Prólogo

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Eu morri uma centena de vezes!
- Amy Winehouse.

Eu morri uma centena de vezes!- Amy Winehouse

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Nicole:

— Por favor, Lucas, para — eu sussurro, tentando em vão me levantar, o gosto amargo do sangue em minha garganta junto a dor dilacerante em meu estômago por causa dos chutes que recebi segundos atrás do meu marido não me permitem falar nada além dessas três palavras.

Tentei me erguer, apoiei um braço no chão e gemi de dor. Estou encolhida, completamente imóvel no chão da cozinha da casa que um dia eu considerei nosso lar. Minha respiração está pesada e tenho dificuldade para fazê-la, já que, provavelmente, o murro que recebi no rosto deve ter quebrado meu nariz.

— Nicole — ouvi aquele que um dia considerei o amor da minha vida falar, se abaixar e colocar as duas mãos em meu rosto, eu gemi de pavor com o seu toque —, me desculpe, amor — ele falou, rápido. — Por favor, eu não queria fazer isso, você me obrigou... Amor, me perdoa, eu nunca vou te perder, eu não vivo sem você! — Sua mão apertou minha bochecha com força, ignorando todos os tapas que desferiu em meu rosto alguns minutos atrás. — Eu não posso viver sem você, você me faz perder o controle, eu te amo, Nicole, eu te amo.

Não consegui ficar com meus olhos abertos, não há uma parte do meu corpo que não esteja machucada. Em meu último suspiro, olhei em seus olhos cheio de lágrimas e senti que chegou meu fim, eu seria morta pelo meu marido, pelo homem que um dia, diante de Deus, jurei amar para sempre. Se não fosse dessa vez, seria da próxima, mas ele ia acabar conseguindo de matar.

...

Tentei abrir os olhos, mas a claridade me incomodou, me mexi na cama e a dor que senti me fez perder o ar por um segundo. As lembranças invadiram minha mente e senti vontade de chorar mais uma vez.

— Querida — ouvi a voz da minha mãe e senti o toque dela em meu rosto, abri devagar os olhos e a encarei, estava com uma expressão cansada e seus olhos tinham preocupação.

— Mamãe — sussurrei, já sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. — Mãe — eu chorei aliviada por estar com ela depois de meses.

Será que meus irmãos também estão aqui?

Estive trancada em casa durante meses, sem poder ver ninguém além dos empregados e do meu marido, então, mesmo depois de descobrir toda a trama que houve para esse maldito casamento acontecer, agora nada mais importa, só quero estar com minha família de novo.

Senti meu coração bater mais rápido conforme a esperança de sair daquele inferno tomava meu corpo, eles vão me tirar de lá! Quero me sentir segura outra vez, preciso que meu irmão me diga que tudo vai ficar bem.

— Se acalma, Nicole... — Ela acariciou meus cabelos. — Por favor, filha, vou chamar o médico — disse, se afastando de mim e saindo pela porta.

Então percebi que estava em um quarto particular do hospital da família do Lucas, eu já estive aqui outras vezes. Flashes dos últimos acontecimentos voltam a me atingir e eu sinto medo em toda célula do meu corpo, só de imaginar que posso voltar para aquele pesadelo de novo, imaginar o Lucas entrando por essa porta e, como sempre, agindo como um homem arrependido, prometendo que nunca mais encostará o dedo em mim.

Não sei quanto tempo demorou até minha mãe voltar ao quarto acompanhada de um médico, eu sei que já o conheço, mas não me lembrei do seu nome e nem quis perguntar. Todos sabem porque estou aqui, sabem o que meu marido faz comigo, mas, tanto minha família, quanto os funcionários do hospital, fingem não entender o motivo de viver machucada.

Sinto um misto de tristeza com vergonha ao encara-los, nem nos meus piores pesadelos me imaginei passando por tamanhas humilhações, ser conhecida como a pobre mulher rica que é espancada e não faz nada para sair dessa situação.

