Capítulo 1

9.9K 736 308
                                    

Deixe-me dormir

Estou cansado da minha dor E eu gostaria que vocêMe amasse, me amasse, me amasse.

The Wisp Sings, Winter Aid.

— The Wisp Sings, Winter Aid

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Nicole:

Outra vez, acordei no meio da madrugada, chorando como se fosse uma criança, as marcas do meu corpo cicatrizaram, mas as da minha alma continuam bem vivas e me atormentam todas as noites, provando que estou longe de superar tudo o que me aconteceu.

Levantei e tomei um banho demorado, tentando aliviar minha mente daquelas lembranças. Sentei na janela daquele pequeno apartamento, que se tornou meu refúgio desde o dia que eu fugi daquele hospital e vim para outro estado, o mais longe que consegui de toda a minha antiga vida, de todo o sofrimento e dor que vivi por tanto tempo. Fugi até mesmo da minha família, que disse sempre me amar, mas me vendeu como se eu fosse um objeto velho de uma prateleira qualquer e estavam loucos para se livrar.

Corri para longe minha antiga vida, ninguém sabe onde estou e, provavelmente, a maioria já me esqueceu, mas sou incapaz de esquecer todo mal que me fizeram. Não é raiva, muito menos ódio, o que sinto vai além da mágoa, é pavor, medo de voltar para aquele inferno.

Vi o sol começando a aparecer e percebi que está na hora de ir trabalhar. Coloquei uma calça jeans e o uniforme da lanchonete onde trabalho a pouco mais de cinco meses. Prendi meu cabelo preto em um coque e saí de casa, mas antes conferi cerca de três vezes se todas as janelas estavam devidamente trancadas, mesmo morando no terceiro andar, faço esse ritual todo dia antes de sair de casa.

O caminho até a lanchonete não é longo e faço esse trajeto diariamente a pé, observando a beleza dessa pequena cidade. Os jardins de flores que tem na entrada de quase todas as casas do centro, os brinquedos para as crianças na praça da esquina e o muro com frases motivacionais de uma pequena escola.

Pela manhã, vejo pessoas idosas caminhando, sorrindo e cumprimentando sempre que passam por mim. Há também aqueles que estão saindo de suas casas e indo para o trabalho, cansados demais para perceber as outras pessoas à sua volta.

Assim que cheguei ao trabalho, o senhor James, o proprietário, estava em frente a lanchonete, tirando as grades para abrir o estabelecimento. Vim de Brasília para uma pequena cidade do interior do Mato Grosso, então, mesmo aqui sendo bem calmo e muito tranquilo, entendo os motivos do meu atual chefe prezar tanto pela segurança do seu estabelecimento.

Nos últimos dois meses, com pequenos assaltos que vem ocorrendo frequentemente nas redondezas, ele decidiu colocar grades nas portas e janelas para evitar que arruaceiros quebrem e invadam o local.

— Bom dia — sorri o ajudando a abrir a porta de vidro.

— Bom dia, Nicole! — O senhor James é um homem com um pouco mais de 60 anos, têm cabelos brancos, olhos azuis e a pele tão branca que é até estranho devido a viver em uma cidade tão abençoada pelo sol e calor insuportável, uma das coisas que ainda não acostumei. — Chegou cedo, como sempre — ele sorriu assim que fui para trás do balcão em busca do meu avental.

ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora