Capítulo 9 - parte 2

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— Eu não aguento mais nenhum passo! — Parei no meio fio do parque da cidade, inclinando meu corpo e colocando a mão no coração, parece que ele quer sair pela minha boca a qualquer momento.

— Por que eu aceitei uma loucura dessas? — Lívia bufou ao meu lado. — Me lembra de colocar laxante no próximo café desse delegado maldito.

— Para de bobagem — falei tentando rir mas até isso doía e eu me arrependi de ter aceitado essa loucura de acompanhar o Miguel.

Sempre fui fã de esportes, dancei balé a minha vida toda e a rotina de uma bailarina é muito puxada, mas estar tantos anos sem praticar me deixou fora de forma, sem fôlego para conseguir acompanhar o pique do Miguel.

— Como vocês podem ser tão sedentárias assim? — Miguel voltou correndo em nossa direção. — Não tem nem uma hora que começamos.

— Eu estou muito arrependida de não ter colocado chiclete no seu cabelo quando era criança, Miguel! — Lívia estava vermelha e pingando suor e claro não estava muito diferente dela.

— É um pinscher mesmo — riu e eu não entendi a brincadeira interna dos dois. — Você está bem, Nicole? Vamos sentar ali no banco para você beber um pouco de água.

Eu sentei e a Lívia sentou ao meu lado enquanto Miguel ia até um ambulante comprar água.

— Tudo bem que ele é um espetáculo, um colírio para as vistas, mas nada no mundo é bonito o suficiente para me fazer sofrer assim, estou morrendo, minhas pernas não me obedecem.

Então reparei no Miguel vindo em nossa direção, com duas garrafinhas de água e a visão realmente é de tirar o fôlego.

Ele está com uma regata azul, deixando os músculos do seu braço à mostra e nunca vi um homem tão forte como ele, a bermuda preta de tecido leve deixou suas pernas torneadas à vista, eu admirei por um segundo, até perceber o volume naquele short de malha fina, imediatamente desviei meu olhar para as árvores ao meu lado, sentindo meu rosto corar.

— Apreciando a vista? — Lívia perguntou baixinho, com aquele maldito tom zombeteiro na sua voz.

— Cala a boca — falei baixo, sentindo meu rosto queimar de vergonha, mas, definitivamente, eu havia admirado a vista, por que ele realmente é um monumento para se admirar, posso dizer com certeza que Miguel é o homem mais lindo do mundo.

Nesse momento percebo que realmente estou melhorando.

Ele teve que buscar o carro e nos levar de volta em casa, já que nenhuma tinha condições de dar um passo. Eu tomei um banho e me deitei na cama, sentindo meu corpo doer por causa dos exercícios e da corrida, mas ao mesmo tempo me senti leve, sempre soube a importância dos exercícios físicos e do bem que ele faz a nossa mente, e estava sentindo os benefícios dele agora.

— Nicole — Lívia bateu na porta e pediu para entrar. — Preciso falar algo importante com você.

Eu me sentei na cama ainda de roupão e a encarei

— Pode falar.

— É sobre o seu irmão.

E mais uma vez me senti, dando um passo para frente e dois passos para trás. De novo me vi no centro daquele turbilhão de sentimentos que envolvem meu passado.

— Ele te procurou na lanchonete há umas semanas atrás, implorando para falar com você — Lívia se sentou ao meu lado na cama —, mas o expulsei, você tinha entrado em pânico da outra vez que o viu e não quis que ele te afetasse de novo — ela suspirou. — Ele saiu de lá prometendo que só voltaria quando conseguisse resolver as coisas, não me explicou o que iria fazer e nem o que tinha que resolver, mas me pediu para cuidar de você que iria voltar para casa e cuidar para que ninguém mais te machucasse! — Soltei o ar que nem sabia que estava prendendo — Ele acabou de me ligar, disse que está chegando aqui na cidade amanhã à tarde e pediu para conversar com você.

— Eu não quero falar com ele! — falei rápido demais. — Por que estava conversando com ele, Lívia? Você não sabe as coisas horríveis que ele me fez, não quero o ver.

— Eu não sei o que ele fez, amiga — ela segurou em minha mão e olhou em meus olhos —, mas ele é sua família e disse que vai consertar as coisas, eu o vi, pude ver o remorso em seu olhar, em minha opinião, deveria falar com ele, mas isso é uma escolha somente sua e irei te apoiar no que decidir — não soube o que pensar e nem o que fazer, meu passado resolveu voltar com tudo e minha vontade era arrumar minha mala e sumir no mundo, mas não consigo abandonar as pessoas dessa cidade que me acolheram em suas vidas, não consigo mais ser sozinha.

— Eu preciso pensar — sussurrei sem forças para dizer nada

— Tudo bem — ela suspirou e se levantou. — Sabe que estarei aqui ao seu lado para o que precisar não é? — Assenti. — Se quiser conversar estou aqui — agradeci, mas, nesse momento, não quero falar com ninguém. — Ele disse algo sobre umas provas capaz de colocar um tal de Lucas na cadeia pelo resto da vida.

Depois dessa frase Lívia me deixou sozinha com essa enorme bomba nas mãos. Eu tremi só de ouvir o nome desse monstro. Eu estava em um labirinto e mesmo correndo, fugindo eu não conseguia encontrar a saída.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora