Enfim, Quebec

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Quando o vôo chegou no seu destino já passava da hora do almoço, porém Alyssa continuava adormecida ao sobrevoar o Canadá, a cabeça repousada no ombro do homem ao seu lado que não se moveu propositalmente. Esse tinha tirado apenas um cochilo, as últimas horas passou a observando sem dizer nada, nem queria acorda-la na verdade.

- Alyssa… chegamos, Sweetheart. - Disse calmamente, nem parecia ser o mesmo que falava. A garota abriu os olhos em um meio de confusão com o cansaço que tinha a vencido, ergueu levemente a cabeça olhando para o híbrido que estava perto demais de si.

- Oh, graças aos céus!

   Se afastou rapidamente ao se levantar, sem dar tempo para que qualquer pensamento fluisse em sua mente. Por esse mero segundo seu coração já explodia, mas tinha que focar em outra coisa no momento.

   Chegaram até o carro alugado, um conversível preto e reluzente mas que não chamaria nenhuma atenção na cidade francesa. Alyssa guardava a sua mala de mão no porta-malas, levemente distraída pela situação que se encontrava, estava realmente fazendo isso? Nunca teria se imaginado assim, nessa realidade.

  - Aqui, você precisa comer. - Saiu de seus devaneios ao ouvir Klaus que tinha ficado para trás por um momento, se aproximar lhe entregando um pacote, colocando em seguida sua bagagem no porta-malas antes de fecha-lo.

- Obrigada... - Disse em voz baixa, abriu o pacote vendo um bagget dentro, só o cheiro fazia sua barriga roncar. Erguendo os olhos para o híbrido, não sabia o que se passava por sua expressão, havia gentileza demais, novamente não parecia ser real aqueles olhos verdes que a miravam cuidadosamente. - E você não vai comer?

- Tenho uma alimentação balanceada, love. - Sorrindo de canto, tirou parcialmente uma bolsa de sangue que tinha dentro de sua jaqueta. Um tipo de malícia rondava seus olhos, mas havia algo mais… felicidade. Algo que não sentia fazia algum tempo.
 
Novamente aquela conexão aconteceu, o verde se misturando com o castanho em harmonia e colapso, um sorriso surgindo nos lábios da bruxa inconvenientemente, o sorriso do híbrido se alargando ao perceber e enfim desviar sentindo seu peito trepidar pelas batidas de seu coração morto em contraste do altamente audível dela.

  As próximas horas não foram tão esplêndidas, Quebec não era tão pequena quanto parecia, por mais que Klaus aumentasse cada vez mais a velocidade, não encontravam o que queriam, o que poderia lhes levar até o local desejado, aquele local que Martina tinha falado. A cidade ficava cada vez mais queita, se afastavam do centro indo para zonas afastadas que eram menos frequentadas.

Mesmo com o poder e velocidade que o híbrido tinha, não adiantava em nada, ninguém tinha nenhuma informação. A noite subia por completo ao céu e ainda não tinham nenhuma pista, era como se o local não existisse.

-É isso! - Alyssa exclamou derrepente ao voltarem para o carro pela milésima vez em quatro horas, algo tinha passado por sua mente o dia todo, mas só agora parecia haver algum sentido. Tirou do porta-luvas um mapa que havia da cidade, correndo e abrindo sobre o capô do carro enquanto passava os olhos rapidamente pelos pontos indicados.

  - Quer fazer a honra de me explicar? - Klaus perguntou sarcasticamente mas sem acidez, a seguindo e olhando por cima de seu ombro.

- Estamos horas tentando procurar aquele lugar, ninguém sabe, não tem nenhuma informação. - Ela disse começando a fazer uma trilha com o indicador pelos pontos que já tinham passado, um por um. - Por que não pensamos nisso antes? É claro que está enfeitiçado!

  - Com um feitiço que o camufla para que ninguém o ache. - Completou abrindo um sorriso de canto, a olhando com certa admiração.

- Exatamente! - Parou com o dedo em uma área afastada das demais, olhou fixamente para aquele ponto sentindo um formigamento dentro de si, fechou os olhos sussurrando um encantamento para descobrir algo que estava encoberto por algum tipo de magia. Não sabia o porquê disso, não daria certo, mas quando abriu os olhos viu uma linha que aparecia sobre o local que ela indicava, uma linha demarcada que não estava ali antes.

- Como você fez isso? - Agora ele também estava um tanto surpreso, olhando para ela e depois para o mapa, tudo tinha acontecido diante de seus olhos. Nunca tinha visto um feitiço de ocultação ser quebrado tão facilmente.

- Não faço ideia. - Sussurou balançando a cabeça em negação, recolheu a mão dando um suspiro e desviando o olhar do mapa. - Vamos lá!

O ponto indicado no mapa levava a uma estrada longe da cidade, o asfalto era substituído por terra, não havia postes, a única iluminação que tinha era os faróis do carro, envolta estava uma escuridão desoladora. O lugar parecia completamente deserto, nem uma alma passava por ali.

  - Você está com medo? - Klaus perguntou com um sorriso debochado no rosto ao ver a bruxa com as mãos fechadas em punhos, olhando para os lados como se esperasse ver algo saindo do meio do mato. - Sabe, sou um Original. Não tem porque temer…

- Hey, eu sei me defender! - Disse se virando para ele e dando um soco em seu ombro, o híbrido fingiu a dor levando a mão livre até o ombro com uma careta até engraçada.

