Capítulo 2

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Dedicado a reggiane <3

Suas palavras em minha cabeça

São facas em meu coração

Você me coloca lá em cima

E depois eu caio aos pedaços

- Human - Christina Perri

— você tem noção da merda que você fez? — gritou, me jogando no chão assim que entramos em casa. — Sua vagabunda! — Subiu em cima de mim e senti minha respiração falhar por causa do seu peso sob meu corpo, senti uma dor insuportável atingir meu rosto quando ele desferiu o primeiro tapa, depois outro e mais outro. — Vadia — ele berrou —, eu vou matar você, Nicole, eu vou te matar vagabunda, piranha! — Ele ergueu minha cabeça, puxando meus cabelos. — Puta! — Cuspiu em minha cara. — Você é uma vadia igual a sua irmã, diz que sai para estudar, mas está dando para todos os machos daquela faculdade! — Outro murro, eu já não conseguia abrir meu olho esquerdo, senti um líquido que deduzi ser sangue descer pelo meu nariz. — Eu vou matar você, Nicole, está me ouvindo, puta? — gritou, se levantando e chutando meu estomago, eu gritei de dor, implorei por socorro, mas estou sozinha em meu próprio inferno. — Vou te matar, eu vou te matar...

Outra vez, acordo de madrugada suada, em meio às lágrimas enquanto meu corpo treme desesperado pelas lembranças do sonho, eu ainda posso sentir seus toques em meu corpo e eu choro desesperada ao lembrar de forma tão nítida tudo que aconteceu.

— Será que nunca vou esquecer, meu Deus? — sussurrei em meio às lágrimas colocando minha cabeça sob meus joelhos tentando abafar os sons do choro desesperado.

Lucas marcou meu corpo e minha alma, ele tirou todas as esperanças que eu tinha de uma vida melhor, ele me conquistou e, depois que nos casamos, mostrou quem realmente é, fui do céu ao inferno em poucos segundos e hoje mais de um ano longe dele, dos seus tapas, das suas palavras depreciativas, das suas traições e dos gostos estranhos, ainda me sinto presa ao passado, ele é o criminoso e eu que estou presa.

Presa ao medo do passado me encontrar.

Presa com medo de tudo e todos.

Presa com medo de viver novamente.

Presa em casa enquanto ele continua sua vida normalmente.

Outra vez, eu vi o dia amanhecer na janela do meu pequeno apartamento. Segui minha rotina normal durante todo o dia, me dividindo entre atender os clientes e preparar as tortas de morango. A parte boa desse trabalho é que eu sempre tenho algo para fazer, e isso não me permite tempo para pensar em como a minha vida foi destruída no dia que eu disse sim, naquele altar.

No fim do expediente tirei todo o lixo e limpei as vasilhas sujas enquanto Lívia reclama de ter que lavar os banheiros, sorri da forma que ela fala, ela com certeza é a pessoa mais dramática que eu conheço.

— Você deveria tentar a carreira de atriz, Lívia, acho que você tem muito talento — zombei enquanto ela resmungava, ter uma amiga da minha idade e que não sente pena de mim torna os momentos bem mais leves.

Estou terminando de limpar o balcão da pia e a estufa de salgado quando senhor James apareceu na cozinha e me virei para encará-lo ao ouvir meu nome sendo chamado, mas fiquei estática assim que vi quem o acompanhava.

— Nicole querida — senhor James sorriu me encarando com olhos cheios de ternura — já conhece meu filho Miguel? — sorriu olhando para aquele policial que esteve aqui ontem.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora