualquer coisa agora que eu não conseguia fazer nada.
Eu estava prestes a entrar em pânico, mas a rede é levantada conosco junto e quando conseguimos ver a luz de novo, sou segurado por dois guardas fortes, meu pai estava a centímetros do meu rosto.
- Incrível! Realmente você mudou muito em seis meses, mas agora a brincadeira acabou e você levara suas responsabilidades a sério.
- Até parece, porque prendeu a Marie aqui? O que ela te fez? - digo tentando me soltar dos guardas
- Ela... nada. Já essa garota aqui... - ele diz primeiro olhando Marie e depois Adélia
- O que você pretende? - digo tentando não transparecer meu medo
- Eu... nada. É toda sua. - ele diz e um guarda mascarado aparece por detrás dela a eletrocutado com uma varinha
Feiticeiro! - minha mente alertava
No começo, Adélia tentou lutar contra o choque, gritava e esperneava, mas chegou um momento que ela não aguentou e desmaiou.
Tentei com todas as minhas forças me livrar dos meus captores, mas foi em vão.
O mascarado acaba por se revelar ser Akador e ele abre um portal todo eufórico.
- Impossível! - digo incrédulo
- Incrível! Esse poder é incrível! - Akador comemora
Ele me olha de um jeito frio, devolve um aceno de cabeça para meu pai e para meu desespero manda o captor de Adélia atravessar o portal. Seu sorriso vitorioso foi a última coisa que que eu que eu vi antes do portal se fechar.
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FantasyEle teria uma vida considerada normal, apesar de ser rico e odiar isso, cercado de pessoas interesseiras. Nada seria anormal, além de pacato, os únicos verdadeiros eram seus amigos de verdade. Ela não tem nenhuma memória do passado, sua vida se base...