Capítulo 9 - parte 3

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Saí da lanchonete junto com a Lívia, não dormi a noite passada, pensando no que era melhor a fazer, e depois de muito meditar acabei cedendo a ideia de falar com o Nicolas pessoalmente. Não vou negar que estou apreensiva e com medo de ser uma armação para me levar de volta, mas deixarei claro que não volto para aquele inferno, me mato antes de ser obrigada a passar por tudo aquilo novamente.

Assim que chegamos ao apartamento que nós duas dividíamos, vi meu irmão em pé em frente a porta do lugar que moramos. Nicolas sempre foi muito bonito, alto da pele mais clara que a minha, os olhos cor de mel sempre demonstraram doçura, sempre gostou de andar bem vestido, muito vaidoso, meu irmão sempre chamou atenção por onde passa. Mas agora quase não o reconheci, sua aparência abatida, roupas amassadas, grandes olheiras ao redor dos olhos, parecia ter emagrecido muito, seu rosto está fundo, sem vida, sem traços do irmão mais velho que tanto idolatrei, e eu senti muita dor em meu peito ao vê-lo daquele jeito.

Nós entramos em silêncio, Lívia foi direto para o quarto e nós dois ficamos na sala, a tensão estava se instalando novamente sob meu corpo, e o medo de ter um ataque de pânico me fez duvidar de todo o avanço que estou fazendo na terapia sobre meus traumas.

— Como você está? — Nicolas perguntou, se sentando na poltrona ao lado do sofá que me sentei, é como se ele soubesse que eu não queria ter nenhum contato com ele.

— Levando. — Desviei o olhar do seu, eu não conseguia o encarar sem despertar sentimentos contraditórios em meu peito — O que você quer tanto falar comigo? Se pensar que eu voltarei para casa, está muito enganado. Nunca voltarei para aquele inferno.

— Como pode pensar que eu deixaria você se casar com Lucas se soubesse quem ele realmente era? Eu te amo, Nicole, nunca pensei que ele fosse capaz de te machucar. Essa possibilidade nunca passou pela minha cabeça.

— Me poupe — suspirei sentindo meus olhos enchendo de água e fechei a porta das minhas memórias que queriam sair justo agora. — Vai me dizer que você e a mamãe não me venderam? Lucas me disse que pagou por mim, ele me torturou e se achava no direito de me machucar, já que minha família recebeu um bom dinheiro para que eu fosse dele.

— Eu não recebi um tostão, irmã — ele suspirou. — Confesso que me beneficiei demais no serviço, que consegui chegar onde estou graças a ele, mas nunca recebi por você ter se casado com ele, não faria isso.

— Eu não quero falar sobre isso, Nicolas — suspirei confusa, cansada e esgotada emocionalmente. — Por favor, me diz logo o que você quer e suma da minha vida.

Então ele fez algo que eu não estava esperando e o choque durou alguns segundos, até me dar conta que  está de joelhos, aos meus pés, lágrimas descem por seu rosto sem cessar, há tanta dor, tanta culpa e arrependimento em seu olhar e só percebi que também estava chorando quando as lágrimas embaçaram minhas vistas.

— Por favor, Nicole me perdoa, me perdoa — sussurrou. — Sei que eu não mereço nem olhar para você, mas juro que não te vendi, juro que não imaginava tudo o que você passava, nunca deixaria alguém te machucar assim! — agarrou minhas pernas. — Por favor, por favor, me perdoa, por favor. Você é minha irmãzinha, só estava pensando no seu futuro, fui um idiota, um burro, egoísta eu sei, sinto muito ter sido tão cego, sinto muito ter deixado ele te machucar, machucar a minha bonequinha.

— Para, para com isso! — Me levantei apressadamente, tentando fugir do seu contato, de repente o apartamento começou a ficar pequeno demais.

Acredito no que ele está me falando, o conheço, sei que não mentiria para mim, mas nenhuma desculpa apaga tudo o que passei nas mãos do Lucas, nada apaga tudo o que me aconteceu, nem o que eles fizeram ou deixaram de fazer.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora