ÚNICO REFÚGIO ( DEGUSTAÇÃO)

Capítulo 9 part-1

"Lá fora no jardim onde nós plantamos as sementes

Há uma árvore tão antiga quanto a mim

Os ramos foram costuradas pela cor de verde

Terra tinha se levantou e passou-os joelhos."

— To Build A Home

Nicole:

— Então como está se sentindo hoje Nicole? — Daniele me perguntou assim que me acomodei no divã.

Um dia após eu confessar para Neide todos os meus medos, ela me buscou na lanchonete na hora do almoço e me trouxe em um ponto comercial, onde há quatro salas e em uma delas me apresentou a uma psicóloga amiga da família.

Ainda me lembro com emoção dos olhos cheios de água da Neide, me pedindo para confiar nela e a deixar cuidar de mim... E deixei e desde então estou tendo consultas duas vezes na semana com a pequena mulher negra, dos cabelos com tranças, que aparenta ser poucos anos mais velha que eu.

— Estou empolgada — sorri —, meus doces estão fazendo muito sucesso, até peguei pedidos de docinhos para festa de aniversário esse final de semana.

Estou vindo às consultas á um pouco mais de um mês, ainda tem coisas muito difíceis para colocar para fora, mas só de dar um passo tão importante quanto esse, já me sinto vitoriosa.

— Isso é sensacional! — Ela desviou os olhos do meu e anotou algo em sua agenda. — Semana passada você me disse que queria fazer um curso de gastronomia, pensou novamente nesse plano?

Estar ali 50 minutos sozinha com uma pessoa que estudou para nos ajudar com problemas internos, nos faz falar coisas que nem nosso consciente tem noção e essa é uma delas, eu não entendo o motivo que me fez falar algo assim, nem essa vontade que vem crescendo cada vez mais dentro de mim, sinto a necessidade de voltar a viver.

— Eu ainda não pensei nisso, mas quem sabe — sorri, percebendo o quanto estou mudando

***

Voltei para lanchonete quase que correndo, com medo de chegar atrasada do meu horário de almoço, assim que entrei no meu trabalho eu o reconheci mesmo de costas. Seus músculos contraídos marcados por uma camisa cinza que está literalmente quase rasgando em seu corpo. Miguel está sentado em um dos bancos, enquanto a Lívia em pé atrás do balcão, ela riu de algo que ele falou e não gostei da sensação que essa cena causou em meu coração.

— Você sempre foi o filho da mamãe, Miguel! — Ainda estava parada a poucos passos deles, mas não notaram a minha presença, a conversa entre ambos parece mais interessante. — você não podia cair que a Neide vinha correndo te acudir, parecendo uma galinha choca — gargalhou. — Não sei como ela te deixou ser policial, sempre achei que sua mãe te prenderia em casa para te proteger de todos.

— Se eu me lembro bem, você era a garota encrenqueira que batia em todo mundo! — Lívia deu de ombros. — Era uma pinscher que se achava um pitbull, você é chata desde pequena, não mudou nada tampinha.

— O que você está fazendo aqui mesmo Miguel? — ela, como sempre, falou com seu tom debochado. — Não temos donuts! — Mesmo estando de costas para mim, o vi revirando os olhos, como sempre faz quando brinca com sua mãe. — E a pessoa que você quer ver ainda não chegou — essa frase martelou em minha cabeça, de quem ela está falando? Mas não tive muito tempo para pensar no eu ouvi já que como um imã o Miguel se virou em minha direção, já buscando o meu olhar, como se estivesse preso a mim.

— Nicole — sussurrou antes de se levantar e vir na minha direção.

Não me movi, eu queria, juro que queria me afastar, dizer boa tarde e correr para a cozinha, mas meu cérebro não tem nenhum domínio sobre meu corpo, simplesmente não consigo me mover.

— Oi — minha voz saiu em um sussurro.

Nesse horário praticamente não há movimento ali na lanchonete, tem apenas um casal tomando um sorvete em uma distância considerável da gente.

— Desde que se mudou para casa da Lívia não te vi, queria saber como você e o Romeu estão! — Apontou para a mesa atrás de nós, indicando para nos sentar e o acompanhei me acomodando na cadeira a sua frente.

— Ele está enorme — sorri lembrando do meu gatinho, que ficou dormindo no sofá quando saímos para trabalhar. — Só come e dorme aquele folgado.

— Isso é bom — ele sorriu e senti meu coração errar uma batida, como um homem poderia ter um sorriso tão lindo? — Significa que está sendo bem cuidado... convidei a Lívia para correr hoje à noite, depois do serviço, que tal vir com a gente?

Seu olhar cheio de expectativa se encontrou com o meu e eu me vi incapaz de dizer nada além disso:

— Claro!