Consigo ouvir em minha mente todos os julgamentos.

— Senhora Calheiros, que bom que acordou — disse olhando para meus exames. — Como está se sentindo?

Quis gritar e dizer que sua pergunta é ridícula, é só me olhar para saber que não estou bem, como poderia estar bem após ser espancada mais uma vez? Quis exigir que ele chame a polícia, o exército ou até o FBI, para me ajudar a escapar das mãos do meu captor. Mas nada disso saiu da minha boca, sei que ninguém irá me ajudar.

Sempre estive sozinha.

— Eu não sei, todo meu corpo está doendo, principalmente minha barriga e minhas costas — sussurrei sem forças.

— Isso é muito normal depois do procedimento que a senhora teve que passar. — Ele parou de olhar os papéis e me encarou. — Senhora — suspirou, pude ver dor em seus olhos castanhos —, sabia que estava grávida?

Meu mundo parou por um segundo... GRÁVIDA.

— Não — minha voz não passou de um sussurro.

— De aproximadamente seis semanas, mas, devido a tudo que a senhora passou — respirou fundo mais uma vez, ele sabia o que eu tinha passado e quem havia feito isso comigo era a pessoa que pagava o seu salário —, quando seu esposo a trouxe para o hospital, já era tarde, não pudemos fazer nada.

Eu senti todo o meu corpo tencionar e gemi de dor, não apenas física. Nesse momento, eu quero bater no Lucas, quero o matar da mesma forma que ele vem me matando diariamente durante os últimos anos, acabar com ele como acabou com a minha alegria de viver. Meu esposo acabou com meu último sonho, enfim conseguiu o que sempre quis, me destruir por completo.

— Quero ficar sozinha — sussurrei, sem forças para falar mais alguma coisa, não depois do que eu havia escutado, não depois de quase ser morta pelo meu esposo e agora descobri que eu tive um filho em meu ventre e ele havia sido arrancado pelo monstro que eu me casei.

— Filha, por favor... — Minha mãe se aproximou, acariciando meus cabelos. — Seu marido está muito arrependido de tudo, vamos conversar querida, você logo terá outros filhos!

Eu não podia acreditar que, mais uma vez, minha família fingiria que nada aconteceu. Esquecendo que sou eu quem ela carregou em seu ventre, minha mãe voltou a defender o Lucas como se ele fosse seu filho e não a pessoa que espanca e mantém sua filha trancada.

— Eu só quero ficar sozinha — aumentei a entonação da minha voz e, ao olhar para minha mãe, me arrependi de imediato, não importa quantos anos passem, ela sempre terá esse poder sobre mim. — Por favor...

Minha mãe suspirou, derrotada, saindo do quarto ao lado do médico. Então, me permiti chorar mais uma vez. Eu sempre quis ser mãe, saber que tinha uma vida crescendo dentro de mim e que ela foi assassinada pelo monstro que é o meu marido me destruiu, ele não matou apenas meu filho, Lucas vem me matando dia após dia.

Chorei de raiva e de desespero, chorei por mágoa, chorei por todas as humilhações, todas as violências psicológicas e físicas que venho sofrendo nos últimos anos, eu chorei por tê-lo permitido agir assim comigo, chorei por ter deixado minha família me influenciar, por me preocupar com todos enquanto ninguém nunca se preocupou comigo, chorei pelo filho que perdi, o filho que ele matou, chorei por não me reconhecer.

Eu já estou morta, Lucas matou a minha alma há muito tempo e, se eu continuar com ele, mataria meu corpo também.

Nunca mais ele encostará suas mãos nojentas em mim.


Como prometido aqui está o prólogo, estou tão emocionada de voltar a postar esse livro depois de tanto tempo, aqui, com vocês me sinto em casa e realizada. Aos que estão chegando agora espero que essa história toque o coração de vocês como tocou o meu.

Nada me deixa mais feliz que comemorar meu aniversário de 25 anos fazendo o que mais gosto na vida, que é escrever.

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