- Sei disso, love… - Ele sorriu ao a olhar, Alyssa adquiria um tom róseo ao ouvir o jeito que a chamava novamente, o olhava quase questionadoramente constrangida, e ele adorava deixá-la assim sem defesa.

  O momento foi quebrado abruptamente, o carro parou como se Klaus tivesse freiado bruscamente sem motivo, esse foi lançado contra o banco enquanto Alyssa continuava na mesma posição sem entender o que tinha acontecido.

  - Tem uma barreira… - Sussurou assombrada, saiu do carro sem cerimônia dando alguns passos a frente, não conseguia enxergar claramente por causa da escuridão, mas havia uma clareira que se abria mais adiante. - Achamos, Klaus!

- É, eu percebi. - Ele disse franzindo as sombrancelhas, odiava sem parado. - Você consegue passar, me convide pra entrar!

-Pode entrar. - Disse olhando em volta, sentia um formigamento estranho dentro de si, a magia se remexendo como se quisesse lhe dizer uma coisa. Já sabia o que, tinha encontrado, era esse o lugar onde tudo aconteceu. - Vamos!

  Klaus desceu no carro, podendo agora entrar no terreno, se juntou à bruxa que com a lanterna do celular seguia adiante sem se preocupar. Suas mãos tremiam, Alyssa sentia a magia percorrendo seu corpo, a levando para aonde deveria ir, mesmo no escuro percorrendo o lugar com os olhos em busca de qualquer coisa.

- Tem um chalé aqui. - Ele disse indicando uma casa que se descobria mais à frente, sendo iluminada pela luz fraca de uma lanterna foram até ela, o híbrido tentou abrir a porta, mas sem sucesso. - Está trancada.

- Deixe-me tentar… - A bruxa disse ofegante, sentia que podia abrir, algo lhe dizia que ali não era apenas um lugar normal. Tocou na maçaneta com as pontas dos dedos, e sem dizer nada ou proferir um feitiço, a porta foi destrancada e abriu com um toque.

- Okay, isso é surpreendente. - Klaus admitiu seguindo-a para dentro do chalé, a luz se acendeu quando ligaram o dejuntor, os móveis permaneciam intactos cobertos por lençóis. Era um pequeno lugar, mas tinha algo especial ali.

- Acho que minha mãe morava aqui... - Alyssa disse em baixa voz, tocando um retrato que estava pendurado, uma mulher muito parecida com a mesma em feições, os olhos da mesma cor caramelo.

  Olhou ao redor respirando fundo, as sombrancelhas se franzindo com todos sentimentos que sentia ao mesmo tempo sem saber para onde ir primeiro. Seus olhos pararam em um pequeno baú exposto em cima da mesa que havia no centro, sem hesitar foi na direção dele, se pondo de joelhos para pega-lo nas mãos. Estava destrancado, a primeira coisa que se revelou foi um envelope destinado à "Delawere".
Com as mãos tremendo, abriu o envelope tirando uma folha de papel, uma carta endereçada para si.

  " Querida Filha, não sei como vou te chamar ainda, Hope, Elizabeth, ou Alyssa? Talvez seja Alyssa, é um nome extremamente belo.

  Estou te escrevendo essa carta para caso venha achar esse lugar um dia, sei que vai, mesmo sendo apenas um bebê em minha barriga já sinto um enorme poder vindo de você, algo incomparável com qualquer coisa que já vi. Você vai ser especial, querida, tenho certeza disso.

  Este lugar está protegido e camuflado de qualquer um que venha atrás de nós, apenas você vai poder encontrá-lo quando chegar a hora. E se está lendo essa carta, creio que a hora chegou não é? Bem, minha doce menina… sei o quão poderosa você é, e quão difícil é manter o controle de tanto poder. Você é uma bruxa poderosa, e também uma herdeira direta da linhagem primordial dos lobisomens, filha de Basroq.

  Seu pai te amou muito, mesmo não tendo te conhecido. Ele lutou por nós, morreu por nós, por isso não pode ver a mulher que você se tornaria. Creio que eu também não vou poder, sinto que não vou viver por muito tempo. Mas não se preocupe, uma mulher incrível vai estar com você pra tudo que precisar.

Eu,  Malorie Delawere, e seu pai Basroq, te amamos incondicionalmente. E sempre vamos te amar, doce menina Delawere.

P. S deixei essas coisas para se você precisar, faça bom uso."


  Seus olhos estavam cheios de lágrimas que escorriam por seu rosto ao terminar de ler, com a carta ainda na mão, espiava dentro do baú algo parecido com um diário e outros utensílios que sentia que eram mágicos. Tudo era o seu legado, tinha sido deixado para ela há mais de vinte anos.

- Eu sou filha de Basroq... - Sussurou controlando a voz que tremia, abraçando a carta contra seu peito absorvendo tudo que tinha lido, as revelações sobre sua família que mesmo singelas eram de extrema importância para ela. Seu peito ardia fervorosamente, mas de um sentimento bom que não conseguia e nem queria evitar.

- A única herdeira restante. - Klaus se agachou ao lado dela, pondo as mãos em suas costas como se a agonchagasse, esse foi retribuído quando Alyssa sorriu encostando a cabeça em seu ombro. Ambos admirando o baú que estava repleto de coisas preciosas.

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