Capítulo 4

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Eu não quero sentir isso

Dói muito por dentro

E eu não sei por que

Algo não está certoSe eu nunca mais acordar

Então talvez eu fique bem

Eu não quero chorar

Estou tentando lutar

Eu não quero sentir isso

Dói muito por dentro

— Ollie, LOST.

Nicole:

"ELE ME ENCONTROU! ELE ME ENCONTROU!"

— Nicole, filha — ouvi meu nome ao longe, mas meu cérebro não soube me dizer quem estava me chamando.

Meu corpo inteiro está tremendo, estou quase me fundindo à parede, como se isso fosse me proteger das mãos dele, as lágrimas descem pelo meu rosto sem nenhum controle, estou em pânico, estou me sentindo como uma presa encurralada, prestes a ser devorada. Fugi para longe do meu inferno pessoal, tentei ser uma pessoa normal de novo, mas nada adiantou, eu sei que ele não vai desistir de mim.

Não há palavras suficientes para descrever tudo o que enfrentei, sei que nada vai melhorar.

Eu me transformei em uma pessoa medrosa, chorona, que entra em pânico em qualquer situação. Me olho no espelho e não gosto da pessoa que vejo. Estou cansada da dor que sinto constantemente, do medo que me assombra vinte quatro horas por dia, de fingir que não tem nada errado comigo e agir como se tudo estivesse normal.

NADA ESTÁ NORMAL EM MINHA VIDA!

— Nicole! — Senti um toque no meu ombro e eu me encolhi ainda mais, eu não suporto que me toquem. — Por favor, filha, se acalme, já passou. — Eu não consegui reconhecer a voz, mas eu queria gritar com essa pessoa e dizer que ela está errada, que nada passou, queria explicar o quão fodida é a minha vida e que o meu demônio me encontrou.

Ouvi alguns sussurros, mas eu não consegui entender, minha mente está me encurralando dentro dos meus medos, eu não consigo me controlar, eu quero fugir, quero sumir, morrer...

— Nicole — uma voz masculina, diferente, falou, se aproximando de mim. Eu quis gritar para que não se aproximasse, mas não consegui ter nenhuma reação. — Sou eu, Miguel, o delegado, o filho do James, por favor, olhe para mim.

Minha mente logo formulou a imagem do Miguel, mas eu não consigo controlar meu corpo, eu não consigo o encarar, o pânico dominou todas as células do meu corpo.

— Eu não sei o que aconteceu para te deixar nesse estado, mas posso imaginar que foi muito difícil — aí Miguel, você não pode nem imaginar tudo o que eu já passei —, mas você está aqui agora, eu estou aqui bem na sua frente, eu vou te proteger! — Queria dizer que ninguém pode me proteger. — Sei que é difícil enfrentar tudo, mas você não precisa passar por isso sozinha, nós podemos resolver tudo juntos, eu te prometo te ajudar, por favor, me olhe. — Pude sentir que ele se aproximou um pouco mais. — Eu sei que você é forte e que vai conseguir enfrentar tudo isso.

Meu lado racional quis gritar com ele e dizer que ele não me conhece, não sabe o quanto está errado, que sou uma fraca, a pessoa mais fraca do mundo. Mas, ao invés disso, abri os olhos devagar e, em meio às lágrimas, pude ver aquela figura enorme ajoelhada em minha frente, seus olhos azuis me encarando com preocupação, ele estava realmente preocupado comigo.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora