French Quarter, New Orleans
5 de Junho de 1992
Os passos de Martina ecoavam apressadamente pelo principal corredor da mansão, parecia que estava prestes a tirar alguém da fogueira, bem, era quase isso de qualquer forma.
Não se deteve em bater na porta, abriu o escritório do patrão de uma vez só, fazendo com que o mesmo pulasse ao levar um susto inesperado. As sobrancelhas do homem se franziram de prontidão, mas ao se lembrar da situação que se encontrava as suavizou dando um suspiro.
- O que foi? A criança já nasceu?
- Ainda não, senhor. - A mulher respirou fundo ao encarar aquele senhor, esse vestindo um conjunto social mesmo sendo horas da madrugada. - A senhora está lhe chamando.
- Malorie está bem?
- Ela está morrendo.
Não foi necessária uma palavra a mais, o homem saiu rapidamente em direção ao quarto master da mansão, não tinha entrado lá desde que sua esposa entrou em trabalho de parto. O plano era apenas voltar quando o bebê já estivesse nascido, mas isso teve que mudar no desespero da situação.
Entrando primeiro, encontrou a mulher na cama de dosséis que lhe pertencia, as costas encostadas na cabeceira, as pernas abertas cobertas por um lençol. Sua aparência não era das melhores, reconheceu ele, parecia estar enfrentando uma guerra de tão pálida que estava, mas não entendia o motivo disso já que era apenas um parto.
- Querida! - Disse ao se aproximar dela, beijando sua testa suada e pegando em sua mão gélida. A parteira próxima a cama lhes deu espaço para esse momento íntimo do casal.
- Ernest... - Malorie se permitiu sorrir, mesmo que fosse difícil, ao ser tocada pelo marido. Procurou seus olhos, tentando ver alguma bondade que devia ter ali, algo que pudesse contar. - Você precisa me prometer que vai cuidar do bebê.
- Não fale dessa forma, você sabe que vai conseguir!
- Me prometa! - Suas sobrancelhas se franziram em autoridade, os dentes se trincando ao sentir a próxima contração de aproximando. Seus olhos não deixavam os tolos de Ernest, precisava dessa promessa.
- Tudo bem, eu prometo. - Disse ao dar um suspiro final, não tinha como discutir com Malorie nessa situação.
- Você tem que sair, o parto está próximo. - A parteira anunciou um tanto impaciente, contando em um relógio de bolso o tempo que estava passando.
- Vai dar tudo certo. - Ernest disse a esposa com convicção, mas na verdade estava tentando convencer a si mesmo ao lhe dar um último beijo nos lábios. - Te amo, querida.
- Também te amo. - Deu um sorriso fraco porém sincero ao ver o homem sair e, Martina entrar. Imediatamente estendeu a mão para ela, que segurou com força.
- Está na hora? - A mulher perguntou, a resposta veio de imediato quando Malorie trincou os dentes para reprimir um grito agoniante de dor, apertando a mão da empregada com mais força do que imaginava.
- Isso, isso faça força! - A parteira disse segurando as pernas dela.
- Não vou conseguir... - Disse ao recuperar o fôlego por um momento, sentia seu corpo todo doendo, sabia que o motivo disso não era apenas o bebê prestes a sair.
- O que está dizendo, Marie? - Martina perguntou sem soltar a mão de sua senhora. - É claro que vai!
- Você sabe o que vai acontecer, não sabe? - Perguntou ao olhar para ela com um misto de pedido de perdão e gratidão. - Estou fazendo tudo que posso para trazer o bebê ao mundo, todo meu poder está se concentrando nisso...
- Eu sei... - Mas não queria saber, queria que não fosse verdade, mas nada podia fazer.
Outra contração veio, cada vez mais forte que a anterior. Malorie fechou os olhos com força, gritando ao sentir o ápice da dor, era maior do que qualquer uma que já sentiu em toda sua existência.
- Estou vendo a cabeça, mais um pouquinho Marie!
Seu poder de concentrou no ventre, uma luz parecia acender dentro de si, vindo não só da mesma, mas como do bebê também. Gritando mais uma vez, fez a força que precisava, o bebê nasceu com um potente choro que ecoou pelo quarto.
- É uma menininha! - A parteira anunciou fazendo o que precisava, entregando a neném embrulhada em um lenço branco. - Vai ser uma bruxa tão poderosa quanto a mãe!
- Oi, oi princesa... - Malorie, agora mãe, disse quase sem voz ninando sua filha nos braços que se acalmou imediatamente com seu toque. Era um sonho vívido, a neném a olhando curiosamente, talvez pensando se essa seria a dona do poder que tinha sentido durante 40 semanas.
- Qual vai ser o nome dela? - Martina perguntou a observando tão emocionada quanto a própria mãe, sorrindo ao ver a criaturinha que parecia ser pequena demais para esse mundo.
- Alyssa, a de linhagem nobre, o nome de uma rainha. Alyssa Delaware! - Sorriu fraco ao tocar o narizinho da filha, sua voz chegando cada vez mais ao fim. - Cuide dela, Martina... por favor.
- Cuidarei, cuidarei como você cuidou de mim. - Era uma promessa selada com lágrimas, tomando a bebê nos braços, a ninou vendo sua senhora fechar os olhos como se permitisse descansar. Pareceu entrar em um sono profundo, tão serena que não merecia ser incomodada.
Sabia que não podia ficar ali por muito tempo, com a pequena no colo, Martina saiu limpando as lágrimas em direção aonde estaria seu senhor. O encontrou no mesmo lugar, parecia acabado, a elegância anterior tinha o deixado por completo. Nem se virou quando ouviu a empregada entrar, apenas deixou o copo de Whisky em cima da escrivaninha.
- Senhor, é uma menina. - A ouvindo se aproximar, se virou para olhar a criança que a mesma trazia nos braços. - Essa é Alyssa, Alyssa Delaware.
- Alyssa... Delaware. - Disse o nome ao toma-la nos braços, olhando para a neném que ainda com olhos abertos, o observava. Sua expressão era um misto de decepção com desgosto, também havia desprezo em seus olhos. - É uma bastarda.
- Senhor? - A recebendo de volta nos braços, Martina ergueu as sombrancelhas em surpresa e ofensa. Seguiu o homem com o olhar, vendo-o sair pela porta sabendo exatamente onde iria, devia dizer algo, mas permaneceu em silêncio olhando para a criaturinha tão inocente em seus braços que não fazia idéia do que estava acontecendo.
Alyssa sorriu pela primeira vez em sua vida
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Originals: Unanimous
RandomTodo mundo tem algo a ser escondido, seja humano, vampiro, lobisomem, bruxo ou híbrido, sempre vai ter algo não contado. Uma mentira dita, segredos não falados, mistérios para serem revelados. Alyssa Delawere é uma dessas pessoas que esconde mui...