Capítulo 7 - part/1

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Mamãe, coloque minhas armas no chão
Eu não posso mais atirar neles
Aquela nuvem negra e fria está descendo
Sinto como se estivesse batendo na porta do céu

Knocking On Heaven's Door

NICOLE:

Nicolas e eu crescemos juntos, como ele é meu irmão mais velho, sempre o idolatrei, quando criança, o imitava em tudo que fazia, suas brincadeiras, gestos, manias e birras, depois do papai, ele era o meu herói, sempre me protegeu e, mesmo após Natália nascer, nossa ligação sempre foi extraordinária. Meu irmão sempre foi meu confidente, foi nos seus braços que chorei quando papai morreu e adormeci com ele acariciando meus cabelos, dizendo que ia sempre me proteger.

Hoje, depois de tudo o que passei, ainda não estou preparada para encará-lo, senti meus olhos arderem com vontade de chorar.

— Não sabe o quanto eu te procurei, irmã — Nicolas não está de terno, como costuma sempre estar, veste um jeans escuro e uma regata azul. Sua pele pálida, cabelos grandes desarrumados, sua barba sem fazer e, quando olhei seus olhos castanhos, não encontrei nenhum vestígio do herói que um dia eu tanto amei.

— Não se aproxime de mim! — Fiz um gesto de pare com a mão. — O que você está fazendo aqui? Como me encontrou? Você trouxe o Lucas? — Estou me sentindo sufocada, não consigo respirar direito, olhei para os lados, com medo que meu marido aparecer a qualquer instante.

— Por favor, Nicole, respira, vamos conversar! — Ele parou de andar e ficou me olhando, como se não acreditasse no que via.

— Eu não tenho nada para falar, você me vendeu para um monstro, prometeu me proteger e me abandonou, vá embora Nicolas, não quero te ver. — descarreguei todo ressentimento e dor que sinto no meu peito, dor pelo seu abandono, pelo seu desprezo e pouco cuidado comigo.

— Nicole, sou eu, seu irmão mais velho! —  Olhou em meus olhos e eu só encontrei dor em seu olhar, sei que foi só isso que ele constatou no meu, porque não conseguiu continuar me encarando, abaixou a cabeça como se tivesse envergonhado. — Pensa que eu faria algo deliberadamente para te machucar? Não sabia o que acontecia na sua casa, só descobri quando não consegui mais encontrar você e comecei a investigar, eu te amo, irmã, nunca permitiria que tivesse passado por algo assim, daria minha vida por você, Nicole, você sabe, prometi ao papai que iria sempre te proteger.

— Não adianta vir aqui agora cheio de palavras bonitas pensando que acreditarei nelas! — Sinto meu coração esmagar diante da dor de reviver todo meu pesadelo mais uma vez.

— Nicole, maninha por... — não suportei ouvir ele me chamando assim, como se nada tivesse mudado, nós não somos mais uma dupla, nossa ligação foi quebrada com minha alma e meu irmão a pessoa que mais amei nessa vida ajudou a fazer isso comigo.

— Eu não quero te escutar! — Levei minhas mãos aos meus ouvidos, tentando abafar o tom da sua voz, suas palavras ferem o meu corpo, suas palavras me destroem, dói fundo na minha alma ouvir isso e saber que é mentira, dói muito saber que a pessoa que eu mais amei e admirei no mundo me enganou. — Não quero te escutar, não quero te escutar! — sussurro, balançando minha cabeça negativamente.

Só senti estar chorando quando as lágrimas inundaram meus olhos, me impedindo de respirar tranquilamente. Nicolas está parado a poucos metros de mim, me encarando com o semblante assustado, como se não acreditasse que estou em desespero depois de tudo o que me aconteceu. Ele está petrificado, não sei o que estava passando em sua mente, mas, na minha, o medo de Lucas aparecer aqui agora me tirava do eixo.

Lívia entrou na lanchonete, falando sobre algo que esqueceu, mas não consegui raciocinar nem compreender suas palavras.

Apressada, ela acabou esbarrando no meu irmão e parou ao lado dele quando me encarou, provavelmente assustada por me ver nesse estado.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora